Home / Opinião

OPINIÃO

Palavras que somem

Ao se falar é comum uma palavra que explicite o pensamento exato faça rota de fuga, evaporando como o vento, enquanto outra enxovalhada, com significado semelhante apareça como tampão, ocupando-lhe o lugar. Quando se fala pode-se ter dificuldade em encontrar o termo certo, em especial em momentos de estresse como provas orais, dar aulas durante o próprio curso, fazer uma palestra ou ser convidado a falar num debate de forma improvisada. Muitos não conseguem se expressar em público.

Quem escreve vê essa situação se repetir com frequência. Ao escrever é preciso que os dedos, no caso da digitação ou a mão, no caso da caneta, estejam conectados e simultâneos com o pensamento, para que o que foi pensado chegue próximo ao que sai na tela ou no papel. Nem sempre se captura a palavra correta. Há palavras mal sedimentadas que adquirem o vício de escapulir mais de uma vez. Quando for possível, deve-se usar o dicionário em busca de similares.

Descrições físicas se aproximam mais facilmente da realidade, seja no caso de objetos, edificações, paisagens ou pessoas. As questões psicológicas são mais complexas e fugidias, e é preciso ter habilidade e um laço ou pelo menos um puçá para capturá-las. Nem sempre as expressões retornam ou então, surgem quando não são mais necessárias. Assim como as ideias para a escrita, recomenda-se escrever palavras raras a parte, para que, quando forem solicitadas estejam engavetadas em papel ou na forma digital.

Mesmo quem tenha um rico vocabulário, com contato com mais de uma área de conhecimento se depara com vocábulos fujões. Leituras frequentes, falar com pessoas de várias profissões, classes sociais, econômicas e locais de origem poderão ampliar o conhecimento da língua. Na dúvida do significado nunca é demais verificar no dicionário, ainda que algumas palavras novas não fiquem na memória, e desapareçam assim como chegaram.

As leituras devem abranger épocas diferentes porque as palavras costumam ser sepultadas sem aviso, assim como nascem a toda hora, muitas vezes através de neologismos absurdos. O dinamismo da língua é tamanho que surgem dialetos em diversas tribos dentro de uma mesma cidade, ou numa mesma família. Também se devem considerar as diferenças de idade, porque as gerações se isolam com suas linguagens e gírias particulares. Estas últimas entram e saem velozmente, e seus significados se perdem.

Se por um lado há os puristas que proíbem as variações regionais e chegam a ordenar a maneira de se pronunciar uma palavra, coisa impossível de se impor, outros chegam com um objetivo oposto, querendo liberar qualquer forma de falar, o chamado “falar errado”.

Como as palavras têm asas mais hábeis que a imaginação, deseja-se que sejam usadas com cuidado e educação e nunca com imposição. Os erros crassos costumam chocar, ainda que uns poucos intelectuais insuspeitos possam também cometê-los em algum momento.

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias