Atletas do trânsito
Redação DM
Publicado em 8 de dezembro de 2015 às 21:42 | Atualizado há 10 anosFica cada vez mais evidente o grande esforço e por que não dizer, os malabarismos que os pedestres precisam realizar para cruzar as vias, avenidas e demais ruas da cidade, mal sinalizadas, com faixas de segurança praticamente invisíveis, além do reduzido tempo dos semáforos que priorizam apenas os motoristas em suas máquinas mortíferas, cada vez mais potentes, obrigando os transeuntes a correr mais que Usain Bolt, disparando pelas faixas e cruzamentos para salvar suas vidas. Além disso, as calçadas e vias de acesso tomadas por barracas e improvisadas bancas de vendedores ambulantes em praticamente todos os lugares, dificultando o acesso de pedestres e pessoas com necessidades especiais, tornam cada vez mais difícil a locomoção segura, nos transformando em atletas do trânsito, peritos em saltos à distância ou com varas, nos obrigando a voar por cima dos buracos, sacos de lixos, entulhos, material de construção e tralhas que ocupam os passeios públicos. Em outras situações, como recordistas dos 100 metros rasos, somos forçados a “cruzar” as faixas de segurança em milésimos de segundos, desbancando Carl Lewis, Asafa Powell, Tyson Gay, e outros tão expressivos medalhistas que já ocuparam o pódio dessa modalidade. Outras vezes, enfrentamos as turvas ondas de poluição gasosa e sonora, tendo que usar as mãos e os braços como autênticos remos e tampão de ouvidos, agitados ao ar até à exaustão para fugir dessa contaminação interminável. Na hora do rush (Deus nos acuda!) contemplamos atônitos uma verdadeira guerra campal entre as máquinas e os homens digladiando-se como feras ensandecidas, defendendo seu espaço com selvageria inigualável. Urrando pelas ruas e avenidas das cidades, cada qual tentando ocupar seu espaço nas vias públicas, as máquinas humanas e mecânicas estão em constante guerra. Infelizmente, nessa permanente batalha, os cavalos de aço, potentes e velozes, como sempre, acabam levando a melhor, arrastando seus oponentes para baixo de suas mortíferas ferragens, destruindo vidas e sonhos. Os números de acidentes no trânsito são alarmantes e tendem a crescer a cada ano, já que nada eficiente é feito e nenhuma política para a redução dos mesmos ou educação no trânsito tem surtido efeito algum. O problema do trânsito não está na elaboração de leis draconianas, com punições severas ou na obrigatoriedade de soprar ou não nos bafômetros, suspendendo ou cancelando a CNH dos infratores – o que é necessário em muitos casos com violações gravíssimas –, na verdade, o que falta é educação familiar, social e ambiental, já que os brasileiros, apesar de parecer simpáticos e corteses com os estrangeiros que por aqui aportam, são na verdade, em sua maioria, grosseiros e mal-educados por natureza, desrespeitosos em todos os ambientes, hostis no trânsito e deselegantes com seus semelhantes por qualquer motivo. Sem uma educação pluridimensional que englobe todos os aspectos da vida, continuaremos a ser uma nação de trogloditas e retrógrados, infratores da lei, indiferentes às necessidades e turnos do próximo – já que ao pequeno sinal de defeito ou inoperância dos semáforos prevalece a lei dos mais espertos. Infelizmente os índices de acidentes e mortes no trânsito no Brasil são crescentes e alarmantes, pois, desde a chegada dos primeiros veículos automotores por aqui em 1920, nossos contemporâneos não sabem se comportar com ordem e decência, contribuindo para que o tão sonhado progresso de fato aconteça, erradicando a cegueira e pobreza educacional tão prestigiada e salientada em países que velam pelo bem-estar e segurança de seus cidadãos – os estimulando a ser atletas em parques, academias, ginásios, estádios, etc. –, jamais em vias públicas, fugindo do caos e da ferocidade de motoristas imprudentes, violentos e estressados, que nos obrigam a alcançar um preparo físico de esportistas olímpicos, prontos para vencer os desafios que nos são impostos, evitando ser atropelados ou mortos. Bonne chance à tous!
(Cezar Frugoni, jornalista, teólogo, escritor, articulista e editor-chefe da Revista MVN NEWS)