Educação, ciência e desenvolvimento
Redação DM
Publicado em 12 de junho de 2016 às 02:00 | Atualizado há 9 anos
A presença dos avanços científicos e das novas tecnologias em nosso cotidiano é cada vez mais constante e tem desencadeado numerosas e profundas mudanças tanto em nível ambiental, nos modos de vidas, quanto nas relações entre os seres do planeta. É notório que tais transformações engendram novos desafios para os quais a maioria da população não está preparada.
A concepção racionalista de ciência e de tecnologia conferiu ao ser humano a tarefa de dominar e explorar a natureza, alimentando seu vil impulso pela industrialização e pelo progresso alcançado à custa de milhares de vidas. O desenvolvimento que a princípio derrubou grandes obstáculos de tempo e espaço, hoje deixa entrever sua face mais perversa que seria a da criação de um imenso potencial destrutivo e excludente.
A exploração desenfreada da natureza e dos avanços científicos e tecnológicos não beneficiou a todos. Ao contrário, promoveu a ampliação e o domínio de poucos e a marginalização de muitos que permanecem alijados na miséria material e cognitiva. Se no plano do discurso os avanços tecnológicos proclamam a melhoria das condições de vida da população, na prática, o cotidiano revela o aviltamento dos modos de ser e de viver, sobretudo das populações desfavorecidas economicamente.
Em face das constantes inovações tecnológicas e considerando a necessidade de aumentar os índices de escolarização e investir em sua qualidade, não é possível coadunar com a privação de uma parcela significativa dos escolarizados, tanto dos conhecimentos mais atuais sobre ciência e tecnologia quanto das políticas que regulamentam esse setor.
Ao compreender mais e melhor as influências e as possibilidades da Educação Científica e Tecnológica para a formação plena e o cultivo da cidadania, fica claro que esse conhecimento dialoga diretamente com as necessidades cotidianas da população. Tal constatação requer uma abordagem desses saberes a partir de um diálogo que articule dialeticamente estudo das relações sociais em curso e os processos da ciência aplicada e da tecnologia nas dimensões coletivas e individuais.
O desenvolvimento de uma proposta de Educação Científica e Tecnológica requer muito mais que a aquisição de equipamentos de informática e a implantação de laboratórios de Ciências Naturais. Ela nasce de um exaustivo trabalho de mentes, de corpos e de sentimentos comprometidos com a construção de concepções orientadoras, com o desenvolvimento de Projetos Político Pedagógicos, com a formação continuada de professores e com o trabalho de elaboração de ferramentas voltadas para facilitar a aquisição de conhecimentos de forma crítica.
Depende ainda, da construção de um trabalho interdisciplinar e colaborativo, em que haja espaço e tempo para formulações visando a compreensão mais ampla dos temas abordados. Em que as ações estejam alicerçadas nas dimensões problematizadoras, dialógicas e colaborativas dos processos educativos e das trocas de saber, contribuindo para redirecionar o eixo prevalente da veiculação/transmissão da informação para o eixo da construção de um conhecimento comprometido com a justiça e a paz. Uma formação verdadeiramente comprometida com a ampliação das condições para o exercício da cidadania, possibilitando, assim, enfrentar os desafios impostos cotidianamente, seja no campo das ciências ou da tecnologia, ou nas diversas dimensões da vida.
(Márcia Carvalho, pedagoga, psicopedagoga, mestra em Sociedade, Políticas Públicas e Meio Ambiente, diretora secretária da Fundação Ulysses Guimarães-GO)