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Lula defende conversa com centrão, promete não interferir na Câmara e Senado

Presidente eleito afirma que, a partir de janeiro, vai governar o país em ambiente de paz e com diálogo com os poderes, “sem vingança, raiva ou ódio”

Lula da Silva em Brasília: diálogo com forças políticas e instituições Lula da Silva em Brasília: diálogo com forças políticas e instituições

Em agenda em Brasília após a vitória eleitoral em 30 de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta quinta-feira (10), diálogo com o centrão e prometeu não interferir nos processos de escolha dos novos presidentes do Congresso Nacional —num aceno ao deputado Arthur Lira (PP), atual chefe da Câmara.

Em outra frente, Lula se reuniu com os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e pregou a harmonia entre os Poderes, numa contraposição ao conflito institucional constantemente estimulado pelo atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).

"Eu não enxergo dentro da Câmara e do Senado essa coisa do centrão. Eu enxergo deputados que foram eleitos e que, portanto, vamos ter que conversar com eles para garantir as coisas que serão necessárias para melhorar a vida do povo brasileiro", disse Lula, após se reunir com o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Alexandre de Moraes.

Em outro gesto a partidos hoje distantes do PT, Lula disse que "não há tempo para vingança", para "raiva" ou para "ódio". "O tempo é de governar." "O centrão é uma composição de vários partidos políticos que o PT tem que aprender a conversar, que o [Geraldo] Alckmin [vice eleito] tem que aprender a conversar e que eu tenho que aprender a conversar e tentar convencer da nossa proposta", disse.

O centrão é um grupo de partidos políticos que hoje controla o Legislativo e que tem em Lira uma de suas principais lideranças.

Não por acaso, a primeira reunião do dia de Lula foi com Lira, na residência oficial da Câmara. O encontro durou cerca de duas horas e cumpriu mais uma etapa da articulação que pode unir em um mesmo lado o petista e o líder do centrão.

De acordo com pessoas que acompanharam a conversa, Lula disse a Lira o que viria a anunciar publicamente horas depois: que não pretende interferir na eleição para o comando da Casa. Caso isso se confirme, fica praticamente selada a reeleição de Lira em fevereiro, já que se torna bastante improvável que surja um concorrente competitivo sem o apoio do presidente eleito.

Em troca, dizem aliados do petista, Lira trabalhará em um primeiro momento em prol da aprovação da PEC da Transição, medida essencial para que Lula acomode no orçamento verbas para cumprir em 2023 algumas de suas principais promessas de campanha.

Em um segundo momento, afirmam esses parlamentares, a ideia é que haja uma aliança formal entre Lira e Lula, o que daria ao presidente eleito parte do centrão e uma base muito mais sólida na Câmara do que se contasse apenas com a esquerda e com partidos de centro e de direita hoje independentes, como PSD e MDB.

Lira não deu entrevista após a reunião. O presidente da Câmara, porém, postou em suas redes sociais três fotos em que aparece sorridente ao lado de Lula.

De acordo com petistas, o presidente da Câmara se mostrou bastante receptivo à ideia de manter um entendimento com o PT, em troca do apoio ou da não interferência em sua campanha à reeleição —apesar do histórico de divergências durante a campanha.

Logo em seguida, Lula e sua comitiva se deslocaram alguns metros no Lago Sul de Brasília e se reuniram em almoço com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O senador mineiro é simpático a Lula e também é favorito para se reeleger para a presidência da Casa Legislativa em fevereiro, com o apoio do futuro governo.

Senadores que estavam no almoço relataram que os participantes deram início a uma contagem informal do tamanho da base de apoio à Lula no Senado. Uma parte do grupo concluiu que o número pode chegar a 51 senadores —ante os 81 totais.

Após a reunião, Pacheco disse nas redes sociais que tratou sobre temas de interesse do governo de transição. "Reafirmei ao presidente Lula que o Congresso irá trabalhar, de forma responsável e célere, para assegurar os recursos que garantam, em 2023, os R$ 600 do Auxílio Brasil, o reajuste do salário mínimo, e os programas sociais necessários para a população mais carente do país", escreveu o senador.

Presidente eleito diz que Alckmin não será ministro

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, 10, que o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) não será ministro do novo governo, como já chegou a ser especulado. “Coloquei o Alckmin na coordenação (da transição) para ninguém pensar que coordenador será ministro”, declarou o petista, durante um encontro com parlamentares aliados no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede do governo de transição.

Lula disse que os integrantes da transição podem ser ministros ou não. A equipe, de acordo com ele, “não decide nada”, apenas faz levantamentos sobre a situação do País para criar as bases do novo governo.

O petista disse para os parlamentares que não estão nas comissões da transição que não se sintam “excluídos” e pediu a colaboração de todos que se dispuserem a ajudar.

Em uma sinalização a partidos que apoiaram Jair Bolsonaro (PL) na eleição, Lula afirmou ainda que o fato de perder a disputa eleitoral não faz ninguém “menor” que quem ganhou. O petista disse que os “perdedores” terão direito de “escrever a história” e participar da transição. “Quem perdeu a eleição provavelmente não foi compreendido”, declarou o presidente eleito. No segundo turno da eleição, Lula recebeu o apoio de candidatos derrotados, como a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que fez campanha para o petista contra Bolsonaro. Agora eleito, Lula tenta fechar acordos para atrair mais partidos para sua base antes mesmo de assumir o Palácio.

”Depois de tudo que aconteceu comigo, me sinto como se tivesse ressuscitado”, disse Lula, que chegou a ser preso no âmbito da Operação Lava Jato, mas teve as condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na conversa com os parlamentares, Lula também disse que este é um momento de “grandeza política do povo mais humilde”. “Quem já nasce no asfalto não tem noção do que é fazer política para o povo pobre”, emendou.

Pressa na conclusão da PEC da Transição

O senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator-geral do orçamento de 2023, disse nesta quinta-feira, 10, que há chances de ser fechado de imediato o texto da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição, que prevê furar o teto de gastos para o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 no ano que vem.

Ao chegar no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde está a equipe de transição do governo Lula, Castro afirmou que a bancada do MDB terá reunião o presidente eleito para tratar do assunto, além do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), que tem tratado do tema do orçamento. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao encontro, mas entrou sem falar com a imprensa.

“Nossa expectativa é de que a PEC já possa estar pronta”, disse o senador Marcelo Castro, ao afirmar que a PEC é o caminho mais seguro para garantir os pagamentos no próximo ano e que os repasses devem ser retirados da regra que limita o crescimento das despesas à inflação. A discussão gira em torno de retirar de forma permanente do teto todo o orçamento do Auxílio Brasil, que o governo Lula já voltou a tratar como Bolsa Família. Para 2023, isso significaria R$ 175 bilhões fora da âncora fiscal. O mercado reagiu mal à opção da equipe de Lula de retirar de forma permanente os gastos sociais do teto, sem discutir uma nova regra fiscal.

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