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Dilma não se acanha

Mesmo com crise entre governo e manifestantes, presidente Dilma Rousseff confirma agenda em Goiás e não se intimida com manifestações de rua

Hélmiton Prateado Da editoria de Política&Justiça

A vinda da presidente Dilma Rousseff a Goiânia, amanhã, é aguardada com expectativa em virtude das manifestações de domingo terem reunido cerca de 60 mil pessoas (segundo cálculos da PM) que pregaram até a deposição dela. A disposição dela em confirmar a agenda pode ser vista como uma demonstração de coragem e de disposição para enfrentar desafios.
O histórico de Dilma, como mulher guerreira, a credencia para enfrentar essas batalhas anunciadas pelas manifestações contrárias a seu governo. Poucos políticos podem apresentar um currículo de luta contra a ditadura sem se entregar ou aderir, nem fugir do enfrentamento. Sua biografia é de quem lutou durante toda a vida e atingiu o posto máximo de uma carreira política, sendo o único que disputou.
Nascida em 1947, no seio de uma família classe média alta em Belo Horizonte, Dilma teve uma infância e adolescência abastada, estudou nos melhores colégios da capital mineira e tinha todos os indicativos de que dificilmente enveredaria para a luta política, principalmente de esquerda. Seu pai, Pedro Rousseff, era um imigrante búlgaro que fez riqueza com obras públicas. A mãe era uma aristocrata fluminense chamada Dilma Jane. A filha, Dilma Vana Rousseff, também chamada Dilminha se casou aos 20 anos com Cláudio Galeno e um ano depois entrou para a luta política, em plena ditadura militar.
De 1967 a 1972, Dilma usou codinomes variados como Stela, Wanda, Luísa, Marina e Maria Lúcia e militou em organizações de esquerda variadas como Comando de Libertação Nacional (Colina) e Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Sua capacidade de liderança fez dela comandante nessas organizações e respeitada pelos quadros da esquerda, que lutava contra os militares. Planejou roubos de cofres-fortes, como o lendário episódio do cofre de Ademar de Barros, transportou armas e aprendeu atirar.
Em 1972, foi presa e sofreu as agruras da tortura. Não entregou nenhum dos companheiros de luta, o que aumentou a admiração que já nutriam por ela. Granou 22 dias de tortura e indicou nominalmente depois seus algozes. Cumpriu sua pena, teve sua filha e mudou-se para Porto Alegre para ficar perto dos sogros. Formou-se em Economia e filiou-se ao PDT, de Leonel Brizola.
Com a redemocratização do Brasil, em 1982, Dilma e o marido Carlos Araújo voltaram a militar politicamente e a influir de forma decisiva, novamente. Dilma foi secretária do governo Alceu Colares e, em seguida, auxiliou o governador Olívio Dutra, que a aproximou do Partido dos Trabalhadores.
Em 2003, foi convidada pelo recém-empossado presidente Lula para o Ministério das Minas e Energia, cargo que ocupou até a eclosão do escândalo do mensalão, que derrubou o ministro Antônio Palocci. Para o seu lugar na Chefia do Gabinete Civil, Lula convidou Dilma Rousseff, já com fama de gerentona e de tocadora de trabalho que não deixa beiradas para contestações.
Dilma foi a operadora do trator que fez Lula ser reeleito em 2006 e atravessou mais quatro anos de prosperidade até desaguar, em 2010, como a candidata dele para a sucessão. A “Mãe do PAC”, como Dilma passou a ser chamada, foi ungida nas urnas e reeleita em 2014.
Quem deixou o conforto de um lar com riqueza e embrenhou na luta armada contra a ditadura militar, enfrentou com altivez a prisão, não se quedou diante do pau-de-arara, dos choques, da palmatória, dos socos e das ameaças de morte vê com naturalidade uma manifestação das ruas que pede sua deposição. Exercitando um lapso de humildade, que assume ser necessário retomar o diálogo, ela não foge do rugir das ruas e não se intimida de colocar a cara pra fora do Palácio do Planalto para fazer o que foi eleita: governar, ainda que em meio a uma crise.

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