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POLÍTICA

Ex-seminarista, fundador do PT quer refundar o PL ‘abençoado’ por Kassab

  • Cleovan Siqueira é ex-deputado estadual por Goiás
  • Ele tira o sono de Eduardo Cunha e de Renan Calheiros
  • Ex-vereador espera obter o seu registro até setembro
  • Dirigente ofereceu legenda para voo de Marconi em 2018


Renato Dias Da editoria de Política&Justiça

Ele trocou o seminário para não ter que submeter-se até o fim da vida ao dogma do celibato. Apesar disso, professou a Teologia da Libertação, ideário que misturava cristianismo com as ideias do velho barbudo Karl Marx. Daí para fundar o Partido dos Trabalhadores, legenda que nasceu em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, São Paulo, foi um pulo. Para registrar a legenda, o homem percorreu o antigo Bico do Papagaio, outrora Estado de Goiás, hoje Tocantins. Lá o latifúndio dos coronéis não poupava de morte nem padres engajados, como o mulato Josimo Tavares. Trinta e cinco anos depois, quer refundar o Partido Liberal, o velho PL. Acertou quem pensou em Cleovan Siqueira, ex-vereador de Caldas Novas e ex-deputado estadual em Goiás.

Circulando mais em Brasília, Capital da República, do que em Goiás nos últimos dias, ele protocolou, no Tribunal Superior Eleitoral [TSE], o pedido de fundação da sigla. O presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros [PMDB-AL], e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha [PMDB-RJ], entraram em pânico e aprovaram uma lei, a toque de caixa, para atrapalhar tanto os projetos da Rede Sustentabilidade quanto o dos liberais. É que eles temem a perda de espaços políticos  e de poder do PMDB. Não custa lembrar: o Palácio do Planalto possui interesse em viabilizar a táticas e estratégias do ministro das Cidades, Gilberto Kassab [SP], verdadeiro mandachuvas do PSD e patrocinador não-oficial de Cleovan Siqueira e do PL.

Radiografia

Dono de um bigode mais parecido com o de Charles Bronson, fala mansa, o líder liberal nasceu em São Miguel do Araguaia, Goiás, 62 anos atrás. Teólogo e formado em Direito, é funcionário público do governo do Estado de Goiás. Ex-dirigente do Centro dos Professores de Goiás, o CPG, atual Sintego, ele deu dor de cabeça tanto a Ary Ribeiro Valadão – o governador biônico que criou a "Cesta da Solidariedade" e manteve como presidente da Metago o ex-diretor regional da Polícia Federal e ex-superintendente do Dops [GO], Marcus Antônio de Brito Fleury, acusado pela Comissão Nacional da Verdade de ter participado das mortes e desaparecimentos de Marcos Antônio Dias Batista, Maria Augusta Thomaz e Marcio Beck Machado, durante a ditadura civil e militar – quanto a Iris Rezende Machado, vitorioso em 1982.

Após desiludir-se com a narrativa anticapitalista do PT, ele participou da campanha por eleições diretas para a Presidência da República, em 1983 e 1984, elege-se vereador em Caldas Novas, cidade caliente famosa na América Latina e no Brasil por suas águas hidrotermais. E na sequência conquista um mandato único de deputado estadual. Nas eleições presidenciais de 1989, cujo segundo turno foi disputado por Fernando Collor de Mello, então 'caçador de marajás', à época no PRN, hoje envolvido no escândalo da Operação Lava Jato, e Luiz Inácio Lula da Silva, que conquistou a cadeira número um do Palácio da Alvorada na quarta tentativa e acabou reelegendo-se em 2006, mesmo com a crise do Mensalão, ocorrida em 2005, Cleovan Siqueira abençoou o projeto de poder de Guilherme Afif Dominos, hoje com Dilma Rousseff.

Liberalismo

Sem mandato parlamentar, o dirigente assumiu a presidência do Partido Liberal e passou a pregar a redução do tamanho do Estado, 10% do Produto Interno Bruto [PIB, soma de todas as riquezas produzidas pelo País] para a Educação e até eleições diretas para juízes. O PL sempre elegia representantes à Assembleia Legislativa em Goiás. Um deles era Jardel Sebba, que depois presidiu o Palácio Alfredo Nasser, foi governador do Estado interino e hoje é prefeito de Catalão. Com a fusão entre o PL e o Prona, de Enéas Carneiro, o cardiologista de corte ultranacionalista e uma barba indefectível, ele permaneceu um tempo no PR. É o Partido da República, sigla nascida da união entre os dois partidos. Em Goiás, Sandro Mabel ocupou a presidência do Estadual. Ele exercia o mandato na Câmara dos Deputados.

Durante a campanha de Guilherme Afif Domingues, ele e sua cara-metade, a inseparável das lutas desde os tempos do CPG e do PT, Rosa Siqueira, conheceram um jovem liberal chamado Gilberto Kassab. O tempo passou. Os dois se distanciaram. Vinte anos após aquela jornada, se reencontraram. Kassab como prefeito de São Paulo, a maior cidade do Brasil. Cleovan Siqueira com a sua caminhada solitária de pregação do liberalismo e pela refundação do PL. Com a eleição de Dilma Rousseff, o ex-aliado de José Serra [SP], economista tucano e senador da República que derrotou ano passado Eduardo Suplicy [PT-SP], cresceu os olhos e viu a possibilidade de fundar o novo partido, atrair deputados federais, senadores e governadores de Estado para a base de Dilma Rousseff, sonhar com uma fusão e se preparar para 2018.

Assinaturas

Aliados do PSD do Oiapoque ao Chuí ajudaram a recolher as 490 mil assinaturas que a legislação eleitoral determina para conceder o registro de fundação. O ministro das Cidades fez mais ainda. Ele levou Cleovan Siqueira à sessão de beija-mão da atual presidente da República, Dilma Vana Rousseff Linhares, uma ex-guerrilheira da Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares [VAR-Palmares], organização de esquerda que adotou a estratégia de luta armada contra civis e militares que depuseram o presidente nacional-estatista de linhagem trabalhista, João Belchior Goulart, na noite de 31 de março de 1964. O PL nascerá na base do Governo Federal e ofereceu a legenda para Marconi Perillo, governador tucano do Estado de Goiás, a mudar-se para o outro lado e almejar um vôo nacional quando 2018 vier.

Marconi Perillo, inquilino da Casa Verde pela quarta vez [1999-2002; 2003-2006; 2011-2014; 2014-2018] acalenta o sonho de disputar a eleição presidencial. O trânsito do PSDB estaria congestionado. Aécio Neves [MG] saiu anabolizado das urnas eletrônicas de 2014 e encerra o seu mandato de senador em 2018. Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, que perdeu o filho dias atrás em uma tragédia, termina o mandato também em 2018. José Serra, que perdeu as eleições ao Palácio do Planalto para Lula, em 2002, e para Dilma Rouseff, em 2010, não aposentou-se. Restaria a ele, uma carreira solo. É o que lhe oferece o PL.

Combate

Cleovan Siqueira enfrenta as mesmas agruras de Marina Silva, a mensageira do ecossocialismo derrotada nas eleições presidenciais de 2010 e de 2014. Trocando em miúdos: não é nada fácil obter 490 mil assinaturas e confirma-las na Justiça Eleitoral. A missão do apóstolo liberal já leva quase uma década. Quando bate o cansaço e o desânimo, Cleovan Siqueira recorre ao ar bucólico de sua propriedade rural em Vila Propício, onde Rosa Siqueira, sua companheira, chegou a exercer o mandato de vice-prefeita da cidade.

- Para recarregar as energias

Perfil

Nome: Cleovan Siqueira
Idade: 62 anos
Natural de: São Miguel do Araguaia
Cargo: Presidente nacional do PL
História: é ex-vereador de Caldas Novas, ex-deputado estadual, ex-presidente do PL e ex-dirigente do PR
Curiosidade: Ex-seminarista, adepto da Teologia da Libertação, é fundador do PT
Projeto: é da base de Dilma Rousseff, atual presidente da República e aliado de Gilberto Kassab, ministro das Cidades
Ideologia: Linhagem liberal

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