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POLÍTICA

As propostas de Marconi

  •  E falou sobre as mudanças urgentes que devem ser adotadas,para que o País volte a ter boas perspectivas de futuro
  •  Ele discorreu sobre o que espera do governo Temer, em particular da equipe econômica liderada por Henrique Meirelles, e falou sobre a situação fiscal de Goiás, um dos primeiros Estados a superar a crise econômica. Abaixo, a entrevista na íntegra


Como o senhor avaliou o transcorrer do impeachment?

Marconi Perillo - Do ponto de vista constitucional e legal, em minha opinião esse processo ocorreu dentro da normalidade. Foi algo natural. Traumático, mas previsto na Constituição. O fato é que se nós vivêssemos em um país parlamentarista essa crise teria sido resolvida há dois anos. O regime parlamentarista, quando há uma crise muito séria envolvendo o Poder Executivo e o parlamento, ou o parlamento se dissolve e se convoca novas eleições, ou cai o governo. Essas soluções geralmente são rápidas. Às vezes se cria um passe, como ocorre hoje na Espanha, mas geralmente essas crises são resolvidas muito rapidamente no regime parlamentarista. É um remedido muito mais eficaz e muito menos traumático. A diferença é que vivemos em um regime presidencialista e há todo esse ritual. Ninguém duvida que o país viveu a mais séria crise econômica, política e ética de todos os tempos. Um governo sem credibilidade junto à população. A sociedade em uma queda de braço fortíssima que paralisou o país entre o Congresso e o Poder Executivo, além da Operação Lava Jato, e de toda a crise de credibilidade, não só do Poder Executivo, mas também de outras instituições. Então, em minha opinião, esse remédio é um remédio que tem que existir, e acho que os procedimentos deveriam ser inclusive mais fáceis, para que outras crises futuras possam ser resolvidas mais rapidamente, sem que haja esse trauma e paralisia que aconteceram no Brasil. A única diferença entre essa situação é que aqui nós não somos parlamentaristas. Se nós vivêssemos em um país parlamentarista ninguém estaria falando em golpe. Até porque não houve golpe. As sessões foram presididas pelo presidente da suprema corte do país. Acho que todo o procedimento foi normal, previsto na Constituição.

Do ponto de vista da economia há toda uma expectativa de todo o Brasil de que o presidente Temer faça uma transição que nos leve a um porto seguro do ponto de vista do crescimento econômico, da geração de empregos. Ninguém suporta mais essa situação dramática de 12 milhões de desempregados. O PIB já no segundo ano com crescimento negativo, quase de 4%. Uma queda muito grande no PIB industrial. O que todo mundo quer hoje é que o governo Temer e o Henrique Meirelles, que é o chefe da equipe econômica, possam conseguir aprovar as medidas de teto de gastos; medidas que possam sanear e reoxigenar a economia. Particularmente, defendo que medidas duras, desgastantes, traumáticas sejam adotadas para que o país volte a viver um novo ciclo virtuoso daqui para frente. Temos que fazer reformas estruturantes. Essas reformas estão há 14 anos, durante todos os governos do PT. Elas não foram para o Congresso, embora todos soubessem que havia necessidades. Nós deslizamos no boom das commodities, perdemos uma grande oportunidade de fazer reformas. O Brasil não fez as reformas e agora precisa fazer. É faz ou não faz. Ou vira a Grécia ou o Brasil volta a ser um país emergente, pujante, com boas perspectivas de futuro. Reformas da previdência, trabalhista, tributária, política. Essas reformas precisam ser feitas. Eu defendo uma reforma política onde acabemos com a coligação proporcional. Em minha opinião o sistema político é a raiz da corrupção. E também estabelece cláusula de barreira. Essa é uma medida fundamental se nós quisermos reorientar a política no Brasil.

Qual seria a quantidade ideal de partidos?

Marconi Perillo - Os que sobrevivessem. Você proíbe coligação proporcional, vão sobreviver os que conseguirem eleger parlamentares. Aí sem coligação os partidos vão ter que trabalhar para serem cada vez mais robustos. Penso que o ideal seria termos cinco ou seis partidos no país. Já é muito. Eu defendo a liberdade de organização, de expressão, a liberdade partidária. Mas é preciso ter regras. No mundo inteiro existem regras, só aqui que não. Defendo as reformas e o teto de gastos. Essa PEC do governo que está no Congresso tem meu apoio total, porque senão daqui a pouco os estados todos vão falir. Alguns já estão em uma situação de pré-colapso. Temos conseguido em Goiás equilibrar a equação receitas, despesas, vinculações constitucionais, mas não é fácil. As pressões são muito grandes pelo aumento das despesas correntes. Essa PEC tem meu apoio total e acho que o governo tem que ter agora a firmeza necessária para enviar ao Congresso todas as medidas que serão fundamentais para a retomada do desenvolvimento, e trabalhar para que o Congresso aprove essas medidas, senão nós não vamos conseguir sair do atoleiro.

Só voltando ao impeachment. O desfecho que separou a punição da perda do mandato, como o senhor avaliou esse desfecho que vai acabar até no Supremo?

Marconi Perillo - Em momento algum “fulanizei” essa história do impeachment. Gosto de discutir essa questão do impeachment enquanto tese. O que se decidiu no Congresso Nacional em termos de impeachment foi a ruptura de um processo que estava contaminando a economia, paralisando o país por conta do impasse político entre o Congresso Nacional e o Poder Executivo. Não vou discutir se a presidente Dilma estava certa ou errada, mas o fato é que havia essa paralisia, e a ruptura dessa paralisia acontece com o impeachment. Agora, eu acho que qualquer que seja o procedimento dentro desse roteiro é preciso ser feito à luz da Constituição. A Constituição deve prevalecer sobre quaisquer interesses. Como esse assunto vai ser judicializado e irá ao Supremo Tribunal Federal, irá por certo ao local adequado que é a casa que avalia todos os aspectos constitucionais. Então o STF dará a palavra final. O que não pode é restar qualquer dúvida em relação ao cumprimento ou descumprimento da Constituição, e muito menos que possa ter havido acordo que amanhã possa salvar algum parlamentar ou político de eventuais sansões futuras.

Mas a princípio o senhor acha que a Constituição não foi respeitada, é isso? Na medida em que o artigo prevê automaticamente a perda por 8 anos.

Marconi Perillo - O que percebemos, especialmente para quem entende um pouco mais da Constituição, é que a Constituição não foi respeitada nesse processo.

O senhor falou da importância das reformas. Reforma da previdência, por exemplo, tem que ter uma idade mínima. Esse parece ser o caminho mais razoável, o senhor acha?

Marconi Perillo - Com certeza. Hoje a média de idade do brasileiro é muito maior do que há 20, 30 anos. Os brasileiros são muito mais longevos. Nós já estamos quase chegando a uma média de 80 anos de idade média de vida dos brasileiros. Se não forem feitas as reformas, mudanças no regime da previdência o Brasil vai falir. As pessoas vão viver mais. Alguns vão trabalhar e descontar em seus salários para poder segurar as despesas. Os recursos já não são suficientes. O déficit anual com previdência é enorme, e aí simplesmente ou o país quebra ou os aposentados param de receber. O pior é o governo não ter dinheiro para pagar os aposentados. Imagina uma pessoa que trabalhou a vida inteira não ter dinheiro para comprar remédio. E esse é um drama de uma pessoa com a idade mais avançada. Ou para comprar alimento, ou usar esse recurso com transporte. Em minha opinião nós não temos escolha. Ou aumentamos a idade mínima, e essa idade tem que ser definida através de um estudo técnico, mas tem que haver mudança, e essa mudança tem que adequar o sistema previdenciário à realidade financeira do país.

Governador, me parece que do ponto de vista econômico é consenso que as reformas são necessárias. A dificuldade é explicar isso para a população porque a ideia que se vende é que são medidas impopulares. Nesse contexto, como em sua opinião deve ser o papel do PSDB nessas reformas? Como o partido deve se posicionar para, ao mesmo tempo, fazer o que é correto do ponto de vista econômico, mas não ficar com o ônus do partido que liderou as tais reformas impopulares?

Marconi Perillo - Acho que PSDB deve agir de maneira republicana. Tem que ser honesto nas suas posições, convicções. Fazer no Congresso o que as nossas consciências pedem. E, ao mesmo tempo, em hipótese alguma aceitar o papel de ser coadjuvante dos demagogos, que são contra apenas porque querem jogar com a plateia ou obter benefícios eleitorais. O PSDB tem que se diferenciar exatamente nesse ponto. E é o que eu tenho visto por parte de muitos senadores e deputados do PSDB, essa honestidade intelectual. O PSDB tem que praticar cadê vez mais essa honestidade intelectual. Pensar e fazer, pensar e praticar, independentemente do que vier depois. Se vamos ter mais ou menos votos. Nós temos que pensar no país. Infelizmente, boa parte dos políticos brasileiros joga corporativamente ou pensando apenas em seus interesses políticos eleitorais próximos. Eles não pensam no médio e no longo prazo, nas próximas gerações. Isso é o que nós costumamos chamar de populismo, demagogia. O PSDB fará um grande serviço à população não caindo nessa prosopopéia da demagogia. Tenho muita confiança nos líderes do PSDB, e tenho percebido uma posição muito firme por parte do PSDB.

Nós chegamos a um ponto no Brasil em que as coisas devem ser ditas claramente. Se nós não fizermos isso o Brasil quebra, vai falir. Se o Brasil não fizer a reforma da previdência não serão os aposentados de amanhã que vão pagar o pato. Os de hoje vão começar a pagar o pato não recebendo suas aposentadorias. Talvez o mais importante nesse momento seja uma boa política de esclarecimento, de conscientização e de comunicação. Temos que ganhar a batalha da comunicação explicando à sociedade o que de fato está por trás da reforma da previdência. Explicando, por exemplo, que a maior parte dos gastos com previdência é para pagar servidores públicos. Gasta-se uma fortuna para pagar servidores públicos aposentados e metade desse valor é gasto para pagar a grande maioria dos aposentados do Brasil, que são os aposentados do regime geral de Previdência.

As privatizações que o governo Temer sinaliza. Privatizações era um Tema quase proibido na última campanha. O próprio PSDB ficou meio envergonhado de defender, não defender. O senhor acha que agora voltou, é o momento de falar de novo em privatizações?

Marconi Perillo - Tenho convicção disso. Agora, é preciso mirar nos focos certos. Vai deflagrar um procedimento de privatização, é preciso saber se esse processo é adequado, se é necessário, que consequência trará para a população brasileira, para a economia e para os trabalhadores. Do ponto de vista de eficiência, de confiabilidade, de competitividade. E explicar, comunicar. Talvez tenhamos falhado no governo Fernando Henrique na comunicação. Nós perdemos a batalha da comunicação. Todo mundo sabe que foi importante privatizar a telefonia, porque antigamente tínhamos uma telefonia absolutamente obsoleta, ultrapassada. Nossa telefonia podia se comparar a dos piores países do mundo. Todo mundo tem telefone celular hoje porque nós universalizamos a telefonia. Todo mundo tem acesso a transmissão de dados por conta das reformas que foram feitas na área das telecomunicações. Se nós não tivéssemos feito a flexibilização do monopólio de energia hoje teríamos apagões já há muito tempo, porque isso permitiu que a Aneel licitasse linhas de transmissão, subestações, nova geradora de energia. E isso aconteceu em outras áreas. Portanto, acho que agora, mais do que nunca, é importante definir o que será feito e explicar para a população sobre os benefícios que vão ser auferidos com isso. Eu costumo sempre ver nas empresas públicas cabides para indicações políticas. E muitas vezes de pessoas que não têm a eficiência, a transparência, a correção e os bons resultados. Uma empresa que têm uma finalidade de produzir bens e serviços, que se identifica como empresa privada, ela não pode ficar nas mãos do Estado.  O Estado não tem capacidade para liderar, para gerenciar uma grande empresa que produz. Perceba uma coisa, se nós não tivéssemos privatizado a CCN, a Vale do Rio Doce, a Embraer e outras importantes empresas que eram do Governo Federal no passado, elas poderiam todas estar quebradas hoje ou contaminadas, como a Petrobras foi contaminada com as pessoas que hoje são investigadas pela Operação Lava Jato. O Governo tem que ter clareza do que vai fazer. Rodovias, ferrovias, tem que fazer concessão, porque o governo não tem dinheiro para fazer novos investimentos. Aqui no Estado, por exemplo, nós estamos trabalhando para privatizar a Companhia Energética (Celg). Não é só porque ela precisa ser modernizada e ser eficiente para prestar um serviço de qualidade ao usuário, mas é porque é preciso de dinheiro para haver novos investimentos, para construir novas subestações de energia, novas linhas de distribuição, enfim, e o Estado não tem dinheiro para fazer esses investimentos, para melhorar o sistema. Então, é preciso trazer o investidor privado para que ele melhore a empresa e, ao mesmo tempo, aporte recursos para que novos investimentos sejam feitos.

Governador, para falar em falta de recursos, o Governo Temer e o próprio Henrique Meirelles têm dito que a última opção será o aumento de impostos.

Marconi Perillo - Eu só queria voltar um pouquinho. Aqui em Goiás, nós temos uma outra companhia energética, que é a Celg Geração e Transmissão. É uma companhia absolutamente enxuta – nós temos cento e poucos funcionários apenas – e ela já tem R$ 700 milhões de ativos, está participando de todos os leilões para construção de linhas de transmissão, subestações, pequenas centrais hidrelétricas etc. Então, essa é uma empresa que investiu muito, tudo com capital próprio. Eu não vejo necessidade que ela seja vendida, pois a administração é técnica, ela é lucrativa e gera energia. Geração de energia é a galinha dos ovos de ouro. Então, determinadas empresas, que são enxutas e bem administradas, eu não defendo que sejam privatizadas.

Governador, se não houver jeito e o governo federal precisar aumentar impostos, qual será a posição do PSDB?

Marconi Perillo - Eu acho que o PSDB tem que ter maturidade para avaliar toda as necessidades que são fundamentais para o país retomar o desenvolvimento, os empregos e a qualidade de vida e tomar decisões internas, mesmo que desgastantes, mas tomar decisões que possam ajudar. Se lá no fim do túnel não houver outra saída, o PSDB vai ter que avaliar o que é indispensável fazer para que o Brasil seja recolocado nos trilhos.

Governador, como está a situação fiscal de Goiás?

Marconi Perillo  - Olha, é uma situação melhor do que a média brasileira. Nós temos aqui uma boa equipe econômica, uma secretária da Fazenda extremamente competente e dedicada, que tem contado com meu apoio e minha participação permanentemente em todas as medidas que foram necessárias desde que nós percebemos o avizinhamento da crise. Eu fiz a primeira reforma ainda no final de 2014, reduzindo o número de secretarias a dez, apenas (eram 16), enxugando comissionados e tomando várias outras medidas para reduzir gastos e despesas correntes. Ao longo desses quase dois anos desse governo atual, nós tomamos todas as medidas que eram necessárias, medidas muitas vezes desgastantes. Nós prorrogamos aumentos salariais por um ano, não demos data-base, porque nós não teríamos condições de fechar as contas, se não tivéssemos adotado essas medidas. Nós conseguimos melhorar bastante as receitas neste ano, conseguimos segurar fortemente as despesas correntes, nós já temos um superávit primário por conta da execução orçamentária, então a esperança e o trabalho que tem sido feito é que cheguemos ao final do ano com a situação fiscal e orçamentária equilibrada. Agora, ainda temos um problema grave, que é o problema do caixa. Nós temos ainda restos a pagar, problemas a serem resolvidos e estamos trabalhando fortemente com o objetivo de passarmos para o ano 2017 com uma situação de caixa também bem mais confortável.

A renegociação da dívida alterou alguma coisa para Goiás?

Marconi Perillo - Alterou. Para Goiás foi muito importante. O Governo Temer e o ministro Meirelles foram corretíssimos com os governadores. Era necessária essa medida. Muita gente critica, mas o fato é que todos os estados já pagaram pelo menos duas vezes a sua divida externa, porque os juros cobrados pelo Governo Federal, através do Tesouro Nacional, foram muito altos. Mesmo tendo havido a renegociação no Governo Fernando Henrique, alguns contratos ainda ficaram com os juros muito altos. Esse refinanciamento foi muito importante, ele deu um fôlego razoável para vários governos estaduais e Goiás se beneficiou também, embora tenha se beneficiado bem menos que estados mais ricos. Esse alongamento de 20 anos e mais a suspensão do pagamento de juros e, entre aspas, da moratória de juros e serviços nesses dois anos, começando com seis meses neste ano e depois reduzindo paulatinamente esse bônus, eu diria, isso foi importante para nós. E esse refinanciamento tem sido importante para o nosso equilíbrio. Agora, eu lamento que o Congresso não tenha votado as contrapartidas. Eu sempre defendi que nós tivéssemos aprovado as contrapartidas, porque não se trata apenas de resolver o problema de dois ou três anos, nós precisamos pensar no futuro. Eu tenho certeza que nós vamos terminar esse governo com uma situação fiscal equilibrada, apesar das muitas dificuldades e pressões que sofremos. Mas a minha preocupação é que a gente tenha estabilidade fiscal no país daqui para frente.

O senhor e outros governadores tiveram reunião com Meirelles agora no fim de agosto. Vocês debateram algum auxilio emergencial? O que exatamente vocês têm solicitado?

Marconi Perillo - Na verdade, alguns estados reclamam que não foram beneficiados com o refinanciamento das dívidas, especialmente estados do Nordeste e do Norte. Ocorre que se somarmos os estados do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte nós chegaremos a 9% apenas desse benefício concedido com o refinanciamento das dívidas. 91% foram destinados aos estados mais ricos. Ninguém está questionando isso, até porque eles precisam também. Mas esse é um fato concreto. E muitos estados tiveram pouquíssimos benefícios. Em relação à repatriação, já está certo que ela deverá ocorrer no dia 31 de outubro e parte desses recursos serão destinados aos estados através do Fundo de Participação dos Estados. Essa é uma questão que não estamos nem negociando, até porque é um direito nosso. Isso vai ser importante para o nosso caixa. Nós estamos trabalhando com a perspectiva de termos R$ 20 milhões. Se chegarmos a R$ 50 ou R$ 70 milhões teremos um fôlego ainda maior.  Os estados do Nordeste estão pedindo que parte dos R$ 20 bilhões que estão reservados dentro do déficit de R$ 170 bilhões – que são reservados para empréstimos, operações de créditos dos estados –, estão pedindo que parte desses R$ 20 bilhões, ou seja, R$ 7 bilhões sejam utilizados para socorro aos estados dessas regiões. Nós da região Centro-Oeste e outros estados que produzem muitas commodities estamos querendo receber o FEX, que é o Fundo de Exportações. Afinal de contas, nós temos uma perda anual estimada em R$ 30 bilhões. A União nos ressarci com R$ 1,9 bilhão. Ou seja, nós perdemos R$ 28 bilhões do que nós exportamos, pois o que é exportado com a Lei Kandir não gera ICMS. Então, há uma perda enorme por parte dos estados exportadores, que é quem sustenta a balança comercial do país. E mesmo esse R$ 1,9 bilhão não nos é ressarcido. O do ano passado foi pago agora no meio do ano. Nós estamos pleiteando que o FEX desse ano seja pago agora nesse exercício ainda, porque ele será muito importante para muitos estados. Nós temos, por exemplo, o caso de algumas regiões que produzem matérias-prima finitas, por conta do subsolo. O Pará é um exemplo disso. Toda a extração mineral que é exportada não recebe qualquer tipo de contrapartida de receita para o Pará. Só que essa riqueza do Pará é finita, ela vai acabar em breve. O Pará terá colaborado enormemente com o país, com as exportações para o mundo e não terá recebido a contrapartida necessária para poder ter sustentabilidade financeira no futuro.

Governador, para o leitor que não conhece a economia de Goiás, qual o peso do agronegócio aqui?

Marconi Perillo - O agronegócio representa pouco mais de 70% da nossa economia. Se você hoje for estratificar o PIB, nós teremos 60% de serviços, 30% de indústria, cerca de 10% de agricultura e pecuária. Aliás, Goiás é um dos estados que têm um dos maiores PIBs industriais do país, proporcionalmente falando. Mas quando você faz uma outra estratificação e considera a cadeira produtiva do agronegócio aí você vai ter 70% de tudo o que nós processamos aqui vinculados ao agronegócio.

Isso blindou um pouco mais o Estado na crise?

Marconi Perillo - O fato de sermos um estado forte no agronegócio nos blindou, nos ajudou a ter um tombo menor, embora no ano passado tenhamos perdido 25 mil empregos. Nesse ano nós já recuperamos. No primeiro semestre, Goiás foi o líder na geração de empregos no país. O agronegócio é importante, mas um outro aspecto é importante: a diversificação econômica. Nós conseguimos agregar muito valor às nossas matérias-primas e trazer segmentos novos a Goiás, especialmente na área do processamento industrial. Temos um grande pólo de indústrias farmacêuticas, um grande pólo de confecção, um grande pólo alimentício e um pólo automotivo muito expressivo, com três montadoras, além de outros setores importantes, como turismo, serviços. Goiás é um Estado bastante diversificado do ponto de vista econômico. Somado à força do agronegócio, isso nos coloca em situação melhor na média brasileira. Nós crescemos, nos últimos dez anos, 50% a mais do que a média brasileira.

Segurança é um problema nacional. Por que vários governadores estão precisando solicitar a Força Nacional de Segurança? Como o senhor vê esse problema e o equacionamento dele?

Marconi Perillo - Dentre as três áreas mais importantes do Estado, junto à Educação e Saúde, a Segurança é o único setor que ainda não foi contemplado na Constituição com a garantia de vinculação de receitas constitucionais. E também é um setor que não tem o aporte do Governo Federal e nem a obrigatoriedade de os municípios colocarem recursos. Há uma anomalia. Nós tivemos na Constituição apenas a vinculação de 25% para a Educação, e não tivemos para as outras áreas. Quando o (José) Serra foi ministro, ele mobilizou todos nós à aprovação da emenda que vinculou recursos da União, dos estados e dos municípios para a Saúde e isso foi fundamental para melhorar a saúde. Aqui em Goiás, por exemplo, nós investimos mais de 12% e esses investimentos transformaram a saúde de Goiás em referência para o país. A Saúde estadual, porque há muita confusão. As pessoas muitas vezes não sabem que um hospital é de responsabilidade do Governo Federal ou que posto de saúde é de responsabilidade dos municípios. Mas de qualquer maneira quando você vai aqui a um hospital do Governo do Estado você percebe que há uma política de saúde correta e que está dando muito certo. Mas faltou colocar dinheiro para a Segurança Pública. Quando se fala na criação do Ministério da Segurança Pública, a gente pensa que junto com esse ministério venha também a criação de um fundo e a vinculação constitucional obrigatória de receita, com recursos da União, dos estados e municípios para compor esse fundo. Aqui em Goiás nós já investimos, no ano passado, 12,5% do Orçamento com a Segurança Pública. Ainda é pouco. Eu defendo que os estados continuem gastando 12,5% com segurança, mas é preciso que a União coloque um pouco também e os municípios. Quanto mais recursos tivermos, mais policiais nós teremos condições de contratar, mais câmeras nós poderemos colocar a serviço da população, mais centros de comando, controle e inteligência poderemos colocar, para poder interligar todas as operações e isso, certamente, nos garantiria melhor atuação na área da Segurança. Mas precisamos também mudar a legislação penal. Há uma reiteração do crime, porque os bandidos, as quadrilhas, são presos e são soltos rapidamente. Aí eles voltam a praticar crimes. É preciso que o Fundo Penitenciário Nacional seja descontingenciado. Me parece que vamos ter agora uma mão forte na defesa desse descontingenciamento e em defesa do federalismo, que será a nova presidente do Supremo Tribunal Federal, que é a ministra Carmem Lúcia. Ela já nos convidou a todos para a primeira reunião que fará logo após a posse, com os governadores dos estados. Ela toma posse dia 12 e no dia 13 de manhã nós já estamos convocados para tratar desses temas. E um deles, o primeiro deles, é sobre o descontingenciamento do Fundo Penitenciário Nacional. Precisa ter dinheiro pros estados construírem mais penitenciárias. E por outro lado eu defendo que a gente tenha uma política muito mais intransigente com relação ao tráfico de drogas no país. Quer dizer, as fronteiras nossas são completamente abertas. É preciso um trabalho muito mais efetivo para evitar que o contrabando de armas continue no país e a vinda de drogas dos países vizinhos, que entre no nosso país facilmente. Eu defendo sanções, a participação das polícias dos estados, mas também das forças armadas, e defendo sanções diplomáticas, com corte de empréstimos para países vizinhos, que permitem o tráfico de drogas para o Brasil.

Sua opinião sobre a redução da maioridade penal.

Marconi Perillo – Eu não tenho uma posição formal sobre isso. Mas eu acho nós vivemos hoje uma situação completamente diferente no país. Se as pessoas têm muito mais consciência do que fazem hoje, por conta da informação mais rápidas, é preciso que medidas sejam adotadas. Há uma proposta do senador Aluísio Nunes Ferreira com a qual eu concordo, uma PEC, que é você penalizar, mas dependendo dos casos. Eu acho que alguma medidas precisa ser tomada também com relação à maioridade penal.

Na semana atrasada teve a operação da Polícia Federal, chamada Decantação, com a prisão do presidente estadual do PSDB. Eu vi declarações do senhor dizendo que foi exagerada a prisão. Por que o senhor avalia assim?

Marconi Perillo – Porque não há qualquer indício de participação de diretores da Saneago em qualquer desvio de recursos. Pelo menos de tudo que nós vimos no inquérito, de tudo que nós lemos, que os juristas do governo leram, não há qualquer participação dos diretores em qualquer mal feito, em qualquer desvio de recursos da  Saneago. São homens decente, respeitados aqui no Estado. Num caso como esse, se não há indício sério de lesão a patrimônio público, o que se poderia fazer era marcar um horário, uma data, convocar, intimar os diretores a prestar os depoimentos. Eles vivem aqui em Goiânia a vida toda. São pessoas que residem, têm suas famílias, endereços fixos, são pessoas que já participaram de inúmeras funções na vida pública. Então, bastava, na minha opinião, convidá-los ou intimá-los a comparecer, com horário, data marcada e eles iriam lá pra prestar todos os documentos necessários. No máximo, a condução coercitiva. Hoje, o que a gente percebe são operações muito espetaculosas, midiáticas, que acabam desmoralizando as pessoas e acabam também maculando a honra. Depois, quando essas pessoas são consideradas inocentes, os mesmos jornais, as TVs que deram o destaque enorme dão duas linhas, três linhas e a honra da pessoa já foi maculada. Eu não tenho dúvida de que restará ao final e ao cabo dessa história a isenção desses diretores que foram... inclusive foram afastados, todos eles saíram da Saneago. Nós já pusemos uma nova diretoria, técnica. Mas os próprios superintendentes, as pessoas que trabalhavam com essa equipe da Sanaego sabem da lisura deles. Vários deles atuaram em várias áreas do governo. Nunca houve qualquer notícia de qualquer vírgula de desvio da parte deles. Nessa operação há insinuação de que a Saneago teria desviado dinheiro para OSs – Organizações Sociais. O que o presidente da Saneago fez foi cobrar do secretário de Saúde, do superintendente de Saúde que incitasse as Organizações Sociais, que administram os hospitais, a pagarem a conta de água, sob pena de cortar a água dos hospitais. O que foi pedido às OSs é que pagassem as contas de água devidas à Saneago. Outra questão que falaram é que o dinheiro teria sido desviado para contas de campanha do PSDB, o que não é verdade. No caso meu de 2014, uma das empresas que estão nessa operação colaboraram emprestando horas de avião e de helicóptero pro comitê eleitoral. Isso, devidamente contabilizado, com contas prestadas junto à Justiça Eleitoral. O que eu disse foi isso: acho que não é necessário esse movimento espetaculoso, essa operação espetaculosa toda apenas pra poder, na minha opinião, desmoralizar o governo, desmoralizar a figura dos diretores, principalmente porque um deles era presidente do PSDB. O nosso erro foi colocar um dirigente de uma empresa como presidente do PSDB. Fizemos, porque como ele é muito correto ninguém imaginava que pudesse haver esse tipo de suspeita em relação à participação dele na empresa.

Governador, por falar em Polícia Federal, já estamos concluindo, há quem diga que o grande risco do governo Temer é a Operação Lava Jato, pode atingir integrantes e até mesmo mencionar o próprio nome do presidente. O senhor acha que esse é o grande risco do governo Temer?

Marconi Perillo – Eu acho que o grande risco do governo Temer é a economia. Se o presidente conseguir aprovar as reformas, aprovar o teto de gastos e colocar a economia nos eixos ele vai, com certeza, auferir os louros de uma administração responsável, que faz o Brasil voltar ao círculo virtuoso da prosperidade. Agora, é claro que se pessoas do governo ou que apoiam o governo forem pegas na Operação Lava Jato caberá a ele excluir essas pessoas e tocar o barco, tocar o governo para a frente. Eu, pelo que conheço do presidente Temer, acho que ele jamais se envolveria nesse tipo de coisa. Se o presidente não está envolvido, e eu acredito que não esteja, ele toca o barco. Se alguém do governo, eventualmente, estiver envolvido, ele tire essas pessoas e ponha outras no lugar.

O presidente Temer não ser candidato à reeleição é o pressuposto do apoio do PSDB?

Marconi Perillo – Não, de forma alguma. Não sei se o presidente terá interesse ou condições de ser candidato a presidente. Eu acho que o PSDB jamais imporia esse tipo de exigência para o apoio ao governo. Nós temos que apoiar o governo para que o Brasil efetivamente faça a transição e chegue a um porto seguro.

Qual o seu futuro político, governador, porque o senhor não pode ser candidato à reeleição em 2018?

Marconi Perillo – Eu não defini isso. Às vezes penso em parar um tempo. Eu vou completar 28 anos exercendo função eletiva, quatro mandatos como governador, três mandatos parlamentares, mas vou decidir isso daqui pra frente. A grande tarefa nossa é o equilíbrio fiscal, o equilíbrio financeiro do estado e a realização de investimentos que possam garantir ao Estado um status de estado competitivo, atrativo de empreendimentos e um estado moderno, eficiente, um estado bom pra se viver.

Em São Paulo, quando a gente ouve debates sobre nomes do PSDB a gente ouve do governador Alckmin, do Aécio, do Serra e o seu nome. É um fato?, o senhor pode ser candidato?

Marconi Perillo – Eu fico feliz por ouvir isso, mas eu não tenho esse tipo de vaidade, esse tipo de interesse. Agora, eu sou um operador do partido, eu sou uma das lideranças do partido, talvez pela longevidade minha como governador. Mas eu de qualquer maneira colaborarei com o partido, seja quem for o candidato, eu vou fazer como sempre fiz. Eu vou colaborar com apoio político, com ideias, com projetos aqui que deram certo, que podem ser eventualmente adotados pelos candidatos à presidência.

O partido estará unido em 2018, o senhor acha?

Marconi Perillo Eu sempre trabalhei pela unidade do partido. O partido até agora sempre esteve unido, mesmo com algumas escaramuças pré campanhas, mas quando a gente chega ao final a gente chega unido. Essa eleição do Aécio eu acho que foi a campanha que nós chegamos mais unidos.

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