O procurador de Justiça DemóstenesTorres concedeu entrevista para a Rádio 730 em que apontou a sua cassação como uma forma de perseguição política pelo papel que desempenhou no Senado. Demóstenes também realizou uma análise do cenário político goiano e nacional e avaliou que o vice-governador José Eliton, assim que assumir o governo, terá condições de colocar a sua personalidade à frente da gestão e irá crescer nas pesquisas, mantendo a base unida.
ÍNTEGRA DA ENTREVISTA
- Anulação da cassação
DemóstenesTorres – Entrei com uma petição dando prazo até o dia 28 de fevereiro para que o Senado tome uma decisão em relação à devolução do mandato. Se não decidir, eu vou entrar no Supremo Tribunal Federal em busca de uma liminar para que eu possa me candidatar novamente e reaver meu cargo porque eles o garfaram. Isso porque o Senadosebaseou em interceptações telefônicas que foram anuladas pelo STF. O Ministério Público também realizou uma pesquisa em todos os órgãos financeiros e fez uma devassa na minha vida, da minha família e de antigos funcionários e concedeu um parecer apontando a minha inocência. Diante disso, o Senado não tem como fugir, foi uma cassação política, de um inimigo, de uma pessoa de quem não gostavam porque apontei o dedo para aqueles que estavam podres. Eles têm que engolir isso e me trazer de volta. Eu ganhei na Justiça – e não foi em apenas um processo, não, ganhei em todos e em todas as instâncias. Até mesmo porque quem me deu o mandato foi a população de Goiás. É a primeira vez que alguém pede a devolução de um mandato após uma cassação. É parecido com o Tribunal do Júri. Você faz um procedimento de apuração, o juiz verifica se o pedido procede e envia para o Tribunal do Júri, onde o povo decide por sim ou não em relação às acusações. Então, no Senado, você tem uma primeira fase, que é uma fase administrativa e que precisa atender a todos os requisitos legais. É justamente esse o ponto em que eu estou atacando, não o julgamento político. Isso porque o senador só pode julgar se antes houve um processo limpo, o que não ocorreu.
- Atuações no Senado
Demóstenes Torres – Eu pretendo disputar o mandato de senador porque creio que desempenhei um grande trabalho dentro do Senado. O senador Wilder Morais desempenhou um trabalho mais municipalista. O governador Marconi Perillo é um excelente gestor, talvez um dos melhores que o Estado já teve, mas esteve no Senado e não compreendeu bem o funcionamento. A senadora Lúcia Vânia também tem um longo histórico, mas, se for procurar, o trabalho foi voltado para buscar recursos para os municípios. Tem gente que fica 30 anos e não consegue aprovar uma lei. O senador Ronaldo Caiado, como deputado federal e também como senador, não conseguiu. Eu, por meio de propostas, emendas e relatorias, aprovei toda a legislação contra a pedofilia no Brasil. Na reforma do Código de Processo Penal, fui o relator. São mais de 120 leis que contam com as minhas digitais. Não estou falando mal de ninguém. O que digo é: vamos todo mundo para o debate e vamos deixar que o eleitor decida quem prestou serviço ou não.
- Discurso
Demóstenes Torres – Eu não vou mudar o discurso até mesmo porque considero que na realidade eu fui um bom senador para o Estado de Goiás e também para o Brasil. Orgulhei o Estado de Goiás, fiz boas leis, fiz bons projetos. Tive um comportamento exemplar e fui cassado por perseguição política e não por outra coisa. Não vou mudar. A única coisa é que hoje eu sou uma pessoa muito mais experiente. Não vou de novo correr o risco de ser cassado por enfiar o dedo na cara do Sarney, por brigar com o Renan (Calheiros).
- Perseguição
DemóstenesTorres – Eu fui cassado por conta desses conflitos e porque os ex-presidentee Lula e Dilma não gostavam de mim. Eu não era candidato e mesmo assim aparecia em algumas pesquisas para presidente à época com dois dígitos. Inclusive fui cassado com o apoio entusiasmado e silencioso de alguns políticos de Goiás. Todo mundo queria me ver fora do mundo político. Politicamente eu não devo hoje favor a ninguém. Se eu ressurgir, vou ser mais independente ainda. E vou trabalhar mesmo! Não tenhomedodetrabalhar. Na semana passada, apenas para mostrar como continuo coerente e determinado, dei um parecer para que um policial que matou um bandido em uma troca de tiros fosse absolvido sumariamente. Então, não mudei minha forma de pensar.
- Julgamento do Lula
Demóstenes Torres – Eu acho que o Lula é um dos responsáveis pela minha cassação. Eu tenho todos os motivos para não gostar do ex-presidente Lula. Agora, é óbvio que aceleraram o processo em relação a ele. Pelo prazo normal, Lula seria julgado apenas em setembro ou outubro, quando já seria candidato. Então, houve sim uma tentativa de desmoralizá-lo. Houve sim um julgamento praticamente com as ruas. E agora será julgado em tempo recorde. Não é um julgamento de exceção, mas que estão julgando pela capa, sim. Isso aconteceu comigo também. Agora, quando começaram com a criminalização da política com a conversa de que ninguém presta, ressuscitaram o Lula. Se ninguém presta, na época do Lula era melhor. O povo pode pensar assim, porque quem não tinha dinheiro conseguia viajar, tinha poder de consumo. Isso acontece porque ao pegar Lula e todos os outros políticos e colocar todo mundo no mesmo liquidificador, alguém tinha que sobrar. E sobrou o próprio Lula. Ele não tem meu voto, mas é um candidato poderoso que agrada a uma parcela significativa dos brasileiros.
- Sérgio Moro
DemóstenesTorres – Acho que o juiz Sérgio Moro fez um papel brilhante. Só acho que houve uma glamorização da figura dele. Talvez até porque seja um dos primeiros. Isso não é bom. O que o Sérgio Moro faz deve acontecer todos os dias através de todos os juízes. Então, eu imagino que a partir do momento que isso virar rotina, passará a ter menor impacto. E no que impactou isso? No fechamento de várias empresas, no desemprego. Porque está todo mundo batendo palmas, mas ano que vem a eleição será decidida na base da economia. O cidadão que está desempregado e que tem que buscar comida no vizinho, em instituição de caridade, não quer saber quem está preso ou quem está solto. Ele quer comida na mesa. E também acho que isso abre um grande caminho para os candidatos malucos.
- Privatizações
Demóstenes Torres – Eu defendo as privatizações. Os pedágios, por exemplo, precisam ser implantados. Em todo lugar do mundo tem. Agora, não precisam ser os pedágios mais caros do mundo. O Ministério Público devia entrar nisso para saber o motivo dos preços altos. É preciso calcular isso. Olha a questão do reajuste do IPTU. É preciso ter um reajuste, mas não por meio de uma liminar. Não se reajusta o IPTU de uma forma decente em Goiânia há muitos anos. Ninguém gosta de pagar imposto, até mesmo por isso o nome. Agora, como o município vai investir assim? Aí começa o subterfúgio, a cidade está cheia de câmeras para todos os lados para multar o cidadão. Precisamos de uma reforma tributária, precisamos fazer uma reforma da Previdência, então o que precisa tem de ser feito. Eu sou completamente a favor de diminuir o governo e criar mais espaço para a iniciativa privada e assim gerar riqueza e empregos para a população.
- Eleições para governo
Demóstenes Torres – José Eliton é um homem talentoso, com muitas virtudes, mas acontece que o povo está cansado de quase 20 anos de governo. Então, eu acredito que o que precisa ser feito é, a partir do momento em que o José Eliton assumir o governo, mostrar a personalidade que tem, mostrar as suas qualidades. E isso não diminui o governador Marconi Perillo, não significa descolar a imagem, até mesmo porque é preciso da base unida. A renovação tem que se dar dentro da própria base do governo apenas concedendo o espaço natural para que José Eliton possa se mostrar de forma mais ampla para a população. Eu acredito que esse seja o caminho para a vitória.
Orgulhei o Estado de Goiás, fiz boas leis, fiz bons projetos. Tive um comportamento exemplar e fui cassado por perseguição política e não por outra coisa. Não vou mudar”