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POLÍTICA

Caiado não tem pressa para decidir 2ª vaga ao Senado

Depois da batalha de Alcaceque­bir, em que o Exército português foi trucidado pelos mouros, o coman­dante em chefe das tropas lusitanas desapareceu, depois de se empe­nhar bravamente nas batalhas. Com toda certeza o jovem rei Dom Sebas­tião foi morto em combate. Mas seu corpo até hoje jaz em lugar incerto e não sabido. Isto na alma do povo português a esperança de que ele um dia retornaria. As pessoas fica­vam o dia todo no cais a, literalmen­te, ver navios que chegavam, quem sabe trazendo Dom Sebastião.

Quando se espera não se sabe exatamente o quê, nem quando vem, e se vem, diz-se que se está a ver navios. Ronaldo Caiado está a ver navios. E Jorge Kajuru tam­bém. O vereador locutor está ani­madíssimo com sua pretensão de ser senador por Goiás. Quer estar lá, no plenário do Senado, para duelar verbalmente com outro que talvez se eleja senador: Marconi Perillo.

Kajuru tem vivido todo este tem­po, dede 1999, à espera do momen­to de ficar cara a cara com Marco­ni para um duelo ao pôr do sol na Main Street, bem à moda dos filmes de bang bang. Kajuru, que se gaba ser o gatilho mais rápido do oeste – no caso, do Centro-Oeste – tem cer­teza de que, depois deste encontro, poderá fazer mais um pique na co­ronha do seu Colt Dragon 45.

O problema de Kajuru é que ele precisa estar em uma chapa com­petitiva. Por mais que as pesquisas revelem seu favoritismo, sua vanta­gem pode ser anulada se ele não estiver em uma boa chapa, que lhe garanta algum tempo de televisão, alguma estrutura logística mínima para transformar intenções de voto em votos. Kajuru diz por aí, sem­pre ao seu estilo gabola, que não dá a mínima. Ele diz confiar mais no seu taco, isto é, nas suas milha­res de redes sociais, seus canais in­ternéticos e quejandas novidades.

COXIA

Mas na coxia da política regio­nal se sabe, todo mundo sabe, que Kajuru está se ardendo por dentro para estar na chapa de Caiado. Até porque não tem a menor possibili­dade dele estar na chapa de Zé Eli­ton e, na de Daniel, a possibilidade é contingente. O melhor dos mun­dos, para Kajuru, é estar com Caia­do. Por isso Kajuru espera navios.

Mas Caiado já disse não a Ka­juru. Nada pessoal. Pelo contrário. Os dois são amigos de longa data. A questão é que, para Caiado, o me­lhor dos mundos seria ter dona Lú­cia Vânia em sua chapa. Seria ele, Caiado, Wilder Morais e Lúcia Vâ­nia. Outra alternativa seria ter al­guém do MDB nesta chapa.

Explica-se: Caiado ainda não perdeu a esperança de atrelar o MDB à sua candidatura. Por isso, ele tem que reservar uma vaga se­natorial para o partido de Iris Rezen­de. Caiado aposta que a pretensão de Daniel não se sustenta. Entre os caiadistas, a avaliação é que entran­do o mês de julho a candidatura de Daniel estará esgotada. Até agora ele nem sequer conseguiu bons nomes para formar sua chapa. O PT não vai caminhar com ele. Quem são seus candidatos a senador? E quem será seu vice? Ninguém se interessa.

DANIEL AGUENTA?

De fato, o jovem deputado en­frenta dificuldades políticas que a cada dia se tornam maiores. Gran­de parte do MDB está com Caia­do. A quinta coluna caiadista não arquivou os planos de ir à conven­ção tomar a sigla de assalto para entregá-la a Caiado. Mas, pergun­tariam alguns, e a pergunta é opor­tuna: Iris já não declarou que seu candidato é Daniel? Sim, decla­rou. E alguém teria coragem de afrontar Iris Rezende dentro do PMDB, buscando minar Daniel.

Para muitos peemedebistas, o apoio de Iris a Daniel foi “da boca para fora”. Uma declaração formal, meramente protocolar, para ali­viar a pressão. De fato, quando Iris se manifestou pró-Daniel, per­cebia-se a má vontade com que o fazia. Nenhum pingo de entu­siasmo. Iris fora constrangido por circunstâncias alheias à sua von­tade. Mas a verdade, segundo o caiadistas do PMDB, é que Iris não vai quebrar lanças em favor de Daniel. A quinta coluna, por­tanto, está livre para agir. E vai agir.

REGISTRO

Supondo, porém, que Daniel consiga registrar sua chapa, res­ta para Caiado a possibilidade de trazer Lúcia Vânia para o seu lado. Seria isto possível?

Quem leu com atenção a última entrevista dela ao Diário da Ma­nhã percebe que Lúcia não está nem um pouco ansiosa. Todos sa­bem que o relacionamento dela dentro da “Base Aliada” nunca foi tranquilo. Ela sempre foi uma ba­talhadora dos interesse de Goiás e sempre foi leal ao marconismo, mas não faz a tiete, não bajula, e diz com franqueza o que pensa, apon­tando erros e indicando alternati­vas. Mas, para os que estão no po­der há tempos, é mais apetecível a lisonja meliflua do cortesão à fran­queza rude dos irmãos de lança.

“Às vezes as pessoas querem mu­dar e não sabem mudar para que ou por que, mas querem mudar. Talvez seja pouca compreendida dentro do próprio governo porque não sou ufanista. Eu dou a ele o mé­rito que tem, que é grande. Sem­pre fui companheira dele nas ho­ras fáceis e difíceis, sempre dando o apoio de uma pessoa que é solidá­ria. Eu consigo ver para o lado po­sitivo e para o lado negativo. E isso não agrada, principalmente àque­les que ficam de plantão no sen­tido de buscar o seu espaço atra­vés de elogios que, muitas vezes, só prejudicam, não ajudam”, dis­se a senadora. Carapuças a granel!

FATOR LÚCIA VÂNIA

Em muitos momentos, Lúcia Vânia teve seu nome fora das co­gitações para compor a chapa majoritária do governismo. Ela, que não nasceu ontem, tratou de construir sua alternativa par­tidária. Ela não precisa do PSDB para ser candidata. Tem sua sigla e tem seu eleitorado, tem história e ficha corrida de serviços pres­tados. É favoritíssima à reeleição.

Quem mais precisa dela é a base aliada. Daí Marconi ter de­clarado, às vésperas de deixar o governo, que Lúcia Vânia tem vaga assegurada para sua reelei­ção na chapa de José Eliton. Mas isto não comoveu a senadora. Ela ainda guarda ressentimentos do descaso com que muitas vezes foi tratada no interior da “base”.

ENTREVISTA

Nessa entrevista, Lúcia referiu-se a Caiado com termos gentis. Os que tentam intrigá-la com Caiado per­dem seu tempo. A senadora não vê em Caiado um inimigo, mas apenas um adversário ocasional. Em polí­tica, o adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã, desde que as pontes não sejam queimadas.

“Tanto ele ( Caiado) quanto nós nos damos muito bem, temos uma relação muito boa. Somos ca­racterizados no Senado, no Con­gresso, como dois defensores de Goiás. Não se pode abordar qual­quer questão sobre Goiás que to­dos olham para nós, porque eu faço o trabalho de comissão; e ele, o de plenário. Ele é mais de tribuna e eu sou mais de comissão. A gente faz uma dobradinha muito interes­sante no Senado”, afirmou Lúcia. A ponte está estabelecida. É só passar.

O que Lúcia insinuou em sua fala é que depende muito mais da “base” do que dela mesma conservar a ve­lha parceria que vem de muito tem­po antes da eleição de Marconi. São as coligações que devem disputar entre si a honra de tê-la. É isso que Caiado espera: que o tempo crie cir­cunstâncias favoráveis para uma rea­proximação com Lúcia Vânia. Assim, enquanto Caiado estiver a ver navios, Kajuru também terá que ficar vendo navios. Somente Lúcia poderá se dar o luxo de navegar de vento em popa.

 Para muitos peemedebistas, o apoio de Iris a Daniel foi “da boca para fora”. Uma declaração formal, meramente protocolar, para aliviar a pressão. De fato, quando Iris se manifestou pró-Daniel, percebia-se a má vontade com que o fazia

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