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POLÍTICA

Paralisação de hoje no Brasil traz as “marcas” do que virou golpe no Chile

  •  Empresários e caminhoneiros desestabilizaram economia, provocaram perda de 1,2 bi de dólares e levaram Augusto Pinochet ao Poder
  • Agências dos Estados Unidos das Américas, Tio Sam, teriam conspirado tanto em 1973, no Chile, como em 2016, no Brasil, mostram documentos
  • Classes médias do País do Cone-Sul, inventaram, há exatos 45 anos, os panelaços, repetidos em 2016, contra a reeleita Dilma Vana Rousseff

Libertado em 16 de janeiro de 1971, após ser trocado com mais 69 dissidentes da dita­dura civil e militar pelo embaixador da Suíça no Brasil, Giovanni Enrico Bucher, em operação executada pela VPR, a Vanguarda Popular Revolu­cionária, José Duarte dos Santos, velho auxiliar de Marconi Ferrei­ra Perillo Júnior, aterrissou no Chi­le. Sob Salvador Allende. Socia­lista. Um médico marxista que havia ganhado as eleições em 1970 e chegado ao Palácio de La Moneda. O marinheiro aposentado testemunhou in loco tanto a greve dos caminhoneiros, que de­sestabilizou a economia do País, com financiamento dos EUA, tendo Henry Kissinger como Secretário de Estado de Richard Ni­xon. Nada mais nada menos do que 26 dias. A greve ocorreu no mês de outubro de 1972. A paralisação teria do ao Chile, em valores de 2018, o equivalente a US$ 1,2 bilhões [De dólares]. Um locaute de 210 mil em­presários, grandes, médios e micros, com um movimento paredista de 40 mil caminhoneiros, cria um cli­ma de caos e desabastecimento.

- Agosto de 1973.

As classes médias chilenas, que temiam a ascensão do pro­letariado, a ameaça ao seu ve­lho padrão de vida, foram as in­ventoras do panelaço. O panelaço se repetiu no Brasil. No ano de 2016. Com o impeachment, sem crime de responsabilidade, da presidente da República, Dilma Vana Rousseff. O resultado, no Chile, veio em 11 de se­tembro. Não o das Torres Gêmeas, nos EUA. De 1973. Do golpe civil e militar sangrento que depôs o pre­sidente da República. O chefe do executivo federal morreu sob as la­baredas. Do Palácio de La Moneda. Bombardeado. Presos políticos fo­ram para o Estádio Nacional. Tarzan de Castro aparece na lista. Depois, o carbonário de Goiás conseguiu es­capar e embarcar para a França. No Velho Mundo. Lenine Bueno foge. Athos Magno Costa e Silva, de Pira­canjuba, Goiás, vai para a Alemanha. Daniel Aarão Reis Filho correu para a Embaixada do Panamá. Dagmar Pereira da Silva, que obteve auxí­lio de avião do piloto Dom To­más Balduíno para deixar Porto Nacional, e Athos Pereira da Sil­va, pararam na Bélgica. O mes­mo destino de José Duarte dos Santos. Assim como de Armando Augusto Vargas Dias, que se ca­sou com Dagmar Pereira da Sil­va. Da união nasceu Luisa Dias.

A chegada do general Augus­to Pinochet viola a constituição, desrespeita o direito interna­cional e pisoteia os direitos humanos. O número de mortos e desaparecidos ultrapassa qua­tro mil. Milhares de exilados. Uma ilha, isolada, é ocupada para abri­gar prisioneiros políticos do antigo regime socialista, sustentado pela Unidade Popular [UP] e pelo MIR, o Movimiento de Izquierda Revo­lucionária. A República cai. Com lutas, porém. Com Manuel Con­treras, chefe da Dina, a polícia po­lítica secreta da ditadura civil e mi­litar do Chile, executa ações até nos Estados Unidos. Orlando Letellier, exilado nas terras do Tio Sam, é as­sassinado. Um ex-ministro de Sal­vador Allende. Uma bomba explo­de o seu carro e o seu corpo fica em pedaços. Um escândalo internacio­nal. A Dina, com o suporte do SNI, Ciex, Cenimar, além da Bolívia e da Argentina, que sofreria um golpe de Estado em 24 de março de 1976, cria a Operação Condor. Para caçar re­fugiados socialistas, comunistas e trotskistas no Cone-Sul.

INTERVENÇÃO MILITAR!

- Virou uma situação sem controle.

É o que afirma ao ‘Estado de S. Paulo’ o presidente da União Na­cional dos Caminhoneiros, a Uni­cam, José Araújo Silva. O seu apeli­do é China. Os protestos continuam. Apesar dos acenos do presidente da República, Michel Temer, um vice que conspirou para ocupar a cadeira número um, sem o crivo das urnas eletrônicas, de outubro de 2014. O aplicativo WhatsApp teria for­mado um ‘monte de líderes’, la­menta. Os caminhoneiros, em múltiplos posts, informam que a pauta de reivindicações não foi atendida de forma integral. Daí a conti­nuidade do movimento. Michel Te­mer pediu a intervenção dos apara­tos policiais do Estado Nacional. É o que poderíamos classificar como democracia direta a comunicação por WhatsApp? Há controvérsias. A palavra-de-ordem é de que a van­guarda teria se rendido e se vendido para o Governo Federal. Faixas es­tendidas nas rodovias clamam por uma Intervenção Militar. O Brasil possui tradição: 1889, 1930, 1937, 1945, 1954, 1964 e um golpe pós­-moderno, do ano de 2016

- O Exército Brasileiro se mantém atento às suas missões instituições...

As palavras são de autoria do co­mandante do Exército Bra­sileiro, Eduardo Villas Boas. Publicadas em sua conta no Twit­ter, as postagens foram veicula­das às vésperas do julgamento do Ha­beas Corpus impe­trado pelo ex-presi­dente da República Luiz Inácio Lula da Silva, no Supremo Tribunal Federal [STF]. O ex-operário metalúrgico condenado sem provas, apenas em convicções do juiz de Direito Federal de Curitiba, Sérgio Moro, em supostas ilações confirmadas pelos três desembargadores do Tribunal Regional Federal, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A ameaça, vela­da, surtiu efeito. O STF, por 6 a 5, ne­gou o HC. Luiz Inácio Lula da Silva acabou preso. Mesmo assim lide­ra as pesquisas de intenções de vo­tos para a presidência da Repúbli­ca. Como mostram os números do Datafolha, Ibope, CUT & Vox Populi. O PT, assim como Guilherme Bou­los [Psol] e Manuela D’ávila [PC do B] propõem referendo, no ano de 2019, para revogar as reformas ul­traliberais e o desmonte do Esta­do Nacional-Desenvolvimentista. O que não interessaria aos EUA, às Forças Armadas, ao capital finan­ceiro e à bancada BBB.

- Da Bala, do Boi e da Bíblia. Além dos conglomerados de comunicação. Assim como às classes médias fascis­tas e às direitas, no plural, no Brasil.

Renato Dias, 50 anos de idade, re­pórter especial, é graduado em Jorna­lismo, formado em Ciências Sociais, pós-graduado em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Interna­cionais, com 11 livros-reportagens, prêmios de Jornalismo e Literário. É de sua autoria ‘Luta Armada/ALN­-Molipo–As 4 mortes de Maria Augus­ta Thomaz’; ‘O menino que a ditadura matou – Luta armada, VAR-Palma­res, desaparecimento e o desespero de uma mãe’; ‘1964-2016 – Página Infeliz da Nossa História – Golpe depõe Dil­ma Rousseff e anuncia um futuro a Temer’; ‘Soldados de Leon – Meus Ini­migos Estão No Poder’. O escritor lan­ça, em junho de 2018; ‘Rosas Verme­lhas – Mulheres sob a ditadura civil e militar no Brasil – 13 perfis’. Vermelho, é torcedor do maior do Centro-Oes­te do Brasil, o Vila Nova Futebol Clu­be, que fará 75 anos em 29 de julho de 2018. É pesquisador dos autoritaris­mos e totalitarismos

A palavra-de-ordem é de que a vanguarda dos caminhoneiros teria se rendido e se vendido para o Governo

Cronologia

1972 Greve de caminhoneiros no Chile

1973 Locaute, panelaços, greve: Chile

11/9 Golpe depõe Salvador Allende

1974 Ernesto Geisel: Ordem é matar

1975 Operação Condor em andamento

1976 Orlando Letelier é assassinado

2013 Jornadas de Junho, Brasil: EUA

2014 Dilma é reeleita & Lava Jato

2015 Eduardo Cunha faz chantagem

2016 Golpe parlamentar líquido

2017 Reformas ultraliberais

2018 Greve, locaute e caserna

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