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POLÍTICA

Políticos infiltrados

A greve dos caminhoneiros pela redução dos preços do diesel, melhores con­dições de transporte nas estradas e por melhores negociações no pa­gamento do frete não teve apenas uma pauta reivindicatória. Grupos de extrema-direita, empresários e políticos tentam manipular o movi­mento para agendas que nada têm a ver com a realidade dos caminho­neiros como a intervenção militar e a luta contra o comunismo.

Matéria publicada no site da Rádio CBN-SP pelo jornalista Gui­lherme Balza relata a participação de políticos filiados a partidos de direita e simpatizantes do depu­tado federal Jair Bolsonaro (PSL) entre os que procuravam radica­lizar e impedir o retorno dos ca­minhoneiros ao trabalho.

DENÚNCIA

Segundo denúncia feita ao Cade por José Fonseca Lopes, da Associa­ção Brasileira dos Caminhoneiros (ABC), os caminhoneiros querem voltar ao trabalho, mas estão sen­do impedidos por “intervencionis­tas” que, segundo ele, “querem der­rubar o governo”.

Disse mais: “Não é o caminhonei­ro mais que está fazendo greve. Tem um grupo muito forte de interven­cionistas aí e eu vi isso aqui em Bra­sília, e eles estão prendendo cami­nhão em tudo que é lugar”, declarou. “São pessoas que querem derrubar o governo. Não tenho nada a ver com essas pessoas nem os nossos cami­nhoneiros autônomos têm. Mas es­tão sendo usados para isso”, afirmou.

Um dos que pretendem derrubar o governo é o empresário catarinen­se Emílio Dalçóquio. Ele é apoiador de Bolsonaro que em 2014 foi can­didato a deputado federal pelo PSL, partido com o qual o ex-capitão do Exército disputa a presidência.

O outro nome é Wallace Landim, conhecido como Chorão, presiden­te do Podemos de Catalão. Ele está em muitos dos vídeos mais divul­gados nas redes sociais e é filiado ao Podemos, que tem Álvaro Dias como candidato a presidente.

Outro que reivindicava o papel de porta-voz dos grevistas em Goiás é o advogado André Janones, que foi candidato a prefeito da cidade mineira de Ituiutaba pelo PSC. Os vídeos dele têm quase 5 milhões de visualizações. Nos últimos dias, a liderança de Janones foi coloca­da em xeque porque os caminho­neiros descobriram que o PT fazia parte da coligação dele.

EMPRESÁRIOS

O empresário catarinense Lucia­no Hang, dono de uma das maiores varejistas do País, a Havan, que tem filial na cidade de Anápolis., auto­rizou o uso do estacionamento de uma das lojas como ponto de apoio e distribuiu comida para os caminho­neiros. O perfil da empresa no Face­book tem feito várias publicações em apoio à greve. Luciano Hang é defen­sor da privatização da Petrobras e da intervenção militar. Outra varejista que declarou apoio aos caminho­neiros é a Lojas Becker, do Rio Gran­de do Sul, que possui 220 unidades.

O empresário Claudinei Habacu­que é o líder dos bloqueios na rodo­via Castelo Branco, na Grande São Paulo, onde há uma distribuidora da Petrobras. Os vídeos dele reper­cutem entre os grevistas, com de­zenas de milhares de visualizações. Suplente de vereador no município de Carapicuíba, Claudinei é dono de uma transportadora e representou a categoria em reuniões com o gover­nador Marcio França. Antes, foi su­plente de deputado federal pelo PSL.

FASCISMO

Reportagem feita pela Revista Piauí, pela jornalista Josette Gou­lart, revela que Emílio Dalçóquio é empresário, dono de uma frota de 600 caminhões. Dalçóquio fez discursos raivosos durante o blo­queio que foram postados por ele no whattsap onde afirma que não houve ditadura no Brasil, xinga os professores universitário de “comu­nistas de merda” e elogia o general Augusto Pinochet, condenado por genocídio, tortura, fuzilamentos e desaparecimentos de 3.197 pessoas.

Na matéria, Josete transcreve um dos áudios onde Dalçóquio diz: “Sabe que todo caminhoneiro vota no Bolsonaro, né? É porque o plano dele para nossa classe é claro. Ele vai nos valorizar e cuidar da segurança”. O empresário não atendeu ao pedi­do de entrevistas até a publicação desta reportagem”.

O jornalista Renato Rovai, da Revista Fórum, ressalta que a trans­portadora de Dalçóquio é objeto de investigação, relacionada à Má­fia do Imposto sobre Serviços (ISS) da Prefeitura de São Paulo. De acor­do com reportagem do Estado de S. Paulo, a denúncia é que a empre­sa trocava a “sonegação” pelo pa­gamento de notas frias ao esque­ma do irmão do deputado estadual Rodrigo Garcia (DEM-SP).

Rovai também lembra que no final de 2016 a Transportadora Dalçóquio entrou em recupera­ção judicial e formalizou propos­ta de pagamento de R$ 130 mi em dívidas a credores, com dois anos de carência. Entre dívidas da Dal­çóquio havia várias de ordem tra­balhista parceladas em 12 vezes.

SARGENTO

Outra figura popular nas redes dos caminhoneiros é o sargento da reserva Paulo Roberto Roseno Ju­nior, do 2º Batalhão de Guardas de São Paulo, defensor contumaz da intervenção militar. Antes da gre­ve, vídeos dele tinham apenas al­gumas milhares de visitas. Após o movimento, as visualizações salta­ram para quase três milhões.

Pessoas infiltradas na greve foram presas no Maranhão

O ministro-chefe do GSI (Gabi­nete de Segurança Institucional), Sérgio Etchegoyen, informou que sete pessoas infiltradas na paralisa­ção dos caminhoneiros foram pre­sas no Maranhão. Segundo ele, elas foram detidas por ação criminosa e houve a necessidade de emprego de força pela PRF (Polícia Rodoviá­ria Federal) e pelas Forças Armadas também no Piauí e no Acre.

O ministro fez a declaração após reunião, no Palácio do Pla­nalto, de acompanhamento da situação da crise de desabasteci­mento de combustíveis e de ali­mentos. De acordo com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, as pa­ralisações que ainda ocorrem não são motivadas por reivindicações da categoria, mas por protestos de caráter político.”As manifestações políticas estão acontecendo em núcleos urbanos. Então, temos de tratar e estamos tratando desse as­sunto para não obstruir as conver­sas com os caminhoneiros”, disse.

PF INVESTIGA LOCAUTE

A Polícia Federal já abriu 48 in­quéritos para investigar a ocorrên­cia de locaute na paralisação dos caminhoneiros e encaminhou vá­rios pedidos de prisão, mas todos até agora foram negados pela Justi­ça, segundo apurou a Agência Bra­sil. O locaute ocorre quando pa­trões usam os trabalhadores para obter vantagens financeiras e é uma ilegalidade punível com prisão e multa. Por conta desses inquéritos, o governo está certo de que donos de transportadoras também estive­ram à frente da paralisação.

Os investigadores identifica­ram que a logística para planejar e manter uma paralisação nacional que já se aproxima, ainda que com menor força, a dez dias foi mui­to bem executada. Os principais entrocamentos rodoviários che­garam a ser fechados, bem como todos os corredores que levavam a refinarias e principais aeropor­tos. A rede de suprimentos para os caminhoneiros em greve também se mostrou organizada.

Estão sendo apuradas ainda a ação de infiltrados, já identifica­dos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e com auxílio dos serviços de inteligência, conforme informou o diretor-geral do órgão, Renato Dias. O governo voltou a ressaltar este fato na entrevista de ontem.

Na segunda-feira, o presidente da Associação Brasileira dos Cami­nhoneiros (Abcam), José da Fon­seca Lopes, denunciou que grupos políticos ameaçavam caminhonei­ros que queriam voltar ao trabalho e forçavam a manutenção da para­lisação. O objetivo dessas ações, in­formou a Abcam, seria prejudicar a estabilidade do governo.

A investigação é uma das linhas de atuação do governo federal nes­ses nove dias de movimento. A ou­tra diretriz é abertura dos corredo­res de abastecimento para permitir a viagem de comboios, sob escolta da PRF e das Forças Armadas, com combustíveis, insumos para usi­nas termelétricas, estações de tra­tamento de água e hospitais, além de alimentos, medicamentos e ra­ções para animais.

A primeira linha de atuação foi a negociação com os grevistas–ação prioritária, considerada já concluí­da pelo ministro da Casa Civil, Eli­seu Padilha. Mas o governo sustenta que o diálogo continua aberto com os motoristas autônomos, cujos re­presentantes se disseram satisfeitos com as medidas já efetivadas.(Com informações da CBN-SP, Revista Fó­rum, Revista Piauí, Diário do Centro do Mundo e Agência Brasil).

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