O primeiro paciente a receber o implante, Noland Arbaugh, sofreu um acidente de mergulho em 2016 que o deixou paralisado do pescoço para baixo. Ele conseguiu usar o dispositivo para controlar um cursor na tela do computador, mas enfrentou problemas quando 85% dos fios flexíveis do BCI se retraíram de seu cérebro, comprometendo a funcionalidade do dispositivo. Em resposta, os engenheiros da Neuralink modificaram o algoritmo de gravação, passando a registrar a atividade média dos neurônios próximos a cada eletrodo, em vez de focar na atividade de neurônios individuais. Essa mudança melhorou imediatamente o desempenho do dispositivo, apesar da perda de resolução dos sinais.
Para evitar os problemas enfrentados na primeira cirurgia, a equipe de neurocirurgia da Neuralink, liderada por Matthew MacDougall, ajustou o procedimento para evitar a criação de bolsas de ar que poderiam deslocar os eletrodos. Além disso, o hub eletrônico do dispositivo, do tamanho de uma moeda, foi reposicionado para ficar mais baixo no crânio, e os eletrodos foram inseridos mais profundamente no córtex motor, a área do cérebro responsável pelo controle dos movimentos.
Apesar das melhorias, ainda existem dúvidas sobre a estabilidade e durabilidade dos dispositivos da Neuralink. Vikash Gilja, diretor científico da Paradromics, uma empresa concorrente de BCI, destacou que o cérebro não é estático em relação ao crânio; ele se move com a respiração e os movimentos do corpo, o que pode afetar os fios dos eletrodos. Além disso, a longevidade dos materiais usados nos eletrodos da Neuralink ainda precisa ser comprovada a longo prazo. Gilja enfatizou que dispositivos como esses precisam ser estudados por anos, não apenas meses, para entender completamente sua durabilidade.
Elon Musk mencionou que a Neuralink planeja oferecer atualizações frequentes dos dispositivos, cada uma exigindo uma nova neurocirurgia. Em contraste, a Paradromics defende um intervalo mais longo entre as cirurgias sucessivas. Musk também previu que futuros BCIs poderiam ajudar pessoas com psicose, convulsões e perda de memória, mas especialistas como Sameer Sheth, neurocirurgião e pesquisador de neurotecnologia, alertam que tratar essas condições é um desafio muito maior do que permitir que pessoas controlem cursores de computador. Anna Wexler, neuroeticista da Universidade da Pensilvânia, expressou preocupações sobre as expectativas dos voluntários dos estudos, ressaltando a importância de uma comunicação clara sobre os potenciais riscos e benefícios.
A segunda implantação do BCI da Neuralink representa um passo significativo na evolução das interfaces cérebro-computador, mas também destaca a complexidade e os desafios contínuos dessa tecnologia emergente. O sucesso a longo prazo dependerá não apenas de avanços técnicos, mas também de uma abordagem ética e cuidadosa na aplicação dessas inovações.