Cotidiano

Vícios tecnológicos

Redação DM

Publicado em 5 de maio de 2015 às 01:42 | Atualizado há 7 meses

 

O uso da tecnologia, de modo geral, tem se tornado cada vez mais recorrente nos últimos anos, o que pode ser entendido como um reflexo do avanço científico. Com esse avanço, surgiram os smartphones que permitem as pessoas se manterem conectadas com o mundo inteiro, independente do local em que estiverem, contanto que haja um sinal de rede minimamente acessível.

Essa possibilidade de se manter on-line, a todo o momento, permite as pessoas encontrar respostas para uma gama de questionamentos que porventura surjam ao longo do seu dia, bem como os torna conectados a uma rede de amigos, obviamente, virtuais, otimizando, por um lado, a comunicação entre eles. Nesse sentido, os smartphones têm sido utilizados por pessoas das mais variadas faixas etárias e, como a necessidade de se obter informações/respostas tem se tornado cada vez mais urgente, o seu uso frequente também caminha de maneira análoga.

A estudante Bárbara Vitória Elizabeth, 18 anos, em determinado momento de sua vida, se considerou uma “viciada tecnológica”. Nas redes sociais, ela sempre buscou ficar ligada no que se passava com amigos e colegas virtuais. “Isso me tomava muito tempo, ao ponto de deixar de fazer outras atividades”, diz a jovem.

Na época, Bárbara não estava trabalhando e para se manter conectada carregava a bateria do aparelho celular três vezes ao dia. “Considerava-me viciada porque ao acordar já pegava o celular e em reuniões com amigos e familiar sempre optava por ficar conectada com “amigos virtuais” que trocar idéia com os presentes. Cheguei ao ponto de deixar de viajar para ficar conectada e não deixar de ter acesso à internet”, recorda.

Já estudante Izabela Lara Castro Macedo, 17 anos, não se considera uma “viciada tecnológica” e ver a tecnologia como uma aliada a suas necessidades, uma vez que esta faz parte do seu dia a dia. “Como meu trabalho envolve o uso frequente dessas ferramentas tecnológicas termina sendo algo constante na minha vida. Mas, consigo facilmente ficar sem”, considera.

Apesar da adolescente não se considerar viciada, às vezes, ela se avalia como tal. “Já houve vezes que me conectaram enquanto almoçava e mantive o diálogo enquanto me alimentava”, reconhece, ela que enquanto dava a entrevista, se resguardou o direito de pedir licença para enviar uma mensagem.

O psicólogo clínico Philipe Gomes Vieira, doutorando e mestre em avaliação psicológica no contexto da saúde mental, pela Universidade São Francisco e professor no curso de especialização em avaliação psicológica do Instituto de Pós-Graduação de Goiânia (IPOG), esclarece que recentemente houve discussões sobre a inclusão de uma categoria, para o que seria considerado um quadro de dependência da internet, na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).

 

PADRÃO

O que, de acordo com ele, acabou por não se concretizar, uma vez que a força-tarefa organizadora do referido manual não julgou satisfatório o número de evidências empíricas que justificasse pensar nesse padrão comportamental enquanto patológico. Apesar de não existir uma classificação diagnóstica para o que seria considerado um quadro de dependência da internet.

Philipe acresce que comportamentos excessivos, denominados “adições comportamentais”, como, por exemplo, adição por compras, adição por sexo, adição por exercícios físicos ou (por que não?!) adição por internet, podem causar manifestações sintomatológicas que abarcam elementos cognitivos, comportamentais e fisiológicos.

De qualquer forma, ele ressalva que para se pensar em um transtorno aditivo, deve-se ter a clareza de que o padrão comportamental é, de fato, patológico, o que consiste em dizer que há prejuízos substanciais na vida do sujeito que o apresenta.

“Um sujeito que evidencia comportamentos patológicos ligados ao uso abusivo da internet tende a enfrentar sérias dificuldades permeadas por manifestações de ansiedade autonômica, como, por exemplo, taquicardia (aceleração cardíaca), taquipneia (respiração acelerada), sudorese, dentre outras, quando se vê obrigado (por qualquer razão que seja) a se desconectar, ainda que por poucos minutos”, define.

 

Consequências danosas

O psicólogo clínico Philipe Vieira descreve que um aspecto notável nas relações virtuais é a ambivalência social, que pode ser entendida como um desejo por se manter em contato com outras pessoas e, ao mesmo tempo, de maneira contraditória, afastar-se delas, assumindo uma conotação de proteção à possível frustração.

“Quando o sujeito passa a abrir mão de sua vida social real e concreta, postergando de maneira insistente compromissos e encontros, para, ao contrário, se manter em contato virtualmente com outrem, poder-se-ia identificar um aspecto desarmônico e, portanto, desequilibrado entre o uso tecnológico e seus investimentos interpessoais”, constata.

Desta forma, ele constata que apesar dos smartphones facilitar os contatos, ao mesmo tempo e de forma ambivalente, os distancia, uma vez que, torna-se possível manter contato com uma determinada pessoa virtualmente, minimizando a necessidade de se encontrá-la pessoalmente. O que, ele afirma, na verdade, “poderia intensificar as relações, tornando-as aprofundadas em função da velocidade com que se consegue manter a comunicação, tende a torná-las superficiais”, certifica.

Ele adverte que casos de adição comportamental tendem a causar danos severos na vida das pessoas, uma vez que devido ao prejuízo do autocontrole, a pessoa poderá enfrentar eventos de deterioração social, tais como: fracassos em cumprir metas e obrigações no trabalho, na escola, ou em qualquer contexto em que se esteja inserido.

Além disso, ele menciona que de maneira recorrente, o sujeito pode começar a ter prejuízos relacionais, tendo vista que passa a afastar-se de atividades em família e/ou com os amigos, a fim de se manter utilizando determinada tecnologia, como acontece no caso dos smartphones que permitem um acesso contínuo e remoto à internet.

“Ao se usar de maneira excessiva de tal tecnologia, percebe-se uma relação de dependência, a qual obriga ao sujeito manter-se conectado a qualquer custo e em todo momento. Quando se vê diante de alguma situação que o obrigue a se desconectar, como, por exemplo, o descarregar da bateria de seu aparelho associado à impossibilidade de recarregá-lo prontamente, o sujeito tende a experimentar sintomas de ansiedade autonômica que pode, inclusive, se assemelhar a um ataque de pânico”, examina.

“WhatsAppitis” seria comportamento disfuncional

Philipe esclarece que o neologismo “WhatsAppitis” surgiu em função de uma médica que diagnosticou um caso de inflamação na região do pulso e do dedão em uma mulher que relatara ter usado excessivamente o aplicativo de troca de mensagens instantâneas, WhatsApp em que nome se assemelha ao “quadro” diagnosticado.

Ele apura que independente de receber um nome mais pomposo devido à nova tendência tecnológica, o que se mostra alarmante no caso é como o comportamento aditivo e, nesse sentido, patológico e disfuncional, pode trazer sérios problemas à vida do dependente.

Além dos complicadores físicos, ele afirma ser possível identificar certos prejuízos laborais, relacionais e familiares, tendo em vista que algumas pessoas, por se encontrarem em um quadro de comportamento aditivo, podem sofrer de ataques abruptos de ansiedade e sensação de iminente perda de controle quando diante da impossibilidade de se manterem utilizando do recurso tecnológico, por qualquer razão que seja. “Em suma, os danos originados de comportamentos aditivos de natureza similar a essa, tendem a causar impactos generalizados na vida de uma pessoa”

Ressalta que todo comportamento aditivo só pode ser considerado como tal, quando, de fato, assume uma conotação patológica, trazendo disfunções e comportamentos desadaptados para o indivíduo. Por tanto, “Para se considerar o uso da tecnologia enquanto algo patológico faz-se necessário encontrar evidências de prejuízos acentuados e sofrimento intrapsíquico vivenciado pelo sujeito. Cabe a ele, quando percebe esses prejuízos, de maneira autônoma ou por sugestão de outrem, buscar auxílio de um profissional da Saúde Mental (psicólogo e/ou psiquiatra) para lidar com os elementos subjacentes a essas perturbações, visando alcançar o seu restabelecimento psicoemocional”, conclui.

EQUÍLIBRIO

Para o gerente de tecnologia da informação do IPOG, Kleyder Régis Mendes Faria desde que haja equilíbrio o avanços da tecnologia, por exemplo, em smartphones tem proporcionado uma série de vantagens para as pessoas.

“A agilidade nas interações no dia a dia, facilidade de comunicação e obtenção de informações. Tudo isso acontece em uma velocidade extremamente incrível hoje em dia, e as pessoas consequentemente tem mais facilidade para conhecer diversos assuntos de forma mais ágil. Além disto o ganho de tempo e aumento da produtividade tanto na vida pessoal quanto na profissional, uma vez que é possível estar em vários lugares na velocidade de um clique, por exemplo bancos, bibliotecas, lojas e etc”.

 

Conheça alguns transtornos mentais ligados ao uso da tecnologia digital

 

  • Síndrome do toque fantasma – quando o cérebro faz com que pessoa pense que seu celular está vibrando no bolso quando, na verdade não está.
  • Nomophobia – aumento acentuado da ansiedade que algumas pessoas sentem quando são separadas de seus dispositivo móvel.
  • Depressão de Facebook – É causada pelas interações sociais ou a falta de interação no Facebook.
  • Transtorno de Dependência da Internet – ocorre por meio da vontade constante e irracional de usar a Internet que acaba por interferir na vida cotidiana do indivíduo.
  • Vício de jogos on-line – Similar ao transtorno de dependência da internet difere apenas, no fato, de ser uma necessidade, não saudável, de acessar jogos multiplayer on-line.
  • Efeito Google – É quando cérebro humano retém menos informação porque sabe que as respostas estão ao alcance de alguns cliques.
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