Opinião

Deus, a causa de tudo e seus atributos

Redação DM

Publicado em 1 de junho de 2017 às 01:42 | Atualizado há 8 anos

Dando sequência ao tema anterior, Espinosa, falando sobre a causa de tudo no Universo, ao mesmo tempo em que discorre sobre os atributos divinos, diz no seu “Breve Tratado”¹:

“Começaremos agora a tratar dos atributos que chamamos de próprios. E, em primeiro lugar, de que maneira Deus é causa de tudo. No que aqui precede, já dissemos que a substância única não pode produzir as outras, e que Deus é um ser do que se afiram todos os atributos; donde se segue claramente que todas as outras coisas, não podem, de modo algum, nem existir nem ser entendidas sem Ele nem fora d´Ele. Por isso podemos dizer, com toda razão, que Deus é causa de tudo.

Posto que é costume dividir a causa eficiente em oito partes, convém que investiguemos, então, como e de que maneira Deus é causa.

Dizemos, pois, que Ele é causa emanativa ou produtiva de suas obras; e, em relação à operação que se está realizando, (é) uma causa ativa ou eficiente, as quais nós consideremos como uma, porque são correlativas entre si.

Deus é uma causa imanente e não transitiva, já que opera tudo em si mesmo e não fora, posto que fora d´Ele não há nada.

Deus é uma causa livre, e não natural, como o exporemos e faremos ver claramente quando tratarmos de se Deus pode deixar de fazer o que faz; então se explicará também em que consiste a verdadeira liberdade.

Deus é uma causa por si mesmo, e não por um acidente; o que aparecerá com mais precisão ao tratarmos da Predestinação.

Deus é uma causa principal das obras que criou imediatamente, como é o movimento na matéria, etc.; nas quais não cabe a causa menos principal, já que esta sempre se encontra nas coisas particulares; como quando Ele seca o mar por um forte vento, e assim sucessivamente, em todas as coisas particulares que existem na Natureza. A causa menos principal-inicial não se dá em Deus, porque fora d´Ele nada há que O possa coagir. Por outro lado, a causa predisponente é sua própria perfeição, em virtude da qual é causa de si mesmo e, por consequência, de todas as outras coisas.

Só Deus é a causa primeira ou iniciante, como aparece pela nossa prova anterior.

Deus é também uma causa universal, porém somente enquanto realiza obras diversas; em outro sentido, jamais pode se qualificar de tal, já que não tem necessidade de ninguém para produzir efeitos.

Deus é causa próxima das coisas que são infinitas e imutáveis, e das quais dizemos que foram criadas imediatamente por Ele; porém, em certo sentido, Ele é a causa última de todas as coisas particulares.”

2 – A tese de que Deus é a causa de tudo é hoje aceita, apesar de que surdamente por boa parcela de eminentes filósofos e cientistas.

Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, a verdade a respeito do dogma de que Deus é a causa de tudo e também conta com os Seus Divinos e inescrutáveis atributos, recebem ambos adequado e completo tratamento, com soberana clareza, pelo que se pode aferir das questões números 1 e 13, respectivamente:

1 – Que é Deus

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”

  1. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos ideia completa de seus atributos?

“Do vosso ponto de vista, sim, porque credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais vossa linguagem restrita à vossas ideias e sensações, não tem meios de exprimir. A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma lhe faltasse, ou não fosse infinita, já ele não seria superior a tudo, não seria, por conseguinte, Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus tem que se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a imaginação possa conceber…”

3 – No que toca aos divinos atributos de Deus, assim comenta Allan Kardec a questão 13:

“…Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.

É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam.

É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.

É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação Universo.

É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não houvesse feito seriam obra de outro Deus.

É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela, assim nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça nem da bondade de Deus.”

4 – À oportunidade, faz-se imprescindível um epílogo calcado no belo soneto da musa de Raul de Leoni² (1895 – 1926),  brilhante poeta fluminense:

“Nós…

Nós todos vamos pela vida em fora

Deixando no caminho os mesmos traços,

Em Deus buscando a Perfeição que mora

No cume inatingível dos Espaços!…

Cada instante de dor nos aprimora,

Desatando os grilhões, rompendo os laços

Dessa animalidade arrasadora,

Que procura tolher os nossos passos.

Heróis de novas lendas carlovíngias,

O sonho imanta as nossas almas, cinge-as,

Na Luz Ideal – o nosso excelso escudo;

Buscando o Indefinível, o Insondado,

Deus, que é o Amor eterno e ilimitado

E a gloriosa síntese de tudo.”*

  • – Do livro inédito, do autor: “Deduções Filosóficas e Induções Científicas da Existência de Deus”.

REFERÊNCIA:

1 – Baruchc de Espinosa – “BREVE TRATADO de Deus, do Homem e do seu Bem-Estar” – AUTÊNTICA Editora Ltda. – São Paulo/SP 2012 – 1ª edição – cap. III, p. 70/71.

² – “Parnaso de Além-Túmulo” – psicografia de Chico Xavier – FEB – 10ª edição, p. 467.

 

(Weimar Muniz de Oliveira. [email protected])


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