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Delegado-geral prevê mais violência com liberação da maconha

O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, João Carlos Gorski, prevê uma escalada de violência ainda maior do que está acontecendo atualmente caso seja aprovada a descriminalização da maconha como está em julgamento no Supremo Tribunal Federal. Goiânia já vive uma espiral de violência sem precedentes e grande parte dessa violência se dá em função do comércio e do uso de drogas.
No último final de semana foram 16 homicídios em Goiânia entre sexta-feira e domingo, sem contar outras duas mortes ocorridas em situação de confronto de marginais com policiais. A esmagadora maioria dos casos está ligada à questão das drogas e situação só tende a piorar. “A sociedade está perdendo a batalha contra as drogas e não há reação aparente”.
Os números da violência em Goiânia justificam a preocupação do delegado João Gorski. Somente no último final de semana foram 16 mortes em Goiânia, sendo 14 homicídios e duas mortes ocorridas em confronto de marginais com a Polícia Militar. O que está ocorrendo é uma guerra declarada entre gangues de traficantes de drogas em Goiânia e os confrontos acontecem com maior frequência durante os finais de semana. A maioria desses mortos é de jovens com menos de 30 anos e todos tinham envolvimento com o mundo do tráfico.
“Na verdade a sociedade brasileira precisa urgentemente parar e repensar o que quer para projetar as ações que contenham a violência e possam inibir a banalização do crime”, indica. As condições do Brasil com respeito ao comércio e uso de drogas aponta para particularidades que requerem uma inteligência maior para solucionar o problema.
Uma dessas peculiaridades é que o Brasil tem a maior fronteira com países produtores de drogas, como Paraguai, Colômbia e Bolívia, fatores que facilitam em demasia a entrada de drogas, tanto para consumo interno como rota de passagem para levar para outros mercados consumidores, como Europa e Estados Unidos. João Gorski explica que a droga no Brasil atualmente é barata e o que encarece o comércio é o transporte.
No Supremo Tribunal Federal está em discussão um recurso extraordinário que poderá descriminalizar o porte e o uso de maconha, o que será um verdadeiro desastre, na avaliação do delegado-geral. “Estão dando uma solução apenas para o consumo e estão esquecendo onde reside o maior problema. Esse consumidor terá de comprar a droga dos traficantes, pequenos ou grandes, o que manterá o comércio ilegal da droga”.
Exemplo
A iniciativa do Uruguai de legalizar o comércio e o uso de maconha fechou as portas para o tráfico, avalia João Gorski. Ele lembra que o problema da comercialização legalizada tem o condão de pulverizar o comércio ilegal e aqui no Brasil. No Brasil o comércio ilegal é muito mais devastador para a sociedade e desgraçadamente indutor de outros crimes, sempre violentos e que chamam outros delitos juntos.
“No Uruguai, se um indivíduo quiser comprar maconha ele precisará ir a um local de comércio legal e pagar em dinheiro ou outra forma de quitação como cartão de crédito ou débito e não há crediário ou venda fiado. No Brasil o traficante até vende fiado para o usuário e aceita telefones celulares, bicicleta furtada, joias roubadas ou outras formas de pagamento, inclusive venda a prazo. Mas, se o usuário não pagar o traficante não se acanha em matar seu devedor, é a lei da rua e isso faz crescer as estatísticas de violência de modo tão preocupante”, comenta o delegado-geral.
Os enfrentamentos de traficantes pelo domínio das regiões onde vendem suas drogas tem produzido a maioria desses assassinatos. Entretanto, a situação só tende a piorar se o uso de maconha for liberado, como pretendem os ministros do STF. “A pessoa que ainda tem algum pudor de consumir maconha hoje estará liberado para fazê-lo em qualquer lugar e o ilegal será somente a forma de adquirir essa droga”.
As soluções para enfrentar esse problema são duras e graves, considera João Gorski. Ele se declara radicalmente contra o pensamento de liberação do uso de drogas como a maconha, mas considera ser necessário pensar sobre isto urgentemente. “Ou fechamos nossas fronteiras, o que é praticamente impossível, ou enfrentamos o problema com racionalidade”.
Impunidade
Outra particularidade do Brasil com respeito à criminalidade como o uso de drogas e crimes contra a vida é a certeza de impunidade que já se disseminou. Um indivíduo é preso por roubo ou assalto a mão armada, ou mesmo porte de drogas para comércio, e em poucos dias está de volta às ruas, curtindo liberdade com toda facilidade. A Polícia Civil, que investiga, e as Polícia Militar, que combate o crime nas ruas ficam com a sensação de estarem enxugando gelo e jamais terem frutos em seus trabalhos.
“Em países desenvolvidos e com legislação mais dura, aliada a um forte sistema prisional que obriga o criminoso a cumprir sua pena integralmente em regime fechado, a criminalidade é menor. Ao passo que no Brasil a coisa está tão frouxa que um pequeno traficante sabe que em poucos meses ele estará livre para continuar sua senda de crimes”, frisa. O resultado disso é a explosão dessa violência toda que permeia nossas cidades.
No Brasil as mortes violentas como homicídios são contadas às milhares, como já na casa de 54.000 ocorridas em 2014. Ao passo que no Iraque, em guerra já há uma década a média anual é de 18 mil mortes, envolvendo bombas, confrontos armados e atentados terroristas. Nas cidades brasileiras as mortes são por armas leves, como revólveres e pistolas de pequenos calibres.
“Um homicida nos Estados Unidos sabe que ficará 30, 40 anos na cadeia ou até mesmo prisão perpétua, até o fim de seus dias. Isso quando não é condenado à morte, como em alguns Estados. Aqui no Brasil a certeza da impunidade é a origem para muitos outros crimes, o que mostra a falência do sistema penal e penitenciário”, frisa. A frouxa legislação precisa também ser repensada com urgência para inibir a prática de crimes, finaliza.

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