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Fotografia da depressão

A cintilografia de perfusão cerebral é um método utilizado por clínicos médicos especializados em doenças relacionadas ao SNC (Sistema Nervoso Central) para detectar enfermidades que afetam a função do cérebro. E quando o assunto se refere à doenças neurológicas, o principal nome é a depressão.

O exame, conhecido também como spect, permite avaliar a função cerebral através do fluxo sanguíneo. Um radiofármaco, ou seja, uma substância químico-radioativa, é injetada na veia do paciente e permite que um aparelho radiográfico obtenha imagens coloridas do cérebro. O radiofármaco utilizado não provoca nenhum dano à saúde, mas esse exame não é recomendado para gestantes, visto que o feto fica exposto à radiação.

A pessoa que será examinada deve ficar sozinha e em repouso em uma sala fechada, com pouca iluminação, logo após ter recebido a aplicação do radiofármaco. Isso se dá porque o cérebro não pode receber estímulos, visto que o exame analisa o metabolismo cerebral. Se o paciente movimentar o braço, por exemplo, a região responsável pelo movimento será ativada e a irrigação sanguínea para os neurônios neuromotores será intensificada, prejudicando, assim, o resultado do exame. Outros estímulos também podem afetar um resultado, como os estímulos táteis, sonoros ou visuais, por isso é imprescindível que o paciente fique em repouso.

Logo após o repouso, que geralmente dura trinta minutos, tempo suficiente para que o radiofármaco circule por todas as regiões do cérebro, o paciente é conduzido até a sala de exames radiográficos para a aquisição dos fotogramas do cérebro. As imagens obtidas pelo aparelho indicarão quais regiões estão trabalhando menos do que o normal. Sabe-se que a depressão atinge mais os lobos frontais, ou seja, a região mais à frente do cérebro, que fica logo acima dos olhos. A partir dessa informação, o especialista é auxiliado pelos fotogramas na hora de diagnosticar o paciente.

Outro exame, também comum, é a cintilografia convencional, que analisa a estrutura do tecido. No entanto, esse exame pode não ser o ideal em certos casos, porque uma determinada região do cérebro pode estar com a estrutura física intacta, enquanto não recebe irrigação sanguínea e, por isso, não consegue trabalhar. O contrário também pode acontecer, uma região cerebral pode apresentar uma estrutura danificada enquanto funciona normalmente. É em casos como esses que a figura do clínico se prova tão importante.

Especialista no exame


“A clínica é soberana”, é o que diz o Dr. Whemberton Araújo, clínico especializado em medicina nuclear, numa entrevista concedida ao Diário da Manhã. “A cintilografia cerebral é um exame auxiliar, como qualquer outro tipo de exame, seja sanguíneo, radiográfico ou endoscópico. O único que pode diagnosticar é o médico, pois é este quem faz a leitura do exame, no caso da cintilografia, dos fotogramas, e através da sua interpretação ele chegará à conclusão sobre qual enfermidade sofre o paciente”, ele completa.

O Dr. Whemberton também fala sobre o uso do exame: “O emprego da cintilografia de perfusão cerebral se baseia no paralelismo que ocorre na grande maioria dos casos entre perfusão, metabolismo e função cerebral. A oferta de oxigênio e de glicose, através do fluxo sanguíneo no cérebro, para cada região é proporcional à necessidade metabólica. Esta, por sua vez, é determinada pela intensidade da atividade neuronal. Baseado num banco de dados, a cintilografia compara cérebros saudáveis de voluntários com o do paciente e, a partir disso, verifica-se qual região está funcionando normalmente e qual não está.”

Na maioria dos casos, o clínico já pode diagnosticar uma pessoa com depressão sem auxílio de qualquer exame. A cintilografia cerebral é usada em casos mais complexos, que podem gerar dúvidas quanto a que tipo de doença aquele indivíduo sofre. O Dr. Whemberton diz que “sintomas da depressão também estão presentes em demências que afetam os lobos temporais (parte do cérebro localizada nas regiões laterais), como a doença de Pick. Por isso a necessidade da cintilografia de perfusão como exame auxiliar ajuda, e muito, no diagnóstico.”

Dr. Whemberton também pontua que “a cintilografia de perfusão cerebral, além de auxiliar no diagnóstico da depressão, ela também pode detectar outras doenças, como o Alzheimer e transtornos de bipolaridade, além de identificar tumores cerebrais, confirmar mortes cerebrais, esquizofrenia, e de auxiliar no diagnóstico precoce de acidentes vasculares cerebrais, os terríveis AVCs”.

Depressão


A depressão, hoje, atinge ou já atingiu cerca de uma a cada quatro pessoas no mundo, e coloca a população mundial numa situação muito preocupante. Só no Brasil, segundo pesquisas relacionadas à doença, ela já atinge mais de 17 milhões de pessoas, ou seja, quase nove por cento dos habitantes. Embora seja uma doença muito séria, e as estatísticas apontando números alarmantes, a depressão ainda é bastante estigmatizada.

Muitas vezes é associada apenas como um distúrbio comportamental momentâneo, que pode ser facilmente superado, e que depende apenas do indivíduo se recuperar e levar uma vida normal. A depressão, nesse caso, é equivocadamente confundida com o sentimento de tristeza. A tristeza, sim, é um sentimento passageiro, mas a depressão é uma doença. Infelizmente, segundo a companhia farmacêutica Boehringer, mais de 75% dos indivíduos que sofrem de depressão não recebem tratamento devidamente adequado.

A depressão é também uma doença que apresenta traços hereditários. Cerca de 57% dos indivíduos que sofrem ou já sofreram com a doença possuem, no mínimo, um familiar que também já apresentou quadro de depressão, segundo uma pesquisa realizada pela OMS. Essa mesma pesquisa indica que 88% dos acometidos pela depressão são mulheres.

Outro agravante desse mal é a recorrência. As pessoas que já sofreram com a doença alguma vez correm 50% de risco de repetir o quadro. Se a pessoa sofreu duas vezes de depressão, a probabilidade de recidiva pode chegar a 90%, e se já sofreu três vezes, essa recidiva ultrapassa os 90%, segundo a OMS. Em um terço dos casos, a depressão também está associada a outras doenças. As principais são diabetes, AIDS, epilepsia, doença de Parkinson, doenças relacionadas à tireoide e câncer.

Casos leves ou moderados de depressão podem ser suficientemente controlados pela psicoterapia, pois o método oferece a vantagem teórica de não empregar medicamentos e diminuir o risco de recidiva do quadro. A grande desvantagem, no entanto, está na lentidão e imprevisibilidade da resposta, além de também não ser indicada como tratamento exclusivo nos casos graves. Em contrapartida, nos últimos anos, a tendência é o emprego de medicamentos para tratar quadros depressivos. Tudo dependendo da decisão do clínico que cuidará do caso.

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