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Os desafios da coleta do lixo

O crescimento das cidades e o adensamento urbano desencadeiam diversos problemas ambientais, como poluições, desmatamento, redução da biodiversidade, mudanças climáticas e produção de lixo. Os impactos à saúde humana e ao meio ambiente são inevitáveis. Pensar em alternativas a partir da conscientização da sociedade sobre seu papel neste ciclo é hoje o maior desafio para a promoção de um correto gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos na Capital.

Goiânia possui hoje mais de 700 bairros e grande parte das áreas vazias da cidade acaba sendo utilizada para o descarte irregular de lixo, entulho e resíduo, sendo as margens dos cursos hídricos as áreas mais afetadas. Para a gerente de fiscalização ambiental da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), Núbia Ferreira de Macedo, o combate a esse tipo de infração administrativa é difícil por se tratar de um hábito cultural da população.

“Enquanto não houver a conscientização da população quanto aos malefícios causados ao meio ambiente e à saúde humana, gerados pela deposição irregular de lixo, entulho e resíduos em locais inadequados, somando-se o fato de empresas de construção civil e de recolhimento de entulho não darem a destinação correta aos seus resíduos, o problema continuará crescente”, pondera.

Para a engenheira ambiental, professora da Escola de Engenharia da PUC Goiás e presidente da Associação Goiana de Engenheiros Ambientais (Ageamb), Adjane Damasceno de Oliveira, este não é um problema de fácil solução. Ela avalia que para haver uma efetiva mudança as pessoas precisam estar dispostas a mudar os hábitos diários de consumo. Além disso, ela acrescenta, a forma de produção de bens e serviços deve ser melhorada continuamente no aspecto ambiental para que resultados expressivos sejam alcançados.

“A grande questão é que ainda estamos preocupados em como descartar o resíduo. A nossa preocupação deve estar voltada em como não gerar resíduos, este é o grande desafio. O papel da sociedade, além de tentar não gerar e reduzir o que é gerado, está também na realização de triagem adequada na fonte geradora para que estes tenham destinação ambientalmente adequada. Nós somos responsáveis pelos resíduos que geramos e precisamos ter consciência disso”, afirma.

De acordo com a gerente de fiscalização ambiental Núbia Ferreira, com o aumento do número de obras de construção civil e o adensamento urbano, nos últimos dez anos, foi observado um crescimento intimidante do descarte de lixo, entulho e resíduo em áreas privadas e públicas de Goiânia. As consequências, ela ressalta, da falta de conscientização da população refletem em uma série de danos ao meio ambiente.

Dentre as quais ela destaca o assoreamento e poluição dos cursos hídricos, causados pelo carreamento de lixo, entulho e resíduos, pela ação da chuva, poluição do solo, tornando-o inapropriado para a construção civil e dificultando o desenvolvimento arbóreo nas áreas de preservação permanente, servindo, ainda, de criação de ambientes propícios ao desenvolvimento de roedores e insetos causadores de doenças, como o mosquito da dengue, por exemplo.

Núbia acredita que para mudar essa realidade é preciso investir na educação ambiental, a qual deve ser implementada desde os primeiros anos de escolaridade. Assim como o desenvolvimento de um trabalho contínuo de educação ambiental, realizado pelos meios de comunicação.

Como dispor adequadamente os resíduos

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A engenheira ambiental e professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) Adjane Damasceno elucida que os hábitos de consumo refletem diretamente na geração diária de resíduos de cada um e mudar essa realidade, a curto e longo prazo, é o grande desafio. Ela adverte que em curto prazo já enfrentamos um grande desafio na área do saneamento ambiental, a gestão ambientalmente adequada dos resíduos sólidos.

“Esta não é uma mudança que ocorrerá de forma acelerada, pois envolve mudança de hábitos e costumes das pessoas, é um processo necessário, mas gradativo. Atualmente, menos de 10% dos municípios goianos possuem aterros sanitários, e em todo o país a situação não está muito diferente. A grande maioria dos municípios dispõe os resíduos sólidos de maneira inadequada e sem o devido licenciamento”, revela.

Adjane descreve que a lei n. 12. 305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), é um marco regulatório e a longo prazo objetiva mudar este cenário, para isso a lei determina que União, Estados e Municípios devem possuir planos de gestão de resíduos sólidos. “O planejamento a curto, médio e longo prazo é importante para que as diretrizes, estratégias, metas e ações possam ser implementadas resultando em mudanças reais no atual cenário”.

Ela espera que a longo prazo seja possível reverter o quadro atual, contudo lembra que cada cidadão deve ter consciência do seu papel dentro desta mudança. Em que a gestão e o gerenciamento adequados dos resíduos iniciam-se na fonte geradora, para qual a PNRS estabelece a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

A especialista ressalta que no topo desta ordem de prioridade está a não geração numa sociedade onde a produção de bens e serviços acontece de forma acelerada e a vida útil do que se consome é cada vez menor. Ela cita que dentre os princípios fundamentais da Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB) tem-se a universalização de acesso e a integralidade na prestação dos serviços de saneamento básico e inclui-se em serviços públicos de saneamento básico a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos.

Sobre a coleta, destino e tratamento do lixo na capital, Adjane observa que Goiânia possui coleta convencional de resíduos sólidos urbanos, e coleta diferenciada de resíduos recicláveis e resíduos de serviço de saúde. Ela considera que no geral o serviço é realizado de maneira eficiente. “Quanto a destinação do resíduo, o material reciclável é encaminhado a cooperativas de catadores de materiais recicláveis, os resíduos de serviço de saúde são encaminhados para tratamento em Ceilândia e os demais são dispostos em aterro municipal”.

Dentre os principais desafios enfrentados ela destaca a questão da vida útil do aterro municipal, uma vez que não há áreas adequadas dentro do município para a construção de um novo aterro, a implementação do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) e educação ambiental eficiente para conscientização e participação do cidadão no processo de gestão dos resíduos sólidos.

“A nível local, a solução é seguir a ordem de prioridade da gestão e gerenciamento de resíduos sólidos: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Se nada for feito a situação poderá tornar-se insustentável, devido ao volume, ao risco que o resíduo representa e a ausência de espaço para armazenar tudo o que geramos e a toda matéria e energia que desperdiçamos diariamente”, alerta.

A arte da sobrevivência dos catadores

Em um mercado de trabalho excludente a arte da sobrevivência se recria a cada dia. Os catadores de material reciclável são exemplo de trabalhadores que criaram alternativas para sobreviver com uma atividade que fornece benefícios importantes à sociedade. Com a reciclagem dos resíduos sólidos urbanos, resultantes da atividade doméstica e comercial da cidade mais de 300 famílias em Goiânia sobrevivem atuando nas 15 cooperativas do município.

Para a catadora Claudiana Viana de Lima, 29 anos, o trabalho realizado pelas cooperativas representa uma alternativa para os desafios da coleta, destino e tratamento do lixo na capital. “A gente faz um trabalho de formiguinha, se não fosse as cooperativas Goiânia estaria amontoada em um monte de lixo. Acredito que tanto a população quanto os poderes públicos poderiam dar mais atenção para o trabalho realizado pelas cooperativas”, diz.

Claudiana e mais 18 cooperados fazem parte da Associação Beija Flor de onde tiram renda para sobreviver. Ela explica que apesar dos esforços para o alcance de uma boa renda no final do mês, nem sempre isso é possível. “Antes de realizarmos o rateio do lucro, no final do mês, temos que arcar com o pagamento do aluguel do local, as refeições, as despesas de água, luz e contador. Para, finalmente, após tiradas todas as despesas o que sobrou é rateado entre todos os cooperados”.

A jovem acredita que os resultados, na coleta de material reciclável na cidade, poderiam ser melhores, caso chegasse até as cooperativas a real demanda de material reciclável produzido em Goiânia. O que, de acordo com ela, não ocorre por falta de mais veículos coletores para atender todas as regiões da capital e ainda devido ao desperdício causados pela população na hora de separar os resíduos.

“Acredito que por parte da prefeitura eles deveriam organizar mais a circulação de caminhões para realizar o trabalho de coleta, porque existem poucos realizando esse trabalho. Vejo também a necessidade da Amma investir mais na parte da educação ambiental promovendo a conscientização da população sobre o papel de fazer o descarte do lixo de maneira correta em que possa ser reaproveitado, evitando o descarte nos lixões”, aponta.

Claudiana tem um sonho de estudar e contribuir, de alguma forma, com o resgate e equilíbrio do meio ambiente. “Quero fazer gestão ambiental para que eu possa contribuir mais com essa questão do meio ambiente. Tem dois anos que estou aqui, vir por uma brincadeira e acabei gostando desse trabalho, da importância e responsabilidade que a gente tem para mudar essa realidade. Ter uma graduação me possibilitará criar projetos de melhorias para o meio ambiente”, conclui.

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