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A sensível e visceral, Maysa

"Maysa é um símbolo de ressurreição. Quem já se reergueu várias vezes das cinzas sabe como é, ao mesmo tempo, difícil e impossível a própria reconstrução".A frase é da escritora Clarice Lispector e, talvez a melhor para resumir a vida e obra da cantora e compositora Maysa. Pois, com a mesma coragem que exprimia o próprio desmoronamento, ela também levantava. E, neste meio tempo também tratava de se tornar uma das maiores vozes da música romântica nacional.

Como não é possível vencer sempre. No dia de hoje, de 1977, não foi mais possível para esta cantora intensa, dramática e sedutora levantar. Há 39 anos, ela deixava este mundo - que tanto caia -, após sofrer um acidente automotivo, na ponte Rio-Niterói, enquanto voltava do casamento do seu filho, o hoje diretor de telenovelas e filmes Jayme Monjardim.

Assim como terminou, a vida de Maysa foi marcante. Nascida em "berço de ouro", Maysa, era quase uma garota típica rica da década de 50. Neta do Barão de Monjardim - que foi presidente da província do Espírito Santo por cinco vezes -, estudou no tradicional colégio paulistano Assunção, no Ginásio Ofélia Fonseca e no Sacré-Cœur de Marie, em São Paulo.

Casou cedo, aos 18 anos, com o empresário André Matarazzo, foi assim que se tornou dona do imponente sobrenome: Maysa Monjardim Matarazzo. Mas a vida de casada era pouco para esta artista, que não podia guardar sua voz poderosa, apenas para si. Dessa forma, nas festas de sua família, sempre que possível soltava a voz e, foi assim, que em um uma bela noite, se tornou, simplesmente, a Maysa.

"Minha carreira começou em São Paulo, em uma festa na casa do meu pai. Lá havia donos de gravadoras e eu estava grávida, cantando feita louca músicas minhas. Aí me convidaram para gravar um disco. Quando Jayminho nasceu eu gravei um disco com músicas e letras minhas. Gravei Meu Mundo Caiu,Tarde Triste", contou ela em uma entrevista.

O repertório foi um sucesso, ela recebeu inúmeros convites para shows. Seu disco vendeu milhares de cópias. Sua voz grave e letras melancólicas a transformaram na estrela dos desiludidos do amor. “Canto porque sou uma angustiada", disparou em um dos shows que fez no Cassino Estoril, em Portugal.É fato que Mayse, muitas vezes mostrou sua personalidade temperamental. Uma vez revelou ao jornal O Pasquim que chegou a jogar o microfone na cabeça de um espectador, que insistia em fumar charuto próximo ao palco.

Com todas suas peculiaridades longas turnês pelo país, América Latina e Europa. Foi ainda a primeira brasileira a se apresentar no Japão. Já na década de 70, Maysa se aventurou pelo mundo das telenovelas e do teatro participando de produções como O Cafona, Bel-Ami e o espetáculo Woyzeck de Georg Büchner.

Vida pessoal


Permeada por diversos romances, viagens, excessos de álcool e  controladores de apetite, a vida Maysa, sempre foi alvo de curiosidade. Logo, já foi retratada em biografias, como Maysa, Uma Multidão de Amores (2007), escrita pelo jornalista Lira Neto.Por outro lado, foi a mais popular minissérie Maysa Quando Fala Um Coração, exibida em 2009, na  Globo, a grande responsável por apresentar seu jeito de viver e talento às novas gerações. Nesta produção, Larissa Maciel deu vida, de forma emocionante, a cantora.

Se tratando de romances, Maysa viveu vários. Embora seu casamento com André Matarazzo não tenha resistido ao sucesso – durou apenas dois anos -, ela viveu intensamente outros amores, que muitas vezes se tornavam público.Um de seus lendários romances aconteceu, inclusive, com o compositor sedutor Ronaldo Bôscoli (na minissérie, ele foi vivido por Mateus Solano), que também se relacionou com outras icônicas cantoras, a exemplo de Elis Regina e Nara Leão.

Suas noitadas, os excessos com a bebida alcoólica e os moderadores de apetites, também se tornaram públicas. Talvez por isso, passou ainda vários períodos de depressão e também em clínicas de desintoxicação.

No final da sua trajetória, a cantora viveu isolada em sua casa de praia em Maricá, desde 1972, em depressão. Em uma de suas últimas anotações, registrou: “Hoje é novembro de 1976, sou viúva, tenho 40 anos”. Um ano mais tarde, sua voz se calaria para sempre.

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