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O fim do mundo passaria na TV?

Caso todas as previsões estivessem corretas o mundo já teria chegado ao final umas quarenta vezes. Premonições de uma velha cigana, teorias escondidas nos livros de Einstein e até invasões alienígenas foram levadas a sério. O cenário apocalíptico de final do mundo é o tema do novo filme do coletivo Cabeça de Câmera. O curta-metragem “Ensaio Sobre o Fim do Mundo” estréia nesta segunda-feira no Cine Cultura e tem roteiro de Getúlio Ribeiro. O coletivo é formado por estudantes da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e outros artistas da área do audiovisual.

De acordo com um dos diretores do curta-metragem, Samuel Peregrino, o filme retrata a mídia no meio de um cenário de fim do mundo. A ironia fica quando se compara as notícias transmitidas nesse universo fictício e o que é passado atualmente.

DmRevista -você começou a trabalhar com audiovisual? Fale das primeiras experimentações até o primeiro filme.

Samuel: Sempre abandonei as faculdades porque não havia em Goiás o curso que pudesse me aproximar do cinema, foi quando em 2013 me inscrevi para o vestibular na UEG quando vi a opção para Cinema e Audiovisual, a nova nomenclatura do antigo curso de Comunicação Social com habilitação em Audiovisual criado em 2006. Engraçado que ainda em 2013 assisti o filme do Getúlio Ribeiro (aluno) "O que aprendi com meu pai" na Mostra Trash de filmes independentes, o que me fez interessar ainda mais pelo curso.

Só no primeiro ano no curso de Cinema e Audiovisual pude experimentar e praticar nas produções proporcionadas como atividades práticas das disciplinas. Nossas primeiras produções foram os curtas-metragens "A última aposta" e "Dejejum", filmes que tivemos total liberdade para exercitar o conhecimento teórico e as ricas referências apreendidas pelos professores. O curso nos proporciona uma boa oportunidade prática e os equipamentos necessários para uma produção com qualidade, mas as parcerias e amizades que você consegue lá é o que mais importa.

Jônatas: No primeiro ano da faculdade produzimos um filme para a matéria de produção, e essa foi minha primeira experiência, nunca tinha estado em um set antes, com o decorrer do tempo fui participando de outros projetos acadêmicos, fiz som em alguns projetos e dirigi um videoclipe da banda The Galo Power.

DmRevista -O coletivo Cabeça de Câmera é de quando? Conte um pouco do seu surgimento.

DmRevista -Como é trabalhar cinema em coletivo? Quais são as facilidades e dificuldades que vocês encontram?

A maior dificuldade que todo o profissional do cinema enfrenta em Goiás, é a falta de continuidade no mercado de trabalho, em parte, devido à falta de comprometimento e respeito dos gestores culturais com o cronograma e verbas vias editais estaduais como o Fundo de Cultura e a Lei Goyazes. Ainda aguardamos resultados desses editais que já deveriam ter saído segundo o cronograma estabelecido. Por outro lado, essa dificuldade nos deu a oportunidade de buscarmos outros mecanismos de financiamento para nossas produções, como o patrocínio com empresas locais e parceiros que acreditaram no projeto como a Universidade Estadual de Goiás, Amperco, Tributária, Imageria, Via Terra Jeans, Dafuq Filmes, Noizes e outros.

DmRevista -O filme "Ensaio sobre o fim do mundo" vai fundo na ficção científica. Qual é a principal discussão que o filme proporciona?

O roteiro do Getúlio é genial! Quando li pela primeira me chamou a atenção a  metalinguagem e as múltiplas camadas das tramas que dialogam de uma forma muito original. Pra mim, o elemento que mais se destaca é a passividade dos personagens diante de uma mídia apocalíptica. De alguma forma, essa é uma crítica presente no filme, a alienação diante das catástrofes noticiadas nos telejornais, cada vez mais se confundindo entre o real e a ficção. Mas não é um filme facilmente digerido. Ele te joga pra lá e pra cá, brincando com dicotomia entre a verdade do fato noticiado e o fantástico.

Onde foram feitas as gravações? Como foi o trabalho de produção do filme?

Esse meio é muito competitivo, o que leva há certo distanciamento por parte de alguns, mas quando as pessoas acreditam no seu trabalho elas se envolvem totalmente e colaboram para que a ideia se torne melhor. Quero trabalhar novamente com todos quando tiver grana pra pagar um cachê merecido. Somos muito gratos por todos!  Se todos  nós que fazemos cinema em Goiás, pensássemos  e agíssemos de forma coletiva, já teríamos um movimento consolidado por aqui, sem ego, sem neura, pelo menos, divulgando e compartilhando as produções de colegas.

DmRevista -O que vocês esperam alcançar com o lançamento do filme? Quais os próximos objetivos do coletivo?

Trazer visibilidade para o "cinema de gênero" (como já ouvi muita gente dizer por aqui e até hoje não sei o que significa, rsrs) . Na real, nosso objetivo é divulgar nossas produções em tudo que é meio, festivais, cinemas, mostras, cineclubes, TV e via Streaming. Os prêmios podem vir (como já vieram), mas o que importa mesmo, é o público, aquele comercial mesmo, que paga pra se divertir, que não vive sem assistir filmes e séries. Queremos mostrar que o cinema goiano existe e só precisa de visibilidade e oportunidade para que volte ao circuito comercial como nos anos de João Bênnio, precursor do cinema em Goiás.

Este ano vamos produzir a MIB (Mostra Independente no Beco). Dois dias de exibições  no Beco das Codornas no Centro, de vários curtas-metragens de qualquer lugar do planeta produzidos independentemente, sem grana de editais de governo, além de oficinas de audiovisual para alunos da rede pública.

Estamos em pré-produção do curta-metragem "Pós Tropical" do Pedro Gomes. E para o próximo semestre, vamos produzir o curta-metragem "Vinco" do Gustavo Furtado e meu documentário "Sem grana pública... E agora, Cinema?"

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