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A cidade portuária de Goiás

As primeiras habitações da região onde hoje localiza-se o município de São Simão, no extremo sul de Goiás, surgiram devido ao garimpo de diamante, no início da década de 1930. O povoado começou a surgir às margens do Rio Paranaíba, na divisa entre os estados de Goiás e Minas Gerais, após a construção da Ponte dos Arcos, em 1935. Ela foi erguida no canal natural do Rio Paranaíba, uma peculiar formação geológica, que tinha cerca de 40 metros de largura, formada por um brusco estreitamento do Rio, que chega a mais de um quilômetro de largura em seu curso natural. Em 1975, com a construção de uma barragem, a antiga São Simão foi inundada, e a cidade que existe hoje representa esperança e a modernidade aguardada pelos moradores que persistiram.
O interesse da Cemig em construir uma barragem que inundaria para sempre o Canal de São Simão surgiu ganhou força nos anos 1970. Hoje, São Simão conta com cerca de 20 mil moradores. A cidade possui uma infraestrutura concisa, com um aeroporto, quatro pequenos portos em operação e um pátio da Ferrovia Norte-Sul. Segundo moradores, destaca-se nacionalmente na distribuição de merenda escolar, e recebe anualmente um festival gastronômico que reúne visitantes de várias regiões de Goiás, Minas Gerais e do restante do país. Hoje, no lugar do canal, está a Praia do Lago Azul. Contraditoriamente, um dos problemas enfrentados pela população, mesmo com a barragem construída pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), é a falta de água tratada.
Os relatos contam que nos períodos de estiagem do Rio Paranaíba, é possível visualizar alguns resquícios da “São Simão velha”, como a ponta da antiga Igreja Matriz. A nova Igreja Católica do município, localizada na praça central, possui arquitetura incomum comparada às igrejas do interior de Goiás. Moradores contam que o formato da Paróquia São Simão teve influência de um padre italiano. A antiga Ponte dos Arcos já havia sido substituída por outra, com outras características visuais, depois de não resistir a uma cheia do Paranaíba no ano de 1957. Uma réplica em miniatura da ponte original, colocada na praça principal da cidade, faz referência ao passado histórico de São Simão. O antigo canal também está representado no paisagismo da mesma praça.
Economicamente, o Complexo Portuário de São Simão exerce um importante papel no escoamento da produção agrícola do Estado de Goiás. Segundo o painel A Importância do Porto de São Simão Para a Economia Goiana, produzido por três alunos do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, as hidrovias surgem como uma alternativa aos percalços encontrados em ferrovias e rodovias, como o alto custo de transporte por tonelada. “Com o aumento, nos últimos anos, significativo da produção do Sudoeste de Goiás, há a necessidade do escoamento desses produtos para mercados consumidores como o Sudeste brasileiro e para o porto de Santos e deste para o mundo. A hidrovia cumpre assim, um papel fundamental de ligação e inserção na economia global”, expõe o painel.

Canal de São Simão

As belezas naturais da região de São Simão antes do represamento das águas do Rio Paranaíba eram regionalmente conhecidas e frequentadas por um pequeno número de turistas. O documentário Adeus, São Simão, dirigido por Mário Kuperman, em 1977, retrata os últimos momentos do antigo povoado antes da inundação. “As águas que correm por um leito com mais de 1200 metros de margem a margem, lançam-se em um canal de apenas 40 metros de largura. As cachoeiras se sucedem em ambos os lados do canal numa extensão de dois quilômetros, formando um espetáculo único constantemente renovado conforme as cheias e as vazantes do Rio”, conta o narrador. Esse extinto paraíso natural foi formado durante milhões de anos, devido à infiltração da água nas rochas.
Era caracterizado por incríveis rochas em formatos quase geométricos, modelados principalmente em basalto, minério predominante na região. “A possibilidade de se obter energia hidrelétrica a baixo custo represando as águas do Rio Paranaíba impulsionou o início das obras da Usina de São Simão”. A cidade de Ituiutaba, em Minas Gerais, que conta com mais de 100 mil habitantes, é hoje uma das principais consumidoras da energia elétrica produzida pela Usina. “Com a formação da represa, duas cidades goianas, sedes dos municípios de São Simão e Paranaiguara irão desaparecer. As novas cidades já estão sendo construídas, e parte de sua população começou a mudança bem antes da chegada das águas”, narra o documentário de 1977.

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