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Negra Inocência

As questões que envolvem a mulher negra formam pautas de extrema complexidade. Socialmente, financeiramente, sexualmente as mulheres negras ocupam as posições de maior vulnerabilidade. Com uma breve análise estatística pode-se observar a gravidade da questão. Por exemplo o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54% em 10 anos (de 2003 a 2013), enquanto que o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período. Ou seja, com todas as ações e discussões a respeito de gênero na atualidade, essa luta não contempla essas mulheres.

Um outro ponto de extrema importância nas discussões de gênero e raça é a forma objetificada que as mulheres negras são vistas pela sociedade. Um triste legado da escravidão faz com que mulheres negras permaneçam sendo vistas como objetos sexuais dos “senhores”.

Esse fato foi estudado pelo The Georgetown Law Center on Poverty and Inequality, que estuda questões de pobreza e desigualdade. O Georgetow Law trabalha com pesquisas, profissionais e militantes para desenvolver políticas e práticas eficazes que diminuam a pobreza e a desigualdade nos Estados Unidos.

O estudo em específico apresenta que crianças negras do sexo feminino são vistas de forma menos inocente que meninas brancas. Ou seja, às meninas negras não cabe nem a inocência da infância dentro de uma sociedade racista. De acordo com uma das autoras do estudo, Rebecca Epstein, a diferença do olhar social é muito diferente considerando a raça das crianças: “Em essência, adultos parecem ter diferentes visões e expectativas em relação às meninas negras, especialmente na metade da infância e começo da adolescência, épocas muito críticas em termos de identidade para essas garotas”.

A pesquisa usou como base entrevistas com 325 adultos de várias etnias, escolaridade, residentes em várias regiões americanas, sendo 74% dos entrevistados pessoas brancas, 62% mulheres e 30% entre 25 e 34 anos de idade. Epstein aponta a distorção que foi observada durante o estudo: “Meninas negras precisam de menos proteção, acolhimento, são mais independentes e sabem mais sobre sexo do que as meninas brancas”, na visão dos entrevistados.

A página Mundo Negro aponta que esse estudo a respeito de estereótipo pode ser relacionado com outros dados que apontam o sistemático “roubo” da infância negra. “Esse estudo coincide com outro dois. Um que mostra que garotas negras sofrem mais punições e expulsões na escola do que as brancas e outro que aponta que meninos negros com 10 anos tendem a ser vistos como mais maduros quando julgados pela justiça, o que resultam em uma maior taxa de prisão quando eles são suspeitos de estarem envolvidos em algum crime”.

Todos estes reforços de estereótipo durante a infância se desdobram em uma série de questões de desigualdade, como: a objetificação das mulheres negras, o fato da maioria dos estupros ter mulheres negras como vítima (62%), o já mencionado feminicídio negro e as taxas de gravidez de adolescentes negras. Já falando de crianças negras de ambos os sexos, essas práticas racistas sistemáticas influenciam até na pressão social pela redução da maioridade penal. Este pensamento foi resumido em uma crítica que se espalhou pelas redes sociais. “Garotos brancos são só garotos, mas garotos negros sabem muito bem o que estão fazendo.”

O novo relatório revela o que os adultos pensam   a respeito de crianças negras do sexo feminino:

-As garotas negras parecem mais velhas do que garotas brancas da mesma idade.

- As garotas negras precisam de menos nutrição do que as garotas brancas.

- As meninas negras precisam de menos proteção do que as garotas brancas.

- Meninas negras precisam ser apoiadas menos que garotas brancas.

- Meninas negras precisam ser confortadas menos do que garotas brancas.

- As meninas negras são mais independentes que as meninas brancas.

- As meninas negras sabem mais sobre assuntos adultos do que garotas brancas.

- As meninas negras sabem mais sobre o sexo do que as garotas brancas.

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