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OPINIÃO

O que é a vida feliz?

A vida, assim podemos definir, é um espaço de tempo entre o nascer e o morrer. Simples definição. Mas a vida vai muito além desta simples definição, do nascer ao morrer.  Existe vida na vida e é neste espaço de tempo que ela acontece, ganha sentido por aquilo que se pensa, por aquilo que se faz e mesmo por aqui que se deixa de fazer.

Este espaço de tempo é um espaço de descobertas, de sonhos, ambições, desejos, frustrações, tristezas, agonias, perdas e tudo que move a vida.

Neste espaço de tempo a busca pelo sentido da vida, da própria existência inquieta corações. Qual o propósito da existência, qual o propósito da minha vida? E uma das questões mais pesquisadas, estudadas e obviamente desejadas, a felicidade. Existo para ser feliz. As escrituras sagradas afirmam está possibilidade, Jesus chama de bem-aventurados. Ou seja, mais do que felizes. Então é claramente possível ser feliz.

Se é possível uma vida feliz, e a resposta é sim, outro questionamento surge. O que é a felicidade ou o que é uma vida feliz?

A felicidade se tornou objeto de comércio. Vende-se a felicidade nas academias de musculação onde o corpo ideal vai produzir o estado tão sonhado de felicidade. Vende-se a felicidade nas clínicas de estética, outra porta para a busca pela satisfação nomeada por felicidade. Ambos os exemplos buscam na aparência física, exterior, o sentido para uma vida feliz, mas a felicidade é um reflexo do intimo, do ser enquanto alma, psique. O externo simplesmente apresenta o que no interior do ser existe. Vale ressaltar que não tenho nada contra as academias, que produz um bem estar enorme isto é inquestionável. O exercício físico é de extrema importância para a manutenção da saúde física e mental. Dentro de toda uma cautela também não há problema em buscar na estética uma ajuda para melhorar a auto-estima se caso for. Mas não como uma forma de encontrar a felicidade, pois esta vem de dentro para fora.

Outro grande engano e muitos se agarram com unhas e dentes a ele é o status. O ter é o que importa, o ter mostra quem se é. A sociedade de foram geral cobra e estimula pensamentos e ações neste sentido. Conquistar, crescer, possuir. A vocação é deixada de lado e o que importa é aquilo que trará retorno e acrescentará um status social. Marx afirmou, a desvalorização do mundo humano cresce em razão direta da valorização do mundo das  coisas.

Isto abre portas para muitas angústias, ansiedades, aflições no mundo interior, na alma, e muitos por essa pressão estão sucumbindo quando não se alcança aquilo que seria o ideal de felicidade.

Alguns apostam no matrimônio, descansam seus anseios e sua busca por felicidade em terceiros. Porém a vida é em primeiro lugar própria, individual, de forma que se eu não me encontrar, dificilmente serei mais ou menos feliz no encontro com outra pessoa. Não dá para medir assim, criar uma expectativa que é própria em outro.

Relacionamentos felizes em geral são possíveis por pessoas que sabem o que é viver este estado consigo mesmo em primeiro lugar e assim consegue partilhar fazendo da relação um ambiente de satisfação e completude, uma relação harmoniosa e feliz.

As várias religiões vêm com a proposta de fazer a felicidade acontecer. De conduzir a vida de seus fieis a uma vida feliz. Mas não há nenhuma garantia em si. A religião tem seu papel importante na sociedade, através de suas variadas instituições prestam um serviço salutar. Mas observe bem, religião, religare, religar o homem a Deus. Só o fato de ser religioso não significa um encontro com a felicidade, no sentido religioso o encontro com a vida feliz é sim um encontro com o dono da vida feliz, o próprio ser e Deus.  Religiosidade por religiosidade não mudará nada, ou muito pouco.

Não se pode esperar uma vida feliz exterminando o que não produz felicidade. Na vida vamos encontrar as mais diversas situações que não tem o menor propósito de proporcionar um estado feliz. Palavras de Jesus: no mundo tereis aflições.

Vida plena não significa estar imune, isento de dores e sofrimentos que são próprios da vida.

Paradoxalmente a vida tem a morte, e claro vamos viver momentos de partida, separação dor choro, tristezas. Perdas materiais, físicas, emocionais estarão eventualmente diante de nós.

Afinal e a tal vida feliz então?

Termino esta reflexão com um pensamento do professor Clovis de Barros Filho, professor de ética da USP e que tenho tido o prazer e a felicidade em acompanhar suas aulas.

Diz o professor: “A felicidade é aquele instante de vida que você não gostaria que acabasse.”

Poderíamos nos perguntar, qual é o instante de vida que não gostaríamos que acabasse? Este é o ponto da felicidade tão almejada. Este é o ponto da vida feliz. Este é o ponto que a vida faz sentido.

Este instante se dá a partir de um encontro real com Deus e suas promessas em primeiro lugar, não é possível ser feliz sem Deus, não é possível desassociar-se do criador, a vida começa a fazer sentido em Deus através da fé.

Este instante de vida que não gostaríamos que acabasse se dá nos pequenos detalhes, naquele passeio no parque com os filhos, a família. Naquele encontro com os amigos, no bate papo da esquina, no desempenho das tarefas e profissões escolhidas para a vida, na vocação. Este instante de vida pode se dar por um encontro inesperado, por momentos não programados, e claro este instante de vida que gostaríamos que não acabasse se dá quando propomos vive-los, ser feliz é uma escolha também, escolher ser e fazer feliz. Escolher fazer pessoas felizes vai produzir este estado intenso de prazer e o instante precioso que não queremos que acabe.

Qual é o instante de vida que não gostaria que acabasse? Aí está a vida feliz.

(Flávio Martins Cardoso, pastor da 1ª Igreja Batista Independente em Anápolis-GO, estudante de Sociologia e História – Unip, capelão pela Aliança dos Capelães do Brasil - [email protected])

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