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OPINIÃO

Raciocínio e intuição se completam?

Em recente artigo do psicólogo José Geraldo Rabelo, que escreve neste jornal (ver edição do dia 11 de maio de 2015), faz ele uma interessante análise psicológica da intuição. Refere-se ele à intuição como um sexto sentido, dando a entender que é uma forma de mediunidade. É como dizer que a intuição é a capacidade de apreender a realidade e não de explicá-la racionalmente.

Sintetizando seu raciocínio, dir-se-ia, por outras palavras, que a intuição é uma conquista que enriquece o superconsciente antenado com as fontes geradoras da vida. Nesse sentido, uma das funções da psicoterapia holística seria despertar o ser humano para a realidade transcendental, mostrando-lhe valores nobres adormecidos, mediante os quais possa identificar-se realmente com a vida como manifestação do todo, da unidade universal.

Na série de artigos que publicamos sobre crianças índigo com base no livro Aprenda a educar a criança índigo, de Barbara Condron (São Paulo: Butterfly, 2008), por um lapso, deixamos de apresentar, na sequência, importante tema que diz respeito à relação raciocínio/intuição, que é objeto deste texto, reportando-nos à experiência pedagógica desenvolvida na Escola Metafísica de Missouri (EUA), conforme referenciada pela autora da citada obra.

Em sentido comparativo com as filosofias geralmente aplicadas nas escolas, é sem dúvida enriquecedora a contribuição de Barbara Condron, mostrando que educar a criança é antes educar sua forma de pensar e de perceber a realidade numa visão holística e não meramente setorizada.

Raciocinar não é apenas desenvolver o pensamento lógico. É pensar holisticamente, de forma abrangente, numa atitude mental que envolva razão e intuição. Raciocinar é conectar-se com o todo e perceber a articulação entre suas partes. É descobrir a interatividade entre fatores objetivos e valores subjetivos. Vivemos em um mundo de valores e fatores que devem ser equacionados nas operações de nossa inteligência. A inteligência não pode ser mecânica nem separada da sensibilidade. O mecanicismo das ações humanas em nada contribuiu para a evolução da humanidade.

Adverte Barbara Condron, no livro que estamos seguindo: “A indiferença desconecta a humanidade. E a humanidade é necessária para alguém que raciocina e quer evoluir. A humanidade fornece a base para uma conexão baseada no coração, onde respeito, amor, preocupação, perdão, tolerância, generosidade e prosperidade podem nascer.”

No plano educacional, enfatiza a autora de Como educar a criança índigo: “Para a criatividade individual se misturar à criatividade global, para o estudante descobrir sua paixão e viver com ela, é preciso experimentar a liberdade. Racionar requer concentração, atenção sustentada pela vontade. Experimentar a liberdade para completar o que se iniciou encoraja a responsabilidade individual.”

A responsabilidade individual deve estar ligada aos valores sociais estabelecidos e nesse sentido as escolas deveriam ser o espaço ideal para o exercício da inteligência coletiva. O problema é quando a escola está voltada para os fatores externos e não investe nos valores da subjetividade, para que o indivíduo descubra a si mesmo. “Para que uma pessoa aprenda a conhecer a si mesma, precisa de tempo para estar consigo mesma e com os outros.”

Barbara Condron critica o modelo atual de escola que separa as crianças por idade, tornando assim sua comunidade mais limitada, visto que poderiam as mesmas crianças conviver com outras mais experientes no seu grupo. Assim afirma, amparando-se no ponto de vista de estudiosos, a exemplo de John Taylor Gatto, o qual também entende que agrupar crianças por idade não é natural: “Quando elas têm a oportunidade de interagir com crianças mais novas, ajudam-nas, ensinam. Quando têm chance de ficar com adultos, aprendem com a experiência dos mais velhos.” No caso da escola, é claro, sob a coordenação e supervisão dos educadores.

Tais observações se aplicam notadamente à educação das crianças índigo, que devem estar integradas a um grupo em que as pessoas aprendam a viver juntas, sem discriminação por idade, o que proporciona a troca de experiências, dando e recebendo conhecimento e sabedoria. Ligado a esse modelo de convivência, poderíamos pensar numa comunidade indígena, em que as crianças participam de todas as atividades da tribo e são educadas dentro da mesma escala de valores. Nesse contexto o raciocínio se desenvolve não mecanicamente, mas intuitivamente, projetando o indivíduo, ao mesmo tempo, para o mundo exterior e interior.

Intuição e apreensão

Barbara Condron define intuição como apreensão direta da verdade. É o produto do raciocínio aplicado para compreensão de uma verdade maior, independente de uma função lógica. Muito mais que um sexto sentido – diz ela – a intuição é o benefício dos sentidos comparáveis da alma. É portanto o reino da alma, que nos aproxima do Criador. Temos uma mente consciente e uma mente inconsciente: nesta reside o conhecimento intuitivo acumulado e disponível, quando ouvimos uma voz interior.

Intelectualmente, os indivíduos se veem analisados e julgados como objetos. Intuitivamente, são tratados como pessoas e se entendem como espíritos. Ver o outro como espírito é apreender sua verdade maior. Nesse sentido cada comunidade humana torna-se uma família amplificada em que todos se sintonizam por afinidade como parte de um todo harmonioso.

As crianças índigo são mais maduras que outras de sua idade, têm escolhas e anseios diferentes das demais, sabem por intuição o que queremos lhes dizer e nem sempre têm paciência de nos ouvir até o final. A lição maior que os pais possam transmitir aos índigos é o bom exemplo, atitudes e não palavras, compreensão e não recriminação, amor e não castigo, espelhando seu self que eles assimilam espiritualmente.

Toda criança se sente magoada por promessa não cumprida, podendo perder a fé e a confiança nas pessoas que lhes servem de referência e com as quais mantêm sintonia pelos pensamentos. Essa é a força de que precisa para desenvolver seu próprio modelo de comportamento. Retidão, verdade, compromisso, responsabilidade, coerência e dedicação são valores essenciais na formação da personalidade de toda criança.

Essa sintonia de valores cultivados em família é que a autora em foco chama de educação parental consciente. Essa educação envolve fatores físicos, mentais e emocionais que, se não considerados em conjunto, geram desequilíbrio. Por exemplo, alimentação na forma correta e na hora certa, é essencial à saúde física. Assim também o equilíbrio mental e emocional é essencial para o equilíbrio psicológico, sem o que a criança desmantela sua estrutura íntima. A desorganização dos pais reflete nos filhos. Por sua vez, a mente não se alimenta apenas de conceitos, mas de valores vivenciados. Fundamental é o exemplo. É pela ação mental que a habilidade intelectual se desenvolve conscientemente.

Toda criança educada dentro do princípio “mens sana in corpore sano”, tende a ser emocionalmente sadia. Independentemente de cultura intelectual, as pessoas mais simples podem saber tudo isso que foi dito, por intuição, bom senso e sabedoria existencial. Na prática de vida, ao invés de os adultos educarem intuitivamente as crianças, preferem submetê-las a seus ditames convencionais. Ao invés de entrarem no seu ritmo mental ou físico, preferem induzir as crianças a acompanharem seu próprio ritmo. Geralmente se veem adultos arrastando literalmente crianças pelas ruas, mesmo quando os pequeninos esperam o socorro de uns braços generosos. De outra parte, muitos pais ou mães tomam posse de seus filhos como se fossem suas propriedades. Ignoram que foram escolhidos para lhes servirem e não para servir-se deles como forma de autoafirmação.

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa)

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