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OPINIÃO

Sou pérola negra, orgulhosamente brasileiro afrodescendente

As professoras ensinaram-me a ver a história da libertação dos escravos no Brasil de maneira que me levavam a acreditar em um gesto benevolente da princesa Izabel, como se fosse um favor dos brancos aos negros. Na ocasião não entendi o que de fato aconteceu. Revendo a história, hoje compreendo que aquela abolição sem dar condições de dignidade ao negro, deu início a marginalização dos antes escravizados, que foram trazidos de suas terras e foram mantidos em cativeiros, só para trabalhar, sem remuneração e sem poder estudar, e, de repente se viram livres dos grilhões, mas, sem lar, sem cultura e sem emprego. A verdade é que o fim da escravidão foi conseguido pelos próprios escravos, que em nenhum momento durante o período colonial e imperial deixaram de lutar contra a escravidão, a conquista da liberdade é fruto de muita luta e sacrifício. Zumbi dos Palmares, falecido em 20 de novembro de 1695, é um dos principais símbolos da resistência negra contra a escravidão negra no Brasil. A fama e o símbolo de resistência e força contra a escravidão mostrada pelos palmarinos fizeram com que a data da morte de Zumbi fosse escolhida pelo movimento negro brasileiro para representar o Dia da Consciência Negra, e é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, caracterizada pela intenção de procurar evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade. É bom lembrar que a resistência dos afrodescendentes não se fez apenas no confronto direto contra os senhores e forças militares, ocorreu também no aspecto religioso e cultural, como no candomblé, na capoeira e na música. Relembrar essas características culturais é uma forma de mostrar a importância dos africanos escravizados e de seus descendentes na formação social do Brasil.

Ao longo da história, os negros não foram tratados com respeito, passando por grandes sofrimentos. Foram escravizados para prestar serviços pesados aos homens brancos, tendo que viver em condições desumanas, amontoados dentro de senzalas. Vivendo em condições sub-humanas tiveram que se adaptar para sobreviverem, praticaram seus cultos religiosas às escondidas, desenvolveram remédios para seus males físicos e conseguiram manifestar suas alegrias com músicas e danças próprias, que ainda hoje são praticas neste país.

Os negros e seus descendentes continuem sendo maioria nessa luta por melhores condições de vida. Infelizmente a discriminação racial é um fato na sociedade brasileira que barra o desenvolvimento do negro e destrói a sua capacidade de realização. Estamos no século XXI, não dá mais para aceitar as condições em que vive o homem negro, sendo discriminado na vida social do país, vivendo no desemprego, subemprego e nas favelas. Não podemos permitir que o negro sofra perseguições constantes da polícia sem dar uma resposta. O preconceito e a discriminação persistem no Brasil e podemos comprovar sua incontestável existência mascarada, disfarçada e sutil, está claro que o racismo brasileiro é uma modalidade das mais difíceis de ser combatida, é imperativa a necessidade de uma consciência crítica capaz de desmascará-lo de uma vez por todas.

Negro também é capaz, não é coitadinho, apesar das dívidas históricas da sociedade brasileira, não precisa de favores, precisa ser tratado com respeito e justiça para que não seja jogado nas favelas, cortiços, alagados e invasões, empurrado para a marginalidade, a prostituição, a mendicância, os presídios, o desemprego e o subemprego, e tendo sobre si, ainda, o peso desumano da violência e repressão policial. Por isso se faz necessário, em toda a sociedade, a manutenção da luta  contra o racismo e toda e qualquer forma de opressão existente na sociedade brasileira, pela mobilização  e organização da comunidade, visando uma real emancipação política, econômica, social e cultural. Por tudo isso, meu desejo é gritar: “Sou pérola negra”, orgulhosamente brasileiro afrodescendente.

(Natal Alves França Pereira, servidor público, graduado em Ciências Contábeis, filiado à Associação Goiana de Imprensa)

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