Oposição por oposição?
Redação DM
Publicado em 22 de janeiro de 2016 às 22:29 | Atualizado há 10 anos
“Bolsa Família é um absurdo, o governo não deveria ficar sustentando vagabundo”, disse a filha do médico de renome que acabou de chegar do exterior por intermédio do Ciências sem Fronteiras. É contraditório que indivíduos que desfrutam de certas medidas sociais do governo sejam contrários a elas. Essa é a primeira característica do grupo que será analisado. Contradição e seletividade, isto é, para eles é lícito selecionar arbitrariamente o que é ou não certo, sem, é claro, responder a padrões de raciocínio. Exemplo disso é a famosa Maitê, recebe pensão militar, mas é contra o Bolsa Família. Este tem um custo inferior àquele, mas auxilia mais de 13 milhões de pessoas a mais. Qual é, exatamente, a lógica de ser favorável a um e criticar o outro?
A segunda característica interessante é o uso de frases desconexas de pessoas influentes, mas com ideologia que diverge nte. Exemplo é o “estocar vento” da presidenta Dilma, que foi totalmente descontextualizado e transformado em meme, como tentativa desesperada de prejudicar –mais ainda- a sua imagem. Outro caso recente é o corte feito em uma fala do deputado Jean Wyllys, de modo a parecer que ele disse que negros não podem ser cristãos, quando, na verdade, ele falava a respeito da importância das pessoas conhecerem as suas raízes históricas.
A desonestidade é tão grande que criam neologismos burros, terceira característica, unem ideologias completamente distintas a fim de formar uma palavra que sirva de insulto. Feminista (luta pela igualdade entre os gêneros) e Nazista (marcados por segregação e autoritarismos), são aglutinados formando “Feminazi”. Outros exemplos marginalizam as minorias sociais que lutam pelos seus direitos. Se o “nazista” pudesse ser usado para alguém aqui, certamente não seria direcionado para as feministas.
Além disso, o conservadorismo doentio como maneira de evitar alterações na sociedade incentivam o preconceito. É muito comum nesse grupo frases e ações relacionadas à xenofobia, sexismo, LGBTfobia e racismo. Não consigo apontar a origem do medo de que estes grupos conquistem seu lugar na sociedade. Qual seria o sentido de evitar que as pessoas sejam donas de si e possam escolher, sem afetar a vida de outrem, os seus próprios rumos?
O uso da religião como meio de justificar suas pretensões políticas é, também, muito interessante. A representação das mais diversas ideologias devem ser aceitas e devidamente debatidas, isto é indispensável em uma democracia representativa como a brasileira. Todavia, é importante ressaltar que o Estado é laico, sendo assim, os princípios e dogmas de religião alguma têm autorização para serem impostos sobre os demais cidadãos. Uma discussão interessante a esse respeito foi travada entre Marco Feliciano e Luciana Gimenez, ao ser questionado a respeito das orações feitas no Congresso, o deputado deu declarações pouco fundamentadas, impedindo que a apresentadora falasse, assumiu, inclusive, que ateus são “deixados de lado”, falou sobre países comunistas e disse que os candomblecistas podem ‘bater seu tambor no Congresso’, mas se eles tiverem número para isso.
A desonestidade intelectual desse grupo é assustadora. No início desse mês, Jair Bolsonaro fez um vídeo falando sobre como o MEC estava induzindo as crianças a fazerem sexo, culpava o PT e, como prova, apresentava um livreto que, segundo ele, seria distribuído nas escolas públicas. O vídeo se tornou um viral. Contudo, alguns problemas na ‘sólida’ argumentação do deputado apareceram:
1-O livro era de Portugal e nada tinha a ver com o MEC;
2-Não ficou clara a ligação que ele fez entre pedofilia e educação sexual;
3-Ele afirma que uma postagem do Humaniza dizia que pedofilia não era crime. Segundo a postagem: “O que caracteriza o crime não é a pedofilia, mas o ato de abusar ou explorar sexualmente uma criança ou um adolescente”. Isto é, pedofilia é um transtorno, nem todo mundo que explora sexualmente uma criança é pedófilo, mas isso não desconfigura o crime.
4-Jair disse que a educação na ditadura militar era boa. Em momento algum ele cita o sucateamento, feito pelos militares, das Ciências Humanas. Há uma música do Gabriel Pensador que retrata um recorte da problemática da educação, o decoreba: “Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova. Decorei toda lição. Não errei nenhuma questão. Não aprendi nada de bom, mas tirei dez”.
5-O MEC se manifestou desmentindo toda a história.
Se, no decorrer do texto, exemplos não tivessem sido citados, poderíamos pensar que ele tratava o Tea Party, grupo político radical norte americano que faz uma oposição burra ao governo Obama. Mas não. O grupo citado é parte da extrema direita brasileira –e fatia considerável dos movimentos ‘apartidários’.
Algumas pessoas que abraçam a “viralatização” do país poderiam dizer que ‘o Brasil é assim mesmo’. Ele não é assim. Por mais que indivíduos fascistas estejam influenciando a opinião pública, cresce na sociedade o engajamento político, principalmente entre os jovens. Com isso, a consciência de classe, valores de igualdade e até mesmo uma oposição fundamentada são formadas e, aos poucos, ganham espaço. A batalha de Verdun será continuamente relembrada: “Não passarão”. Quem? Fascistas, preconceituosos, inimigos da democracia.
(Arthur Santana, estudante do curso Letras Português-Inglês)