O estado de “repouso” do ser humano me incomoda. Mas isso não significa que eu seja um maluco, desses que passam o dia todo ligado no “220”, embora minha mãe me conte inúmeras histórias de quando eu era criança, que segundo ela, eu só parava quieto na hora de ir dormir.
Um bom filme, pipoca e chá é um bom programa nesses dias chuvosos. Ainda assim, isso me incomoda. A necessidade de fazer “algo”, sempre ressoa mais alto. Olho para as minhas ferramentas e a vontade de fazer um reparo em casa surge. Olho para o cachorro e me dá vontade de dar uma volta no quarteirão, para o desespero dos inúmeros cachorros que estão quietos nos quintais de casas vizinhas. Olho para os meus filhos, a imaginação aflora e acabo brincando com eles, nem que seja um bingo, ainda mais com aquelas discussões e brigas entre dois irmãos que se amam de tal forma que a noite, dependendo do dia, é um trabalho danado colocar eles em quartos separados, tamanha a necessidade de ficarem perto um do outro. Mas também não nego que me pego ali no celular vendo as redes sociais alheio aos pedidos das crianças para que eu brinque com elas. Embora isso seja pouco comum pois a minha consciência sempre fala mais alto que o tempo com os filhos é mais valioso do que ver as inúmeras mensagens pitorescas que chegam no meu celular.
Eu não consigo entender como pode alguém se vencer pelo desejo de não fazer absolutamente nada. Para mim vale tudo, até mesmo ajudar meu pai a carregar inúmeras telhas (embora isso me custou uma baita dor nas costas no dia seguinte, mas ajudar o pai, estar com ele, não tem preço).
O ser humano foi projetado para se movimentar, o que pela lógica, se traduz em corpo sadio, mente sã. Se cada um experimentasse o movimento, a atividade de estar sempre se ocupando e principalmente, movimentando o corpo, acredito plenamente que a sociedade seria um lugar muito melhor. O que são míseros 30 minutos do seu tempo dedicado a uma caminhada? Não me diga que não tem tempo. Eu custo a acreditar que alguém não consegue planejar o seu dia, para que se possa ter ao menos 30 minutos de atividade física. Exemplos, temos aos montes. Li recentemente o livro “Correr”, do dr. Dráuzio Varella em que ele, mesmo com uma rotina de muito trabalho e viagens, encontra sempre um tempinho para correr. E olha, ele corre provas de 42 km!
As pessoas sempre escutam essas frases “esporte é bom”, “faça uma atividade física”! Eu acredito que boa parte da população já teve acesso a informações dos benefícios da atividade física em sua saúde. Então, porque a obesidade, o sedentarismo é um grave problema de saúde pública?
O conformismo, a inércia, a televisão e o “repouso” estão vencendo os seres humanos, que a milhares de anos atrás tinham de se exercitar o tempo todo por questões de sobrevivência. Perguntem para o tabagista qual idéia lhe cai melhor: “Um café na padaria ás 06h da manhã, seguido por dois, três cigarros enquanto socializa com os amigos, ou uma caminhada nesse mesmo horário, em atividades muitas vezes solitária?” Solitária, porque infelizmente nem sempre temos companhia para uma caminhada ou para a prática de outra atividade física. Mas a resposta dessa pergunta, vocês já sabem.
Não vou ser hipócrita. Eu gosto muito desses momentos em que podemos ir ao restaurante com amigos, familiares, degustando comes e bebes a vontade. Mas a consciência só permanece em paz porque tenho o compromisso de nesse dia, no outro e todos os outros, eu vou fazer uma corridinha, mesmo que por tempo curto. Quem bem planeja, acha tempo para tudo nessa vida. Tenho plena convicção que vou colher para o resto da minha vida os benefícios de estar sempre em movimento, de encontrar na atividade física a qualidade de vida que me proporcionar bem estar, disposição e virilidade sempre.
A motivação é algo que parte de si próprio. Palestras motivacionais, clipes recheados de ação, são bons, mas não servem para absolutamente nada se você não for seu próprio agente de mudança. Lute contra o “repouso”. Busque seus limites enquanto ser humano. Imagine o prazer que deve ser um cara completar uma ultramaratona, imagine o prazer que deve ser você jogar futebol com seus filhos até que não reste mais energia e ainda assim dormir como um anjo e fazendo com que seus filhos se apaixonem cada vez mais por você. Imagine um pai, duro como pedra, se arriscar em inúmeros passos de ballet com a filha, onde acontecem sorrisos, movimentos, atividade! Imagine os suspiros que um senhor de idade arranca quando ele desfila vitalidade correndo pelos parques da cidade!
Não faça dos seus lamentos, suas limitações a desculpa para a inércia. Faça do movimento, uma oportunidade de transformação, que ninguém consegue lhe roubar: qualidade de vida. Se desafie a correr uma prova de 5 km, que seja. Se desafie a jogar 30 minutos de futebol com seu filho. Se desafie para andar de patins! Se desafie para ir com seu/sua companheiro(a) para uma boate dançar! Mas, por favor, não diga que não tem tempo e disposição.
Para fechar, cito Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
(Ricardo Carneiro Rocha, professor de Educação Física, especialista em saúde)