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OPINIÃO

O glifosato e a insegurança jurídica na agropecuária brasileira

Pro­du­to­res ru­ra­is de so­ja e mi­lho, en­tre ou­tras cul­tu­ras, es­tão em vi­as de ini­ci­ar o plan­tio da sa­fra 2018/2019. Tu­do pa­re­cia cor­rer bem até que uma li­mi­nar, con­ce­di­da no dia 3 de agos­to pe­la juí­za fe­de­ral sub­sti­tu­ta Lu­ci­a­na Ra­quel To­len­ti­no de Mou­ra, da 7ª Va­ra do Dis­tri­to Fe­de­ral, pro­i­biu o uso do gli­fo­sa­to – um de­fen­si­vo am­pla­men­te uti­li­za­do nas la­vou­ras há mui­tos anos. Trin­ta di­as de­pois, eles pu­de­ram res­pi­rar ali­vi­a­dos, ao me­nos, por en­quan­to: o Tri­bu­nal Re­gi­o­nal Fe­de­ral da 1ª Re­gi­ão, em Bra­sí­lia (DF), der­ru­bou a li­mi­nar.

A si­tu­a­ção me­re­ce al­gu­mas re­fle­xões. A pri­mei­ra de­las é o fa­to de que o Bra­sil é um dos mai­o­res pro­du­to­res de ali­men­tos do mun­do. Ne­ces­si­ta man­ter – e até am­pli­ar – as con­di­ções ne­ces­sá­rias pa­ra que o plan­tio acon­te­ça den­tro do pla­ne­ja­do, sob pe­na de im­pac­tar so­bre­ma­nei­ra a eco­no­mia na­ci­o­nal.

Pe­gan­do co­mo exem­plo a so­ja, o Bra­sil é o se­gun­do mai­or pro­du­tor mun­di­al do grão. De acor­do com da­dos da Em­bra­pa - Em­pre­sa Bra­si­lei­ra de Pes­qui­sa Agro­pe­cu­á­ria – a sa­fra 2017/2018 pro­du­ziu qua­se 117 mi­lhões de to­ne­la­das, plan­ta­das em 35 mi­lhões de hec­ta­res. Ex­por­ta­ções do grão, fa­re­lo e óleo ren­de­ram US$ 31,7 bi­lhões pa­ra o pa­ís. São nú­me­ros ex­pres­si­vos que não po­dem ser afe­ta­dos por uma si­tu­a­ção de in­se­gu­ran­ça ju­rí­di­ca, co­mo es­ta que aca­ba­mos de vi­ven­ciar.

A se­gun­da re­fle­xão en­vol­ve o pró­prio gli­fo­sa­to, um her­bi­ci­da de am­plo es­pec­tro bas­tan­te efi­caz, eco­nô­mi­co e bi­o­de­gra­dá­vel. O Mi­nis­té­rio da Agri­cul­tu­ra, Pe­cu­á­ria e Abas­te­ci­men­to e a Ad­vo­ca­cia Ge­ral da Uni­ão, em re­cur­so apre­sen­ta­do ao Tri­bu­nal Re­gi­o­nal Fe­de­ral, ar­gu­men­ta­ram que ne­nhu­ma pro­i­bi­ção de­ve acon­te­cer com ba­se em es­tu­dos uni­la­te­ra­is, sem con­clu­sões to­xi­co­ló­gi­cas com­pro­va­das por ór­gã­os com­pe­ten­tes. De­fen­dem que, ca­so se­ja pro­va­do que a sub­stân­cia traz ris­cos à sa­ú­de, os pro­du­to­res pre­ci­sam de um pra­zo pa­ra se adap­tar, co­nhe­cer e tes­tar ou­tras so­lu­ções.

Com a in­ser­ção ca­da vez mais in­ten­sa da tec­no­lo­gia no agro­ne­gó­cio, é im­por­tan­te in­ves­tir e fo­men­tar pes­qui­sas que te­nham co­mo fo­co pro­du­zir com efi­ci­ên­cia sem da­nos à sa­ú­de hu­ma­na. O que não se po­de acei­tar é que, às vés­pe­ras do plan­tio de uma no­va sa­fra, ar­gu­men­tos ci­en­tí­fi­cos com pou­ca ou ne­nhu­ma re­le­vân­cia im­pac­tem a ba­lan­ça co­mer­cial bra­si­lei­ra – com ris­cos de per­das que po­dem che­gar a bi­lhões de re­ais -, de­sa­bas­te­çam o mer­ca­do in­ter­no e re­sul­tem em per­das de pro­du­ti­vi­da­de e com­pe­ti­ti­vi­da­de no ce­ná­rio in­ter­na­ci­o­nal.

(Fer­nan­do Tar­di­o­li é ad­vo­ga­do es­pe­cia­li­za­do em Agro­ne­gó­cio e Re­cu­pe­ra­ção Ju­di­cial. É só­cio do es­cri­tó­rio Tar­di­o­li Li­ma Ad­vo­ga­dos)

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