Política

“Não se pode botar na balança apenas pandemia”

Redação

Publicado em 14 de outubro de 2022 às 17:23 | Atualizado há 3 anos

O governador
reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirma que o
embate com Jair Bolsonaro
(PL) sobre a pandemia de Covid-19 é um assunto superado e diz
ter declarado apoio
ao presidente depois de colocar na balança o “contexto
global”. “Você tem que analisar o todo. Você, por exemplo, coloca o
problema da pandemia, um ponto de divergência. Vamos botar outros pontos. Eu
fui o único governador no Brasil que conseguiu fazer a renegociação da dívida e
entrar no regime de recuperação fiscal”, diz em entrevista ao jornal Folha
de S.Paulo.

Caiado avalia que “nunca teve um
governo com tamanho volume de repasse aos governadores e prefeitos” como
o governo Bolsonaro, mas reconhece
que parte expressiva
do dinheiro veio das emendas de relator —instrumento
que questiona. “Quando eu fui deputado, senador, nós tínhamos irrisório R$
1 milhão. Hoje as pessoas [parlamentares] falam em meio bilhão de reais, R$ 400
milhões. Isso nunca existiu. Isso provoca uma deformação completa do sistema
presidencialista.”

O governador de Goiás afirma que nunca
brigou com o resultado das eleições e que chama a urna eletrônica de
“vossa excelência”, mas poupa Bolsonaro pelas ameaças golpistas e
ataques ao sistema de votação atual. “Sinceramente, eu não vi ele
contestar o resultado das urnas neste momento, no primeiro turno”, diz.

Caiado ainda assegura que a relação dele
com o governo federal em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) não causaria nenhuma “intranquilidade”.

A íntegra da entrevista:

O
sr. rompeu a relação com Bolsonaro no auge da pandemia e decidiu apoiá-lo no segundo turno. Não há
incoerência nessa mudança de posição? 

– De maneira alguma.
Primeiro porque sou uma pessoa extremamente coerente. Se eu tivesse mudado a
minha posição em relação às ações que tomei para enfrentar a pandemia, aí sim.
Esse é um assunto superado em decorrência da chegada da vacina e dos protocolos
que implantei. Esta é uma etapa. Nós estamos discutindo agora um segundo
momento. Se [a eleição] fosse restrita ao eleitorado goiano, o presidente
Bolsonaro, como eu, teria sido eleito no primeiro turno. Pela votação
expressiva que ele teve no estado de Goiás, declarei apoio a ele.

Quando
o sr. fala assim, parece que está apenas seguindo a vontade do eleitorado
goiano. 

– Sem dúvidas. Sou um democrata. Jamais abri
mão dessa posição. Nunca briguei com o resultado das urnas. Nunca. Não discuto
com urna. Chamo urna de vossa excelência, entendeu? Porque ali é o sentimento
da população.

O

sr. acredita que o presidente Bolsonaro é a melhor opção? 

– Eu, com 39 anos de
idade, fui candidato a presidente da República no momento em que enfrentei
também o PT e Lula. Então isso é uma história de vida. Você vai naquilo que não
é contraditório do que você defendeu a vida toda. Nunca abri mão da vida, do
direito à propriedade, da economia de mercado, da liberdade do cidadão. São
princípios que sempre defendi.

Nesse

caso, o apoio do sr. é menos uma questão de acreditar em Bolsonaro e mais de

rechaçar o outro lado? 

– Não. Vejo que você faz
uma escolha, simplesmente. Você tem que analisar o todo. Você, por exemplo,
coloca o problema da pandemia, um ponto de divergência. Vamos botar outros
pontos. Fui o único governador do Brasil que conseguiu fazer a renegociação da
dívida e entrar no regime de recuperação fiscal [do Tesouro Nacional], deu governabilidade
ao estado de Goiás. Fiz parcerias com o governo federal. Se você for
contabilizar quais são as divergências, foram do ponto de vista do protocolo,
que cumpri com base na ciência. Isso aí é um assunto. Não me impediu de fazer
convênios com o Ministério da Saúde, ampliar e regionalizar minha rede,
expandir minha rede de educação, ter segurança pública e programas sociais. Eu,
como ex-parlamentar, posso lhe dizer que nunca teve um governo com tamanho
volume de repasse aos governadores e prefeitos como nós tivemos neste governo. Eu
discuti com o presidente, mas é meu estilo. Vão ter momentos em que vou
concordar e outros em que vou discordar, mas, se eu puser na balança, avancei
muito mais na parceria com o presidente Bolsonaro do que, acredito eu, se
tivesse a continuidade do governo Dilma [Rousseff (PT)]. Então você não pode
apenas botar na balança a divergência da pandemia. Tem que entrar todos os
outros critérios que também foram fundamentais.

Parte

dos gestores atribui esse aumento de repasses ao orçamento de guerra criado

para enfrentar a pandemia e às emendas de relator. O que acha?

– Na pandemia nós vivemos uma situação
emergencial na qual coube fazer todos esses investimentos para que o objetivo
fosse salvar vidas. Em relação ao orçamento secreto e às emendas impositivas, este é um assunto que
cabe grande debate, sim. Qual é o sistema que nós temos no Brasil? É o
presidencialista. Ou seja, quem tem que apresentar um projeto não é o deputado
nem o senador, é o governador e o presidente. Não cabe ao Parlamento a seleção
ou a indicação do que deve ser prioridade, se não estiver nas metas que o
candidato propôs à população. [Hoje] você tem um regime presidencialista e logo
após você tem um parlamentarismo tomando conta da distribuição dessas emendas
discricionárias. É mais uma jabuticaba que foi criada. Essa é a grande verdade.

Foi graças às

emendas de relator que o sr. teve tantos repasses para Goiás? 

– Sim. Uma parte substantiva de dinheiro
foi. Outra parte foi convênio direto com o Ministério da Educação, com o
Ministério da Saúde. Esse é um debate, eu não me omitiria nunca de fazer, faço
e fiz com os meus deputados. E eles compreenderam. E aí, qual é a minha
necessidade? Eu preciso de uma policlínica na região oeste do estado. Fizemos,
eu fui lá e disse: está aí também a emenda do deputado que ajudou a construir
isso tudo. Não tirei o mérito dele, mas não desfigurei meu projeto.

Como o sr.

imagina a relação com o ex-presidente Lula em um eventual governo? 

– Eu aprendi que você tem que respeitar a
liturgia do cargo público. Se ele for o presidente, eu chegarei lá como
governador do estado de Goiás. Da mesma maneira, ele vai me tratar como sendo
presidente da República. Eu respeito a liturgia, mas consciente das minhas
prerrogativas, dos meus direitos e do que devo levar para o povo de Goiás. Nós
convivemos na Câmara e no Senado a vida toda. Essas coisas [divergências], na
democracia, não significam que você não vá conversar, que seja inimigo. Essas
coisas não me dão nenhuma intranquilidade. Claro que vou trabalhar para que
Bolsonaro seja o presidente.

RAIO-X

Ronaldo Caiado, 73 anos

·       Atual governador
de Goiás, foi reeleito no primeiro turno das eleições deste ano com 51,81% dos
votos.

·       Foi deputado
federal entre 1991 e 2014 e senador entre 2015 e 2018, quando pediu licença do
cargo para assumir o governo goiano. Natural de Anápolis (GO), é médico e
pecuarista.

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias