Opinião Pública

Existe algo de podre no reino da Dinamarca

Redação DM

Publicado em 27 de outubro de 2022 às 15:33 | Atualizado há 7 meses

O maior dramaturgo não só da Inglaterra, mas das letras universais, William Shakespeare,  notabilizou-se pela construção do humano. Harold Bloom, respeitado crítico literário norte-americano, considera que o autor de “O Mercador de Veneza” inventou o ser humano e todos os sentimentos nele existentes: cobiça, inveja, ciúme, traição e, lógico, a corrupção. Bloom está certíssimo na sua avaliação.

Em inúmeras de suas peças, Shakespeare coloca um observador invisível para avaliar como age o ser humano. E, por intermédio desse observador, mostra reles mortais como realmente são. Desnuda do ser humano o falar do agir. E assim máscaras caem sob o olhar do que é invisível aos olhos humanos. É por essa razão que os escritos shakespearianos são bastante apropriados para entender o atual momento político. Veja-se o caso do homem da mala, deputado Rodrigo Rocha Loures. Sem ele perceber, foi filmado recebendo, numa pizzaria de São Paulo, uma mala contendo 500 mil reais supostamente destinados ao presidente Michel Temer.

Tal como o observador oculto de Shakespeare, as câmaras e gravações deixaram o homem da mala, por trás de toda aquela simpatia e daqueles modos educados, evidenciar  sua  face nua e crua da corrupção do Brasil patrimonial.

Os olhos do observador oculto do dramaturgo Inglês podem ser úteis para observar cenas típicas de estatais falidas. Cenas típicas como as que vêm sendo constantemente evidenciadas pela a Operação Lava jato.

Assim vê e escuta o observador oculto:

‒ Aluga um jato para que eu possa ir a uma reunião no Rio de Janeiro.

‒ Mas, presidente, tem um voo da Gol que sai às seis para lá.

‒ Já disse: quero um jato!

Outra cena: ‒ Faça a reserva de uma passagem a Paris para mim e reserve o Hotel Plaza Athenée.

‒ Mas, presidente, a empresa não tem condições de pagar uma diária de 2.000 dólares!

‒ Não interessa: reserve. Não estou pedindo, estou mandando.

E, assim, o observador oculto do autor de Macbeth revela o porquê de as estatais falirem e enriquecer quem em nome do povo governa. O discurso político da austeridade não se coaduna com os subterrâneos do poder em cujo contexto os fatos são o que são. Ciente disso, às urnas, cidadãos! Como diz o Hamlet, de Shakespeare: “Existe algo de podre no Reino da Dinamarca”. Algo de podre que necessita ser exposto à luz do sol para impedir que falsos príncipes comandem principados nas próximas eleições.

 


		Existe algo de podre no reino da Dinamarca

Engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético.

Salatiel Soares Correia


 

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