Brasil

A mulher responde por 8,5% do agro no Brasil

Diário da Manhã

Publicado em 8 de março de 2022 às 05:28 | Atualizado há 3 anos

As mulheres hoje em dia ocupam gradual e rapidamente espaço em todos os setores da sociedade. E, no agronegócio, adubam o terreno e pegam o boi pelo rabo, ou, traduzindo o linguajar sertanejo, desempenham bem o papel. Segundo estudos da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), as mulheres administram 30 milhões de hectares, o que representa apenas 8,5% do espaço agrícola existente no Brasil. Ainda de acordo com a Abag, o perfil das mulheres que atuam no agronegócio brasileiro é de alta escolaridade, com 60% possuindo curso superior e 88% tendo independência financeira.

De forma geral, em diferentes ramos de atuação, elas ocupam apenas 3,5% dos postos de CEO (chief executive officer) no Brasil, segundo pesquisa divulgada no ano passado pela BR Rating com 486 empresas entre 200 e 10 mil funcionários. Os homens representam 84% dos cargos de diretoria e 81% dos postos gerenciais.

Segundo levantamento recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística estima-se que de cada dez cargos de liderança no agronegócio nacional, dois são ocupados por mulheres. Isso significa que, apesar dos fortes esforços do setor para valorizar a presença feminina nesses espaços, há ainda muito a conquistar na disputa por uma sociedade com mais igualdade de gênero. Trata-se de um crescimento de 6% nos últimos 11 anos. Há ainda, contudo, um longo caminho a percorrer na busca por equidade de gênero no setor, com as demandas femininas ainda na busca de um lugar de protagonismo no mundo rural.

“Estamos sendo destaque na área agrícola, investindo e inovando de forma bem produtiva neste setor, trazendo muitos resultados. Invistam nos seus sonhos e foque nos resultados, porque nós mulheres temos um potencial muito grande de trazer muitas inovações para facilitar a vida do produtor rural”, comenta Franciane Larrieu, de Conceição do Castelo, franqueada da primeira rede especializada em soluções completas de crédito rural, Sonhagro.

Em Goiás, as mulheres ocupam cada vez mais das fazendas e presidem ou compõem diretorias, entidades normalmente dominadas pelos homens. Cláudia Passos preside o Clube dos Marimbondos e é vice-presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura. Ana Miranda, Valéria Guimarães, Janaína Flor, Carmen Bruder, Neucy Palhares, Anhizeret, Olga Caixeta, Kelen Alves, Liliane Queiroz são líderes natas.

Janaína e um grupo de mulheres promoveram em Goiânia recentemente movimento contra a posição de um banco por fazer campanha contra o consumo de carne. Cristiane Rodrigues preside a Associação dos Engenheiros Agrônomos. Pela primeira vez em vários anos foi eleita em chapa única uma mulher. Nas associações dos produtores de suínos e de aves Crenilda Neves e Léia Morais há anos dominam o segmento.

Juliana Maria dos Santos, encarregada operacional na unidade do Bretas em Catalão, um cargo em que normalmente é associado a homens – sem nenhuma explicação ou motivação científica. Na loja ela lidera uma grande equipe de profissionais, apenas de operadores de caixa são 18 pessoas, além de ser responsável pelo atendimento ao público, tesouraria e outras atividades. Já em casa é mãe de três filhos, esposa e dona de casa.

“Atualmente consigo fazer todo o trabalho de casa, mas conto muito com a ajuda da minha filha mais velha e do meu esposo”, explica.

No Brasil, não fica esquecida a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que presidia a Frente Parlamentar de Agricultura.

O sol ainda nasce quando elas chegam ao mercado de flores, plantas e acessórios para floricultura e decoração para mais um dia de trabalho e de negócios.

Uma dessas histórias é protagonizada pela Eduarda Diogo. No comando logístico da carga e descarga dos mais de 750 caminhões que circulam no Ceaflor às segundas e quartas-feiras, ela chega ao mercado de flores às 5h da manhã. Eduarda conta que no início foi difícil comandar essa operação, pois alguns caminhoneiros questionavam sua autoridade. Hoje, porém, sente-se respeitada e até ganha mimos dos motoristas, como paçoquinha e flores.

“A presença das mulheres no campo tem se intensificado de forma bastante expressiva”, declara Jaqueline Casale, diretora comercial da Casale Equipamentos, empresa líder no segmento de equipamentos para alimentação de gado confinado. “Quando iniciei minha carreira no agronegócio, na faculdade de Zootecnia, eu era uma das poucas mulheres nos ambientes de negócios em que freqüentava. Hoje em dia, me vejo acompanhada por mulheres brilhantes e inspiradoras.”

“Um dos fatores que podem facilitar a entrada de mulheres na indústria do agro é a constante implementação de novas tecnologias, tendência marcante da agropecuária brasileira”, opina Jaqueline, que atua há doze anos no mercado. “Se antes havia preconceito contra as mulheres no Agro, por serem consideradas ‘frágeis’ para a lida no campo’, agora essa desculpa já não encontra qualquer razão de existir. Afinal, mulheres são igualmente capazes de operacionalizar tecnologias agropecuárias e gerenciar times, e é preciso incentivá-las cada vez mais a se integrarem no mercado, seja por exemplos ou novas políticas inclusivas no mercado de trabalho.”

As vantagens que envolvem as lideranças femininas já são conhecidas por todos: o aumento da equidade de gênero implica numa sociedade mais justa e democrática, com papéis mais bem distribuídos e salários mais justos para todos. Além disso, estudos revelam que mulheres tendem a ser líderes melhores durante momentos de crise: de acordo com uma pesquisa recente publicada pela Harvard Business Review, concluiu-se que mulheres em cargos de liderança mostraram mais eficiência durante a crise pandêmica que afetou praticamente todas as empresas, ao apresentarem mais resultados positivos e contribuírem de maneira mais expressiva para o engajamento dos trabalhadores e trabalhadoras.

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