O Golpe de 1937 e o Plano Cohen
Diário da Manhã
Publicado em 29 de novembro de 2021 às 15:37 | Atualizado há 3 anos
Em 1930, ocorreu, no Brasil, a última eleição presidencial dentro do arranjo da Primeira República e o resultado não foi respeitado: o vencedor, Júlio Prestes, não assumiu o cargo, pois um grupo armado, ligado ao candidato derrotado, Getúlio Vargas, tomou o poder.
Vargas ocupou a presidência do Brasil, primeiramente, em caráter provisório e a reconstitucionalização do País ocorreu em 1934 quando, em 16 de julho, foi promulgada nova Constituição. No dia seguinte, em 17 de julho, Vargas foi eleito indiretamente presidente da República, para um mandato de 4 anos, como previa a Carta.
Em 3 de janeiro de 1938, deveriam ocorrer eleições diretas para o cargo mais alto do poder Executivo da República e, ao longo de 1937, três candidatos apresentaram-se para o pleito: Armando de Salles Oliveira, José Américo de Almeida e Plínio Salgado. Entretanto não estava nos planos de Vargas sair da presidência da República ao término de seu mandato, e todo o ano de 1937 foi marcado pelas articulações continuístas do presidente.
Uma força que foi importante neutralizar para que o golpe planejado por Vargas pudesse se concretizar foi a da Ação Integralista Brasileira (AIB). Fundada em outubro de 1932, o movimento organizado e chefiado por Plínio Salgado teve crescimento rápido e expressivo. Salgado, em setembro de 1937, foi procurado por homem de confiança de Vargas, Francisco Campos. O assunto era a pretensão do presidente em implantar um regime autoritário. Todavia o que Salgado ganharia apoiando tal pretensão? Vargas oferecia a ele não só o ministério da Educação e Cultura, mas, igualmente, a promessa de que o regime a ser implantado teria partido único: a AIB. Salgado ficou seduzido pela proposta e apoiou Vargas em seu intento.
Nos últimos dias de setembro daquele ano, entrou na arena política o Plano Cohen. Encomendado por Plínio Salgado, ele fora elaborado pelo integralista e capitão do Exército, Olímpio Mourão Filho, com a finalidade de divulgar, na imprensa dos camisas-verdes, como seria uma ação golpista dos comunistas no Brasil e como os integralistas reagiriam “salvando o País” do perigo vermelho. No entanto o Plano Cohen ganhou outro uso. Mourão Filho, em visita ao general Álvaro Mariante, falou acerca do hipotético plano que havia elaborado e Mariante solicitou uma cópia para que pudesse lê-lo detalhadamente. Das mãos de Mariante, o Plano Cohen foi parar nas mãos do chefe do Estado-Maior do Exército, general Góis Monteiro e, já no dia 27 de setembro, o general Gaspar Dutra, ministro da Guerra, convocou uma reunião de generais para discutir medidas de combate à pretensa ameaça comunista revelada pelo Plano Cohen. Em 30 de setembro, com o devido consentimento de Vargas, a imprensa publicou comunicado do general Francisco José Pinto, chefe do Gabinete Militar da Presidência da República, anunciando a apreensão do “plano comunista”.
No dia 1º de outubro, as manchetes dos jornais, divulgando o Plano Cohen, alardearam o perigo da ação comunista que nos rondava. E, no calor da hora, sem precauções, cuidados e desconfianças necessárias, a Câmara dos Deputados aprovou por 138 votos contra 52, ainda naquele 1º de outubro, o estado de guerra solicitado pelo governo. No dia seguinte, em sessão no Senado, 23 senadores votaram a favor da proposição do governo e, 3, contra. E, assim, no dia 2 de outubro, o referido estado de exceção foi estabelecido.
Sentindo o caminho livre, Vargas executou o golpe que fora urdido pacientemente e, diga-se, ocorreria com ou sem o Plano Cohen. No dia 10 de novembro, pela manhã, forças da Polícia Militar do Distrito Federal fecharam o Congresso e, às 20 horas, o presidente da República pronunciou discurso-manifesto, transmitido por meio do rádio, explicando o novo regime que se instalava naquele momento. Era o início da ditadura chamada Estado Novo.