O homem do saco
Redação DM
Publicado em 5 de outubro de 2021 às 12:11 | Atualizado há 4 anos
O homem do saco é uma figura que sempre causou medo no público infantil, é comum quando uma criança desobedece ou dá birra, os pais dizerem: “Se você ficar dando birra, eu, vou chamar o homem do saco, olha, o homem do saco vem ali, ele carrega no saco criança birrenta e desobediente, se você não calar a boca, vou chamar o homem do saco”.
Quando criança, no Conjunto Riviera, na Região Leste de Goiânia, apareceu por lá um senhor, que era chamado de o “homem do saco”, pois, andava diariamente, com um saco nas costas. Um dia, descobrimos que se tratava de um Expedicionário da segunda Guerra Mundial, vivia gritando: – Abaixa, olha a bomba, abaixo o Nazismo de Hitler, viva a Força Expedicionária Brasileira, a cobra vai fumar, também gostava de cantar um trecho da Canção do Expedicionário: – Você sabe de onde eu venho? Venho do morro, do engenho, das selvas, dos cafezais, da boa terra do coco, da choupana onde um é pouco, dois é bom, três é demais.
Durante um grande temporal, o homem do saco se abrigou no alpendre da nossa casa, até que a chuva passasse: – Olha a bomba, exército inimigo, à vista, preparar, apontar, fogo, fogo. – Monte Castelo é nosso, Monte Castelo é nosso, a cobra vai fumar. Passado o temporal, abri à porta e iniciei com ele um bate papo: – Como vai o Senhor? – Vou bem, filho, e você? – Graças a Deus, bem, deixa eu te perguntar, por que as pessoas chamam o Senhor de o homem do saco? – Eles me chamam do homem do saco porque carrego sempre esse saco nas costas, mas, olha, não como e nem pego criancinhas, embora a maioria das crianças quando me vêem sai correndo, gritando: “Socorro, o homem do saco”. Fico muito triste com tudo isso, infelizmente, não tenho onde morar e pelo fato do barulho das bombas ter me deixado atordoado e eu, gritar muito pelas ruas, porque sou Expedicionário e lutei pelo Brasil na segunda Guerra Mundial, a maioria das pessoas acham que eu sou louco e que pego crianças, você é uma exceção, pois, me deu atenção e foi educado comigo. – Obrigado, o Senhor é um herói, lutou pela Pátria, – Obrigado, filho. A minha curiosidade infantil me levou lhe fazer mais uma pergunta: – Mas, afinal, o que o Senhor carrega de tão interessante dentro desse saco? – Vou te mostrar, olha o que eu trago dentro do saco, tinha um cobertor, daqueles “sapeca negrin”, uma calça, uma camisa, um pedaço de porrete, uma caixa de fósforo, um prato de esmalte, um copo de alumínio, um pote de sorvete, todavia, o objeto dentro do saco que mais me chamou a atenção foi um pinico de plástico, eu perguntei: – O que é isso? – Um pinico, garoto, é um urinol, serve para gente tirar água do joelho.
– Giovani, gritou minha mãe, de dentro de casa, com quem você está conversando? – Com o homem do saco, mãe – O quê? Fica dando confiança pra esse povo da rua, viu? – Passa pra dentro, agora, Deus me livre, quer ser raptado? De repente, o homem do saco saiu às pressas em direção à rua. Depois daquele dia, nunca mais o vi.