Cotidiano

Partilhando

Redação DM

Publicado em 14 de outubro de 2020 às 15:00 | Atualizado há 5 anos

Hoje me lembrei do impacto que “Partilhar” do Rubel me causou, ouvindo pela primeira vez fiquei presa pela narrativa exposta na canção. Era uma coisa quase heróica e desesperada, mas tudo me parecia de uma lucidez completamente palpável e justificável, amparada por inúmeros argumentos que sustentam a nobreza existente em cada uma. 

O que eu já achava bom, se tornou surpreendente quando, anos depois o cantor regravou a canção com o duo Anavitória e ainda a materializou visualmente com um clipe envolvente e que muito conversava sobre um possivel futuro do casal da canção.

O clipe causa múltiplas impressões, a primeira é uma completude romântica no contemporâneo. Explicarei isso utilizando camadas. Sinto que diferente de uma narrativa de romance, correndo na horizontal, notei que o diálogo exposto no clipe, sobre-exposto sob a canção, gerou densidade à curta história. Em 7 minutos não conhecemos muito bem as personagens, mas nesse caso, as camadas verticais em que se encontram diálogo/narrativa e paralelamente canção/melodia, provavelmente te farão assistir a história mais uma vez, creio que na terceira os encontros e descompassos já se tornam nítidos e palpáveis.

“Partilhar” fala de um desesperado amor, é uma declaração de entrega ao sentimento, negando qualquer ação circunstancial que sirva de empecilho para concretização do encontro entre dois. Já no clipe, acompanhamos a história de um amor aparentemente mal sucedido em vista das peças pregadas pelo destino. Em atos falhos é notório o afeto permanece imutável entre o ex-casal, apesar da desventuras que ocasionaram o rompimento.

Outra impressão que me veio a luz, gira em torno da desconstrução do ideal romântico, grande parte do ocidente teve como referência o amor cortês/amor romântico como alicerce. Logo, é comum passar o clipe todo torcendo pelo casal, para um surto de emoção onde os dois se beijam, abandonam seus planos e vivem juntos em um ato de amor e coragem.

Mas não é bem assim que as coisas funcionam na vida real, nesse segundo, entra na história um personagem poderoso: o tempo. Nos apegamos na lenda que diz que o amor tudo supera, que para o tempo e passa por cima de qualquer desventura aprontada pelo destino… mas também sabemos que o amor também pode causar sofrimento, e lacunas muitas vezes são preenchidas, afinal, não somos insubstituíveis.

O resultado da epopeia da canção pode ter sido, de fato, o desfecho aparentemente trágico do clipe, as vezes rolamos na nossa própria sujeira, as vezes destruímos castelos de areia feitos com a areia presa na bunda em um fim de dia de praia, as vezes deixamos o mar levar aquela concha ideal para uma coleção, e enquanto tudo isso ocorre o tempo passa, e a gente segue partilhando.

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