Psicologia do tédio
Redação DM
Publicado em 29 de agosto de 2018 às 22:38 | Atualizado há 7 anos
Dizem que o tédio faz o tempo passar mais depressa. A monotonia que certas pessoas fazem da vida, possivelmente abreviaria o curso das horas, no transcorrer de um dia perdido. Cruel engano! O vazio monótono alarga o instante, e o aborrecimento serve para enfatizar a lenta passagem com grande fadiga. Talvez o tédio seja uma espécie de lenta espera por algo que, quando finalmente chega, não agrada e há vontade de ir embora.
Thomas Mann, autor do romance A Montanha Mágica, diz que um conteúdo rico e interessante é capaz de abreviar até mesmo um dia. No entanto, os anos ricos de acontecimentos passam mais devagar do que os anos comuns; vazios e leves, são varridos pelo vento do tempo. O que se chama de tédio é uma simulação mórbida da brevidade do tempo, provocada pela monotonia (quando um dia é como todos, numa uniformidade, como se tudo fosse repetição breve e repentina). O hábito enfraquece o senso do tempo. “As novas rotinas possuem curso juvenil, mas quando se aclimata novamente, tudo se abrevia”.
O filósofo Heidegger talvez seja quem mais detalhou o fenômeno do tédio. Ele seria uma atitude de ser e estar no mundo. Como um mal humor que se manifesta nas mais diferentes formas possíveis, “sem causas determinações delimitadas”. Ele se localiza “na confluência do homem com o mundo e se manifesta independentemente da consciência”.
O norueguês Lars Svendsen escreveu um interessante livro: Filosofia do tédio. O autor diz que o tédio faz parte da vida humana ocidental, sendo uma marca intersubjetiva diante da realidade esvaziada de significações sensíveis, durante a vivência existencial. Como se o tédio fosse mesmo atributos de alguém com tendências depressivas ou com baixa estima. Mas ninguém estaria fora da lista de entediosos do mundo, já que o mundo moderno anda desprovido de emoção humana. Há “relações estereotipadas e estáticas frente aos objetos sem qualidades caracterizam o tédio, na medida em que os objetos perdem as significações e ganham valor de mercadoria”.
O hábito, para muitos, torna-se sonolento por enfraquecer o senso do tempo. Por isso os anos da infância demoram a passar. E o tempo, no mundo dos adultos, repleto de hábitos e responsabilidades, passa bem depressa. Mesmo assim, o tédio é gerado pela nossa incapacidade de se identificar com o mundo que nos cerca, ou até mesmo por não haver suficiente autoconhecimento.
Geralmente as pessoas maceram memórias ruins. Lembram-se com mais facilidade das intempéries e sofrimentos do que os bons momentos que vivenciou. Isso agrava ainda mais o rancor e o tédio com uma espécie de falta de otimismo.
Se a superação ao tédio for extremamente difícil, deve-se buscar uma paz interior que permita a solidão individualista do mundo moderno com o materialismo existencial da vida, com que muitos se apegam, na tentativa de realizar ou criar um sonho e valorizar as boas vivências e coisas da vida.
Cada um de nós, no fundo deseja se realizar, em busca da felicidade, como projeto do próprio sentido da vida. A grande maioria dos 7 bilhões de humanos falhará nesse projeto. O tédio assume uma espécie de papel da voz da consciência, acusando que é preciso suprir o sentido da vida. A grande vantagem: podemos nos conhecer no tédio. Descobrir o que falta é a grande aventura da vida. O tédio é um grande laço que prende todos os humanos no curral da existência. Fugir dele deve fazer parte dos seus novos projetos. Que tal? Até a próxima página!
(Leonardo Teixeira, jornalista)