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Memórias de um corpo em movimento

Diário da Manhã

Publicado em 15 de junho de 2018 às 00:06 | Atualizado há 4 meses

O movimento artístico con­temporâneo circula em torno da memória. Atual­mente, uma parcela significativa de produtores busca o passado da arte, a raiz do movimento, a fim de lançar um novo olhar sobre a realidade. É um movimento na­tural: muitas vezes é preciso dar dois passos atrás para conseguir vislumbrar o caminho a seguir. Foi assim na Semana de Arte Mo­derna, em 1922, quando se falou do antropofagismo, uma linha criativa que pensa o “homem co­mendo o homem”, ou melhor, a cultura nacional se alimentando da cultura nacional. Outra linha cultural brasileira, que pode ser citada como exemplo, foi o mo­vimento Tropicalista da música. Os autores deste movimento bus­cam o interior do País, a Bahia, os trópicos, o nordeste, como fonte de inspiração.

No entanto, buscar a memó­ria de uma expressão artística exige uma pesquisa aprofunda­da. Muitos trabalhos relevantes para a produção atual acabam escondidos entre artigos, maté­rias de jornais e outros forma­tos. A dança, por exemplo, que é uma expressão visual e mo­mentânea, requer um aprofun­damento muito maior. Um pro­jeto, contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiás, reuniu estudiosos, professores e grupos de pesquisa de Goiás, Acre, Rio de Janeiro e São Paulo com o in­tuito de preencher uma lacuna de políticas públicas direciona­das para a história da dança no Brasil. São cinco pesquisadores no projeto, que foi iniciado em janeiro de 2018 com uma convo­catória. A partir deste momento, ocorreram encontros e uma resi­dência imersiva na cidade de Pi­renópolis, há 128 Km de Goiânia.

Os encontros acontecem nes­ta sexta-feira (15/6) e sábado. O primeiro ocorre no Auditório da Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD/UFG), a partir das 8h. O segundo encontro, na mesma data, ocorre no Tea­tro Centro Cultural UFG, na Praça Universitária, a partir das 17h, dentro da programação do Fes­tival Manga de Ven­to. Também no dia 15 será exibido no Cine Cultura, na Praça Cívica, o filme Pendular, dirigido por Ju­lia Murat e com coreografia as­sinada por Flá­via Meireles, coor­denadora do projeto Perfor­mar Arquivos.

No dia 16, o encon­tro será às 9h no IFG Campus Aparecida de Goiâ­nia, com debates e exibição do videodança dirigido por Waleska Alvim. Em cada encontro um ar­quivo será performado por meio de jogos propostos pelos pales­trantes.

MEMÓRIA DA DANÇA

O resgaste da dança no Bra­sil é a principal bandeira do pro­jeto. Com esse intuito de buscar a memória dessa expressão ar­tística, o projeto reuniu os gru­pos de pesquisa Olha­res da Dança, de Goiás, com as pesqui­sadoras Luciana Ribeiro e Valé­ria Figueiredo; Temas da Dan­ça, do Rio de Janeiro, com Flávia Meireles (também coordenado­ra do Projeto Arquivos); Nirvana Marinho, de São Paulo, do grupo Cartografia das Ficções e Acervo Mariposa. Também participam do Projeto Performar Arquivos os pesquisadores e artistas goianien­ses Kleber Damaso, Rousejanny Ferreira, Rafael Guarato, Ana Ca­rolina, Marlini Dorneles de Lima e a acreana Valeska Alvim.

O projeto, como já foi dito, teve início com uma pesquisa, em janeiro deste ano. A produção vai além do registro dessa memó­ria, e constrói, de forma coletiva, discursos sobre esses arquivos de dança, a fim de difundi-los ao pú­blico. Em Goiânia, os dados co­letados vão desde o ano de 1970 até a atualidade. Cada pesquisa­dor do projeto elaborou um ma­terial de registro para trabalho. A partir da análise de imagens e narrativas, o pesquisador-produ­tor desenvolverá um tema espe­cífico que permeia as descober­tas desta pesquisa.

Luciana Ribeiro e Valéria Fi­gueiredo (OPD-GO) trouxeram como pesquisa para o projeto o tema do masculino na dança com base na análise de imagens e narrativa ficcional a partir delas. Vinda da parceria com o IFG, a professora Rousejanny Ferreira abor­dou a situação do balé em Goiás e o modo de historiografar três bailarinas de importância his­tórica para Goiás, a partir de como cada uma delas entregou seu material de registro.

Marlini Dorneles (Dançando com a Diferença – GO) trouxe um arcabouço teórico-prático sobre a pessoa com deficiência na dança, questionando a forma corpo hu­mano na dança e trazendo exem­plos de companhias de dança que desenvolvem pesquisa com cor­pos com deficiência para repen­sarmos acessibilidade e o pró­prio mercado da dança. Ana Carolina Wenceslau (GO), por sua vez, trouxe um deba­te sobre epis­temolog ias africanas e a forma de conceber o conhecimen­to aliado a questões sensoriais do tato, do olfato e do paladar.

Rafael Guarato (GO) apresen­tou um panorama da história da historiografia traçando pontes com o campo da dança. Kleber Damaso (GO) propôs uma errân­cia entre as pesquisas, conectan­do conceitos e convidando-nos a uma deriva entre eles.

A pesquisadora Nirvana Ma­rinho (Cartografias de Ficções e Acervo Mariposa – SP) desenvol­veu, a partir do método cartográ­fico, uma articulação entre ima­gens de levantes e a dança, com base na exposição de Didi-Huber­mann “Levantes” e no trabalho de história da arte por imagens de Aby Warburg. Flávia Meireles (Temas de Dança – RJ) reflete so­bre a imagem fotográfica como parte da história e como o con­texto e modo de aproximação das imagens também contam a histó­ria. Valeska Alvim (Cartografia da dança no Acre – AC) elaborou um videodança acerca da influência dos rios no imaginário e na for­ma de acessar histórias no Acre.

PERFORMAR UM ARQUIVO?

O projeto utiliza do concei­to de lidar e produzir arqui­vos, com referência em uma ação encontrada nos mes­mos. “Performar arquivos, en­tão, refere-se não só ao con­teúdo coletado, mas às formas, aos métodos e às táticas de que lançamos mão para nos aproxi­mar dos arquivos e para disponi­bilizá-los a terceiros”, explica Flá­via Meireles, coordenadora geral do projeto e integrante do grupo de pesquisa Temas de Dança (RJ). Especificamente neste projeto, a pesquisa não chega ao receptor de uma maneira fria, a proposta é dar visibilidade à ação, através do manuseio destes trabalhos.

Todo o projeto se divide em três etapas principais: análise de arquivos, residência de imersão e produção de material audiovi­sual. Na fase final, chamada de “Conversando com a vizinhança da cidade”, o objetivo principal é fazer uma devolutiva para a ci­dade, compartilhando as sen­sações e experiências possíveis atra­vés da edi­ção deste projeto.

O pró­ximo pas­so é o lan­çamento d a plataforma eletrônica do projeto, com textos, fotografias e questões abordadas ao longo do trabalho. A plataforma online terá conteúdos para download nos si­tes e redes sociais do Projeto e dos grupos Acervo Mariposa, Temas de Dança, Cartografia de Ficções. Durante a fase de residência, os viodemakers Nico Gualtieri e Ma­theus Feitosa produziram e edita­ram material em vídeos, captados na cidade de Pirenópolis, onde to­dos os pesquisadores trabalharam juntos, em caráter imersivo, tro­cando metodologias e sugerindo procedimentos artísticos-pedagó­gicos que estarão reunidos no site específico do projeto.

DATA: 15 DE JUNHO (SEXTA-FEIRA)

Horário: 8h às 10h | conversas, apresentação do site e dinâmicas pedagógicas com os alunos

Local: Auditório da Faculdade de Educação Física e Dança da UFG

Horário: 17h | conversas e apresentação das pesquisas

Local: Teatro do Centro Cultural UFG – CCUFG

Horário: 20h – exibição do filme Pendular, com coreografia de Flávia Meireles, dentro da programação do Festival Manga de Vento

Local: Cine Cultura

Data: 16 de junho (sábado)

Horário: 9h conversas e exibição de videodança dirigido por Waleska Alvim, pesquisadora participante do projeto

Local: IFG Campus Aparecida de Goiânia

Todos os eventos são gratuitos

 

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