Mercado ainda paralisado
Diário da Manhã
Publicado em 2 de junho de 2018 às 02:14 | Atualizado há 7 anos
- Produtores aguardam chegada dos insumos básicos para a retomada dos abates
Depois de mais de dez dias consecutivos da greve dos caminhoneiros, os setores básicos da cadeia de bovinos, aves, ovos e suínos contabilizam os prejuízos. E, o pior, a normalização dos elos da cadeia não será de um dia para o outro. O restabelecimento exige uma série de providências. O feriado empurrou os criadores para as fazendas na tentativa de praticarem ações para a arrumação da casa.
Nas cidades interioranas nem todos os postos de combustíveis podem abastecer os veículos. Ora, há falta de etanol, gasolina. Noutro, existe gasolina e diesel, mas não etanol. O Sindiposto informa que a normalização pode demandar mais uma semana. Em Jataí, no sudoeste goiano, o abastecimento estava difícil ontem, a exemplo de Itumbiara. Um motorista chegou a observar: “a coisa tá feia”. O Procon estava anunciando multas pesadas em razão dos preços abusivos. Em Rio Verde, teve posto interditado.
Em função do fim da greve dos caminhoneiros, as indústrias começam a escoar a carne que estava retida nas câmaras frias, ainda que lentamente, mas mostra que o mercado está voltando a funcionar. Até ontem o volume de negócios fechados ainda era pouco expressivo. Diante disso as referências permanecem estagnadas desde o último dia 23. Entretanto, pode-se observar indústrias programando a logística para o retorno dos abates, é o que observa a Scot Consultoria.
Para que haja retorno expressivo das compras, é preciso que as indústrias primeiro liberem a carne represada e também que ocorra a chegada dos insumos básicos para a retomada dos abates, como embalagem, por exemplo. Além disso, é necessário a regularização dos processos burocráticos para o transporte dos bovinos e, em função do feriado, provavelmente as indústrias devem voltar com maior intensidade às compras apenas na próxima segunda-feira, conclui a Scot.
MERCADO PARALISADO
O mercado de boi gordo, que já registrava fraco ritmo de negócios nas primeiras semanas de maio, está paralisado diante do atual cenário. O Cepea praticamente não registrou negócios envolvendo boi gordo e bezerro em algumas praças, o que fez com que muitas ficassem sem indicações de preços em alguns dias. De um lado, pecuaristas têm deixado os animais no pasto, na tentativa de reduzir a necessidade do uso de suplementos.
Muitas indústrias de ração estão sem matéria-prima para processamento e, no caso das que têm derivados estocados, a dificuldade está na distribuição. Esse cenário pode resultar em menor produtividade. De outro lado, no frigorífico, novas cargas de animais não chegam e, mesmo onde houve abate no correr da semana, a impossibilidade de distribuição da carne fez com que a indústria interrompesse as atividades nesta semana.
Segundo pesquisadores do Cepea, a greve dos caminhoneiros tem trazido incertezas, visto que a suinocultura é um dos setores que mais tem sentido os efeitos da paralisação. Os efeitos disso podem, inclusive, ser estendidos para o médio prazo, refletindo em queda na produção e, conseqüentemente, na oferta de carne suína.
Nas indústrias, frigoríficos têm dificuldades para escoar as carnes ao setor varejista. Nas granjas, suinocultores não conseguem enviar o animal pronto para o abate à indústria. Além disso, sem receber a ração, a alimentação dos suínos está sendo prejudicada. De acordo com informações do Cepea, os descompassos causados pela greve resultaram em baixo volume de negócios, com apenas efetivações pontuais nesta semana e a preços mais elevados.
SETOR DE AVES E OVOS
A paralisação dos caminhoneiros prejudica significativamente a avicultura de postura. Com o bloqueio de muitas rodovias, produtores de ovos consultados pelo Cepea não têm recebido os principais insumos utilizados para o andamento das atividades, como ração e embalagens, e não têm conseguido escoar a mercadoria.
Os prejuízos acumulados ao longo desses dias de greve podem, inclusive, ter seus reflexos estendidos para o médio prazo. Isso porque a falta de ração nas granjas levou à perda de poedeiras, o que tende a reduzir a oferta de ovos nos próximos ciclos de produção – novos lotes de pintainhas levariam cerca de 20 semanas para começar a botar ovos comerciais. Vale ressaltar que, antes da paralisação, o setor já vinha adotando medidas para controlar a oferta de ovos.