Prejuízo de R$10 mi diário na cadeia do leite em Goiás
Diário da Manhã
Publicado em 31 de maio de 2018 às 03:34 | Atualizado há 7 anos
Por causa da greve dos caminhoneiros, a cadeia do leite em Goiás está tendo prejuízos diários da ordem de R$10 milhões, segundo declarações do presidente do Sindicato da Indústria do Leite em Goiás (Sindileite), Joaquim Guilherme Barbosa de Souza, ao Diário da Manhã. Grande parte dos criadores se sente compelida a jogar o leite porque as matrizes leiteiras precisam liberar o líquido de suas tetas. Caso contrário, podem sofrer doenças como a mastite e morrer. Como em sua maioria, os produtores são compostos de pequenos ou envolvem somente a família, não dispõem de grandes estruturas de resfriamento. Nesses dez dias de paralisação foram jogados fora 60 milhões de litros no Estado. A greve continuava, ontem, impedindo a normalização do abastecimento de Goiânia e outras cidades goianas. A Ceasa, importante termômetro desse quadro, registrava, ainda, pouco movimento. E o restabelecimento demandará ainda dez dias, conforme previsões da instituição.
No plano nacional, a Viva Lácteos (Associação Brasileira de Laticínios) informa que, após sete dias de paralisação de toda a cadeia produtiva do leite devido à greve de caminhoneiros, o prejuízo já chegou a R$ 1 bilhão e o volume de leite descartado chega a mais de 300 milhões de litros. Mesmo que a greve chegue ao fim nesta semana, o setor prevê um período de um mês para voltar à sua normalidade, endossa o presidente do Sindileite, Joaquim Guilherme. “Além do leite, o desabastecimento de insumos, combustível, embalagens, dentre outros, mantém fábricas inteiras paradas. Praticamente todas as unidades fabris das empresas associadas estão fechadas”, observa. E acrescenta que a produção goiana é de 10 milhões de litros diariamente e o setor envolve 220 mil empregados diretos.
Dentre os 30 mercados levantados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, os de aves, suínos e leite parecem ser os mais fragilizados diante da atual greve dos caminhoneiros. Isso porque, além de se tratarem de animais, que precisam ser alimentados, são setores que já estavam passando por fortes dificuldades antes da atual paralisação. No geral, o clima é de incertezas, com muitos colaboradores do Cepea se mostrando sem orientação, num momento em que esses mercados caminhavam para uma possível recuperação
APOIO DA POLÍCIA RODOVIÁRIA
Para impedir que piquetes de grevistas impeçam o escoamento da produção de leite pelas rodovias estaduais e federais, o Sindileite esteve reunido, ontem, com os representantes da Polícia Rodoviária Estadual e Federal. Um documento foi elaborado e entregue às instituições pedindo apoio. O Sindileite quer que o leite in natura seja entregue nas plataformas das usinas de pasteurização em condições normais.
O major Sabata, comandante da PRE, recebeu o expediente, que será submetido em situação de emergência ao Gabinete de Crise, criado pelo governador José Eliton. A Secretaria de Segurança Pública, dirigida pelo ex-governador Irapuan Costa Júnior, tem dado apoio irrestrito ao setor agropecuário.
SUÍNOS E AVES SOB AMEAÇA
Em Goiás, praticamente todo o rebanho suíno, superior a 800 mil cabeças segundo estimativas recentes, e de aves com mais de 60 milhões de cabeças, encontram-se ameaçados por falta de ração. Milhares de pintinhos já foram mortos enquanto outros milhares de matrizes foram doadas ou morreram.
A Associação Goiana de Avicultura, no entanto, não têm números, mas sabe que estão subalimentadas e as condições de vida são de poucos dias ou horas. No País, 70 milhões de aves já foram dadas como mortas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Um bilhão de aves e 200 milhões de suínos correm risco como consequência dos bloqueios.
O setor movimenta em Goiás diariamente quatro mil caminhões, gerando 80 mil empregos diretos, segundo o presidente da AGA, Cláudio Almeida Faria. Segundo ele, nascem a cada dia 1.500 mil pintinhos.
O rebanho suíno apresentou crescimento de 34% nos últimos anos. O principal município produtor de suínos em Goiás é Rio Verde (2º no ranking nacional de municípios), com 732.000 cabeças, seguido de Jataí com 54.280 cabeças, Aparecida do Rio Doce com 54.000 cabeças e Montividiu com 48.170 cabeças. Em Goiás, o rebanho de aves, em 2012, foi de 59,6 milhões de cabeças, colocando o Estado na 6ª posição no ranking nacional. O levantamento em 2012 mostrou que desse total, 12,8 milhões estavam em Rio Verde, ou seja, 21,6% da produção estadual, segundo o IBGE.
Goiás também avançou na produção de ovos em 2012, ocupando a 8ª posição nacional com 178,3 milhões de dúzias. O destaque goiano foi o município de Inhumas (39,9 milhões, sendo o 11º município no ranking nacional), seguido de Bela Vista de Goiás (26,3 milhões; 20º nacional), Leopoldo de Bulhões (26,3 milhões, 22º nacional), Rio Verde (21,9 milhões; 27º nacional).
FAEG SOLICITA DESBLOQUEIO DAS ESTRADAS
A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) sempre apoiou movimentos e realizou ações objetivando reduzir os altos custos e a carga tributária que assola não somente o setor produtivo rural, mas toda sociedade brasileira. E assim foi com o movimento dos caminhoneiros, por entender como legitimo e justo.
Em nota ao público, “a Federação acredita que a continuidade do movimento é danosa e prejudicial a todos os goianos e brasileiros. Em curto prazo, a paralisação traz prejuízos imensuráveis a todos os produtores rurais do Estado de Goiás e do País, pelos milhões de litros de leite jogados fora, milhares de cabeças de bovinos que estão deixando de ser abatidos diariamente por conta do fechamento de dezenas de plantas frigoríficas, milhares de aves que morreram e de aves e suínos que não foram abatidos, milhares de produtos hortifrutigranjeiros que não chegam à mesa do brasileiro. Prejuízo este, pago pelo produtor rural e consequentemente por toda a sociedade”.
A entidade assinala que, no entanto, “a situação chegou a um ponto crítico, que se agrava a cada dia mais. Que a continuar, a médio e longo prazo, ocorrerá uma situação de desestruturação de todos os setores produtivos e de toda a economia brasileira.”
E prossegue a nota:–Portanto, a Faeg acredita na necessidade de ações urgentes e coordenadas por parte de todos. Do Executivo Federal, que possa fazer o seu papel não somente reduzindo os impostos federais, mas também enxugando a máquina pública. Do Executivo Estadual, para que possa reduzir o ICMS sobre os combustíveis, uma das mais altas do País, e também dos nossos deputados e senadores para que possam agir com ações que realmente surtam efeito e possam resolver o problema e fazer o país voltar à normalidade.
E solicita “os esforços de todos, para juntos encontrar uma solução definitiva para essa situação que vem prejudicando todos os brasileiros”.
PREJUÍZOS DE 6,6 BILHÕES
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima em R$ 6,6 bilhões os prejuízos para os produtores rurais com os nove dias de bloqueio nas estradas devido à paralisação dos caminhoneiros. Este valor é referente às perdas de Valor Bruto da Produção (VBP), que mede a estimativa de faturamento bruto na produção “dentro da porteira”.
“Este prejuízo é apenas na produção primária, sem considerar ainda o processamento, as indústrias e a parte de insumos, que estão tendo prejuízos severos. E ainda fora o que está por vir, porque a recuperação não é imediata”, afirmou o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, que alertou para o “caos extremo” na produção de alimentos se os bloqueios continuarem.
O superintendente da CNA participou de uma entrevista na Câmara dos Deputados, organizada pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), com a participação de várias entidades do setor produtivo, para falar sobre o impacto do bloqueio nas estradas. Para Lucchi, o tempo que o produtor deve levar para se reestruturar é de seis meses a um ano. “Animais estão morrendo, alimentos perecíveis como hortaliças e leite são desperdiçados. O impacto é econômico, social e ambiental”, afirmou.
O superintendente reiterou que a instituição defende que o direito de “ir e vir” prevaleça neste momento para que o produtor possa escoar a produção e receba os insumos necessários para evitar a morte de animais. “Não é um problema apenas para o produtor, mas para toda a sociedade”. Ontem, a CNA encaminhou ofícios aos Ministérios da Defesa e da Segurança Pública para pedir escolta para o transporte de produtos perecíveis, carga viva e insumos para garantir o abastecimento dos produtores.
A presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputada Tereza Cristina (DEM-MS), fez um apelo para o fim da paralisação para evitar ainda mais prejuízos ao desabastecimento de diversos produtos para a população brasileira. “A situação vem se complicando. Nós estamos muito preocupados e gostaríamos de fazer um apelo para que os caminhoneiros que gostam de trabalhar possam trabalhar para não deixar que o abastecimento da população brasileiro fique mais prejudicado”.
MOVIMENTO NA CEASA
Na Ceasa em Goiânia, principal centro de abastecimento do Centro-Oeste, a movimentação de hortaliças e frutas ainda demandará cerca de dez dias para se restabelecer, conforme informações de Josué Lopes, da gerência técnica. O que está entrando em termos de produtos procede do cinturão verde desta Capital. A Ceasa recebe em condições normais frutas e legumes de outros Estados. Da Bahia, procedem 80% do mamão consumido em Goiás.
Os preços, por incrível que pareçam, sofreram redução em vários produtos. Entre os quais, tomate, abobrinha, chuchu. O tomate salada está sendo vendido a R$45,00 a caixa de 22 quilos. O chuchu é encontrado nas bancas da Ceasa a R$10,00 a caixa. A batata volta aos R$100,00 em média. É bom lembrar que seu preço chegou a R$450,00 a caixa. A movimentação financeira na Central de Abastecimento de Goiânia oscila de R$3 milhões a R$5 milhões diários. Mais de 2.500 toneladas de produtos são comercializadas diariamente em suas instalações.
ABATES DO BOI GORDO
Os abates do boi gordo devem acontecer quando as estradas estiverem liberadas, mas quando, se a paralisação se estende por nove dias? A interrogação é da Scot Consultoria, que goza de inteiro crédito junto aos pecuaristas. Se a greve, por exemplo, acabasse ontem, já existe um feriado nacional hoje (Corpo de Cristo), então ”a coisa vai levar um tempo para voltar à normalidade. Então para estimar o dia 4 de junho, como uma possibilidade de retomada dos negócios, seria uma boa aposta. Se, no entanto os bloqueios continuarem, é sentar e esperar”, conclui a Scot