Pedro Parente sob ataque
Diário da Manhã
Publicado em 26 de maio de 2018 às 01:32 | Atualizado há 7 anos
A greve dos caminhoneiros põe a nu a devastadora política gerencial implementada na Petrobras pelo atual presidente, Pedro Parente, que condicionou sua nomeação ao cargo a que tivesse carta branca para fazer o que quisesse. E o que ele sempre quis foi gerir a estatal como se ela fosse uma empresa privada. O que lhe rendeu apoio incondicional da grande imprensa. E ainda rende, apesar do Brasil estar à beira de uma total paralisação como consequência dos sucessivos aumentos dos combustíveis fósseis.
Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) é uma entidade vigilante que vem há tempos criticando a política de Parente. A Petrobras adotou nova política de preços dos combustíveis, desde outubro de 2016, e a partir de então foram praticados preços muito altos que viabilizaram a importação de combustíveis por seus concorrentes.
“A estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada”, afirma em nota a Aepet, nota que foi divulgada nas redes sociais esta semana, porém ignorada pela grande imprensa nacional.
Segundo a Aepet, a exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes. A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015. Importado dos EUA, por 3,6. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 superou 80% do total importado pelo Brasil.
“Ganharam os produtores norte-americanos, os atravessadores multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil”, afirma a nota. “Perderam os consumidores brasileiros, a Petrobras, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação. A Aepet não perdeu, contudo,o senso de humor, e batizou esta política de “America first! ”, ou seja, América primeiro, numa clara alusão ao slogan nacionalista de campanha de Donald Trump. Insinua-se com isso que Parente serve aos interesses estrangeiros. Um colaboracionista, portanto.
“Diante da greve dos caminhoneiros assistimos, lemos e ouvimos, repetidamente na grande mídia, a falácia de que a mudança da política de preços da Petrobras ameaçaria sua capacidade empresarial. Esclarecemos à sociedade que a mudança na política de preços, com a redução dos preços no mercado interno, tem o potencial de melhorar o desempenho corporativo, ou de ser neutra, caso a redução dos preços nas refinarias seja significativa, na medida em que a Petrobras pode recuperar o mercado entregue aos concorrentes por meio da atual política de preços. Além da recuperação do mercado perdido, o tamanho do mercado tende a se expandir porque a demanda se aquece com preços mais baixos” argumentam os engenheiros da estatal.
A atual direção da Petrobras divulgou que foram realizados ajustes na política de preços com o objetivo de recuperar mercado, mas a própria companhia reconhece, nos seus balanços trimestrais, o prejuízo na geração de caixa decorrente da política adotada.
“Outra falácia repetida 24 horas por dia diz respeito a suposta quebra da Petrobras em consequência dos subsídios concedidos entre 2011 e 2014. A verdade é que a geração de caixa da companhia neste período foi pujante, sempre superior aos US$ 25 bilhões, e compatível ao desempenho empresarial histórico” afirmam os engenheiros. Na nota, eles divulgam dados estatísticos, extraídos dos balanços e balancetes da empresa, comprovando o que dizem.
A Petrobras é uma empresa estatal que existe – ou existia–para acelerar o desenvolvimento do país e para abastecer nosso mercado aos menores custos possíveis. “A maioria da população quer que a Petrobras atue em favor dos seus legítimos interesses, enquanto especuladores do mercado querem maximizar seus lucros de curto prazo”, atacam.
“Nossa Associação se solidariza aos consumidores brasileiros e afirma que é perfeitamente compatível ter a Petrobras forte, a serviço do Brasil e preços dos combustíveis mais baixos e condizentes com a capacidade de compra dos brasileiros”, encerra a nota.
PETROLEIROS AMEAÇAM
José Maria Rangel, coordenador da Frente Unida dos Petroleiros, entidade que congrega os vários sindicatos de trabalhadores em perfuração e refinarias, anunciou ontem que a categoria poderá entrar em greve de solidariedade aos caminhoneiros. Ele afirma ainda “que o preço abusivo dos combustíveis é parte do golpe que está privatizando a Petrobras”.
“Os acionistas da Petrobras estão rindo de orelha a orelha com os reajustes diários. Mais de 121 reajustes foram feitos desde que essa política foi implantada. Os preços da gasolina e do diesel sofreram aumentos de mais de 50%. Esse é o preço da irresponsabilidade dos senhores Michel Temer e Pedro Parente. Mas, a mídia não fala”, afirma o líder sindical.
José Maria Rangel destaca que a manifestação dos caminhoneiros é “justa e legítima”, mas é preciso que o movimento se posicione, deixando claro para a sociedade quem são os responsáveis pelos preços abusivos dos combustíveis. “É preciso que digam que Temer e Parente são os grandes culpados por esse caos”, ressaltou o coordenador da FUP, avisando que os petroleiros irão fazer “a maior greve da história da categoria”.
“Nós não podemos aceitar que o número de importadoras de petróleo no país salte de 50 para mais de 200, com as bênçãos de Pedro Parente. Nós não podemos aceitar que as nossas refinarias, por conta de uma decisão do governo Temer, estejam processando cada vez menos derivados, abrindo o mercado para as empresas internacionais. E essa conta, quem paga é o povo”, afirma José Maria Rangel, avisando que os petroleiros “irão realizar uma grande greve nesse país, no mês de junho, para barrar a privatização da Petrobras”.
CENTRAIS DECLARAM APOIO
Encarada inicialmente com muita reserva pelas centrais sindicais, pois os caminhoneiros ajudaram a derrubar Dilma, a greve dos caminhoneiros acabou recebendo ontem o apoio público das principais centrais sindicais do país.
O presidente da CTB-RS Guiomar Vidor afirmou, em entrevista ao portal CTB, que a central apoia o movimento dos caminhoneiros porque “o governo golpista de Michel Temer faz uma política de aumento dos combustíveis para agradar as multinacionais que entraram no mercado petrolífero brasileiro e para privatizar a Petrobras”.
A CUT divulgou nota em que afirma: “Os aumentos nos preços dos combustíveis tornam inviáveis ao trabalhador caminhoneiro prover o seu sustento e da sua família, já que o valor do frete não cobre os reajustes diários e diminui o valor do salário dele. E não são apenas os caminhoneiros que sofrem. Trabalhadores do setor de transporte e a população como um todo arcam com as consequências desses aumentos, que refletem ainda nos preços do gás, no pão e em outros itens da cesta básica”.
Em Catalão (GO), o Sindicato dos Metalúrgicos local, filiado à Força Sindical, prestou solidariedade ao movimento grevista. O presidente da entidade, Carlos Albino, afirmou à reportagem da Agência Sindical que no centro da cidade há 700 caminhões parados. “Nossa categoria apoia os caminhoneiros. Essa situação não pode continuar. Foram cinco aumentos de combustível em uma semana”, criticou.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou pelas redes sociais que a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico–Cide) será zerada. Esse tributo incide sobre o preço do diesel. Por outro lado a greve começa a produzir impacto no abastecimento no sudeste. No Estado de São Paulo, postos de gasolina podem ficar sem combustível e os estoques de frutas, legumes e verduras nos mercados estão acabando. Em Curitiba haverá redução na frota do transporte coletivo devido à falta de combustível. O serviço dos correios e também os vôos aéreos podem ser impactados pela greve.
Em Goiás, por enquanto, tudo está calmo. Por enquanto.