Senado: duas vagas e muitas incertezas
Diário da Manhã
Publicado em 1 de maio de 2018 às 02:06 | Atualizado há 4 meses
Nenhum dos pré-candidatos que disputam a sucessão estadual está com as chapas definidas. Sobram candidatos e incertezas. A aliança governista é a que vive o maior dilema. A chamada chapa natural do “tempo novo”, corresponde às candidaturas do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e da senadora Lúcia Vânia (PSB). Desde 1994 eles caminham juntos, quando a então deputada federal Lúcia foi candidata ao governo pelo PP, e cedeu as suas bases para eleger o deputado estadual Marconi Perillo (PP) à Câmara Federal. Na eleição seguinte, 1998, Marconi retribuiu a gentileza: foi candidato a governador pelo PSDB e Lúcia, também pelo PSDB candidatou-se ao parlamento. Ambos foram eleitos e não pararam de vencer eleições. Marconi foi reeleito em 2002, com Lúcia Vânia garantindo cadeira no Senado. Em 2010, Marconi retornou ao governo e Lúcia foi reeleita senadora. Pelo retrospecto, pode-se dizer que esta é uma dupla de sucesso. Mas em política, nada é simples assim.
Em 2002, com duas vagas em disputa, Marconi buscou o então secretário de Segurança Pública, Demóstenes Torres (PFL), para compor uma das vagas. Demóstenes estava no auge de sua popularidade, após ter solucionado o sequestro de Wellington Camargo, irmão da dupla Zezé di Camargo e Luciano. Naquelas eleições Demóstenes seria o mais votado com 1.239.352 votos (26,74%), Lúcia teve (22,82%), Iris (22,61%), demonstrando o quanto o pleito foi acirrado Na sua volta ao governo em 2010, Marconi repetiu a dupla de senadores, e deu certo. Demóstenes voltou a ser o campeão de votos: 2.158.812(44,09%), Lúcia Vânia somou 1.469.559 (30,56%) e Marconi levaria a disputa ao segundo turno, vencendo por 1.551.132 (52,99%) o ex-prefeito Iris Rezende (PMDB), que teve 1.376.188 (47,01%). A disputa apertada no segundo turno levou muitos a dizerem que o apoio de Demóstenes foi fundamental para a reeleição de Marconi. Mas cada eleição é uma história, e neste pleito de 2018, Demóstenes, que foi cassado pelo Senado em 2012, por conta das denúncias da Operação Monte Carlo, retomou via liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) os seus direitos políticos e reivindica mais uma vez o direito de ser candidato ao Senado pela aliança governista. Será muito difícil para o governador José Eliton (PSDB) mediar esta disputa.
DIVISÃO
Além da disputa entre Lúcia e Demóstenes para figurar junto com Marconi na chapa do Senado, a aliança governista tem ainda dois outros nomes que também pleiteiam a vaga, o ex-deputado federal Vilmar Rocha (PSD) e o ministro das Cidades, Alexandre Baldy, que apresenta a sua esposa, Luana Baldy, como alternativa para o Senado ou para a primeira suplência de Marconi Perillo. Vilmar disputou o Senado em 2014, somando 1.012.496 votos contra 1.283.665 votos de Ronaldo Caiado (DEM). A avaliação de Vilmar é que o seu recall permite entrar novamente na disputa e garantir a vaga de senador. Até o momento, o ex-deputado não se manifestou sobre a possibilidade de ser acomodado em uma das suplências da chapa, ao contrário, tem entabulado conversas com os candidatos de oposição. Vilmar já sentou-se à mesa com o deputado federal Daniel Vilela (MDB) e com o senador Ronaldo Caiado (DEM). Crítico da maneira como a chapa governista está sendo formada, não seria de todo impossível que Vilmar caminhasse com um dos candidatos da oposição nestas eleições.
OPOSIÇÃO
Se a situação não está definida, a oposição também não está. O senador Ronaldo Caiado (DEM) por enquanto tem apenas um nome para as duas vagas do Senado: o seu colega de bancada Wilder Morais, que saiu do PP e retornou ao DEM. Caiado fez compromisso, durante o ato de apoio dos cinco prefeitos dissidentes do MDB, de que uma das vagas ao Senado e a de vice-governador seriam destinadas aos emedebistas. O tempo passa, e fica cada vez mais distante a aliança entre os dois partidos. Nada é impossível em política, já dizia mineiro Tancredo Neves, mas a tendência é que DEM e MDB sigam apartados, pelo menos no primeiro turno. Caiado sonha com a divisão na base aliada. A hipótese de Demóstenes substituir Lúcia na chapa governista alimenta a esperança de que a senadora venha a compor chapa consigo. Caiado teria então Wilder e Lúcia ao seu lado, e provavelmente na vice um nome do Podemos, como o deputado estadual Lívio Luciano, ou uma surpresa. Nos bastidores comenta-se o convite que Caiado fez à deputada federal Flávia Morais (PDT) para ser sua candidata a vice-governadora.
O MDB de Daniel Vilela vive dilema parecido com o DEM de Ronaldo Caiado. A chapa já conta com um nome predefinido: o deputado federal Pedro Chaves reivindicou antecipadamente uma das vagas na chapa ao Senado. Ele terá que enfrentar o ex-vereador e ex-secretário de Planejamento Agenor Mariano na convenção, mas com cinco mandatos de deputado federal e um de estadual, é provável que já está com a vaga garantida. Daniel também tem expectativa de uma divisão no bloco situacionista, e aspira uma aliança tanto com Vilmar Rocha (PSD) quanto com a senadora Lúcia Vânia (PSB). A tendência, no entanto, é que formalize aliança com o PRP, que hoje é dirigido no Estado pelo vereador goianiense Jorge Kajuru, pré-candidato a senador. Kajuru pleiteou aliança com Caiado, que não garantiu esta possibilidade, convidado-o para se filiar ao DEM e ser candidato a deputado federal. Focado na disputa para o Senado, Kajuru preferiu continuar no PRP, e trabalha a possibiidade de aliança com MDB.
PESQUISA
A última pesquisa Serpes, divulgada pelo jornal O Popular, revela que em Goiânia a liderança na corrida pelo Senado é do vereador Jorge Kajuru (PRP) com 15,8%. Marconi e Lúcia estão tecnicamente empatados com 12,7% e 11,9%, respectivamente. O ex-senador Demóstenes Torres (PTB) aparece com 8,5%, o deputado federal João Campos (PRB) alcança 5,4%, o senador Wilder Morais (DEM), 1,7% e o deputado federal Pedro Chaves (MDB) 1,4%. Praticamente um terço do eleitorado da Capital está indeciso (29,1%) e 7,6% preferem anular o voto. No quadro geral, considerando todos os municípios, Marconi lidera a pesquisa Serpes com 16,1%, Lúcia mantém-se na faixa de 11,7%, Kajuru fica com 8,4%, Demóstenes, 6,1%, João Campos, 5,2%. Vilmar Rocha (PSD) vem a seguir com 5,1%, Pedro Chaves, 2,6% e Wilder, 1,4%. O total de indecisos aumenta, e chega a 35,3% e os que pretendem anular o voto também, somando 8,1%.
Na espontânea, os três candidatos estão praticamente empatados. Marconi tem , 4,7%, Lúcia 2%; Kajuru tem 1,7%. Demóstenes soma 1,2%; João Campos, 1,1%; Pedro Chaves tem 0,5% e Vilmar, 0,4%. Os indecisos saltam à extratosfera, e chegam a 82% e 5,8% pretendem anular o voto ou não votar
Marconi Perilo (PSDB) também lidera a rejeição com 34% de eleitores que dizem que não pretendem lhe dar o voto. O segundo mais rejeitado é Demóstenes com 33% e Kajuru o terceiro com 21,6 %. Entre os favoritos, Lúcia Vânia é uma das que têm menor rejeição, com 19,6%. A pesquisa Serpes foi realizada entre os dias 30 de março e 5 de abril, foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo número BR-07829/2018 e no Tribunal Regional Eleitoral sob o protocolo número GO-05562/2018 no dia 29 de março de 2018. 801 eleitores foram ouvidos nas regiões de Goiânia, Inhumas, Nerópolis, Anápolis, Goianápolis, Guapó, Senador Canedo, Aparecida de Goiânia, Porangatu, Uruana, Ceres, Abadiânia, Luziânia, Novo Gama, Formosa, Simolândia, Águas Lindas, Piracanjuba, Ipameri, Catalão, Morrinhos, Itumbiara, Santa Helena, Rio Verde, Jataí, Caçu, São Luís de Montes Belos, Iporá, Vila Boa de Goiás e Faina. A margem de erro é de 3,5% percentuais para mais ou para menos.
Disputa eletrizante nas eleições de 1990 e 2002
Na história recente, as disputas mais eletrizandes para o Senado se deram nas eleições de 1990 e de 2002. Em 1990 apenas uma vaga estava em disputa, e o deputado federal Pedro Canedo (PFL) e o vice-governador Onofre Quinan (PMDB), ambos de Anápolis, disputaram voto a voto até a última urna. Quinan venceu por uma pequena margem de 12.006 votos, somando 633.086 contra 621.080 de Canedo. Em 2002, a diferença foi ainda menor: por apenas 9.531 votos, Lúcia Vânia (PSDB) garantiu a vaga impedindo a reeleição do então senador Iris Rezende (PMDB). Lúcia cravou 1.057.358 votos e Iris 1.047.827. Em comum estas duas disputas têm o fato de que o candidato a governador nestas respectivas campanhas venceu por ampla margem, e, por assim dizer, “arrastou”, os seus candidatos a senadores.
1990
Em 1990, Iris Rezende (PMDB) foi candidato pela oposição ao Palácio das Esmeraldas e mesmo peitando a máquina administrativa foi eleito no primeiro turno com 56,39% dos votos e sua coligação fez onze dos dezessete deputados federais. Nas eleições de 2002, Marconi Perillo (PSDB) foicandidato à reeleição e venceu a disputa no primeiro turno com 51,21% dos votos, garantiu as duas vagas no Senado, com Demóstenes Torres (PFL) e Lúcia Vânia (PSDB), e sua coligação elegeu onze deputados federais.
No pleito deste ano, as pesquisas mostram um cenário favorável à oposição, que pode se confirmar, ou não, até o final do pleito. Como demonstraram os números do Serpes, a chapa governista (Marconi e Lúcia) tem potencial para garantir as duas vagas, mas o desempenho ainda fraco do candidato a governador pode comprometer a eleição de um ou de ambos.
OPOSIÇÃO
A oposição não está fora do páreo, com Kajuru ameaçando uma das vagas, e em caso de divisão na chapa situacionista, o jogo pode complicar muito para o Palácio das Esmeraldas. A tendência só irá ficar clara após as convenções partidárias A formalização das chapas definira o jogo do Senado nestas eleições.