Redes de ódio na política
Redação DM
Publicado em 13 de abril de 2018 às 02:15 | Atualizado há 5 meses
Intolerância e ódio são o que mais se tem visto disseminado pelas redes sociais, principalmente, em questões políticas. O Brasil encontra-se dividido em dois polos: direita e esquerda, ‘coxinhas’ versus ‘mortadelas’, defensores de Lula e apoiadores de Sérgio Moro. O respeito a opiniões contrárias não existe mais, restando apenas ataques mútuos. Não há debate de ideias, mas ofensas e a defesa, na maioria das vezes, irracional de um posicionamento político. Um ambiente de verdadeira intolerância que remete aos tempos de barbárie.
Em entrevista ao Diário da Manhã, o professor, especialista em Marketing, Inovação e Mídia Digital e vice-presidente da Associação Brasileira das Agências e Agentes Digitais em Goiás (Abradi-GO), Leonardo Diogo Silva, destaca que há diversos fatores que explicam o fato de as pessoas demonstrarem ser mais intolerantes pelas redes sociais, principalmente a questão do anonimato. “As pessoas têm a falsa ilusão de que tratando no ambiente digital, falando pela internet, pelas redes sociais, elas conseguem ficar com um certo anonimato, ou conseguem ter uma falsa noção de barreira. Desta forma, elas se sentem livres e justamente por isso, intolerantes. Na internet, as pessoas são o reflexo aguçado do que são no dia a dia”, explicou Leonardo Diogo.
Para o consultor em políticas públicas e cofundador do Movimento Acredito, José Frederico Lyra Netto, o Brasil vive uma polarização crescente e as redes sociais intensificaram essa divisão político-partidária. “Em 2013, estávamos juntos nas ruas protestando por melhores serviços públicos. Já em 2015, estávamos em diferentes lados do muro do impeachment. A divisão esquerda-direita e coxinha-petralha se intensificou com as redes sociais, que filtram em nossa linha do tempo posições como as nossas. As bolhas ecoam nossas crenças e intensificam a divisão”, destacou ao Diário da Manhã.
Nesse ambiente intolerante das redes sociais é possível observar muitas amizades desfeitas por conta de ideologias e opiniões contrárias sobre a política brasileira, os unfollows e/ou blocks. Leonardo Diogo ressalta que não é somente em relação à política, “mas a intolerância, de uma certa forma, está muito em evidência”. O professor reforça que as pessoas têm a falsa impressão de que um simples clicar em bloquear, parar de seguir ou deixar de ser amigo pelas mídias sociais estará excluindo o outro da sua vida. “Não excluímos uma pessoa, o que é possível é evitar o contato. O fato disso acontecer no cenário político é bem evidente, como a opinião sobre política define muito sobre a pessoa. Tem pessoas que não têm maturidade para lidar com essas situações e preferem evitar, ao bloquear, por exemplo, pessoas que pensem diferente”, destaca.
AMBIENTE HOSTIL
O jornalista Elpides Carvalho afirma que teve amizades desfeitas pelas redes sociais devido seu posicionamento político, sendo hostilizado até mesmo por seus familiares. Elpides destaca que o atual momento de polarização político-partidária promove o embate, principalmente pela internet. “Se tratando de rede social, quando o assunto é política, no Brasil, a gente nem sempre espera cordialidade, respeito ao diferente. Pois o que reina mesmo é o discurso de ódio”.
Elpides frisa que já sofreu muito e ainda sofre pelos meus posicionamentos políticos nas redes sociais. “Mas não abro mão da minha certeza ou do que penso por conta de opiniões contrárias. Em relação às amizades, tive algumas que se desfizeram de nossa amizade virtual, sim. Eles te ofendem antes, tentam por tudo fazer você acreditar que a opinião deles é a verdade e, em seguida, vem de bloqueio ao fim da amizade virtual. Isso quando não se estende ao campo real”, ressalta.
MÍDIAS HATERS
A palavra intolerância vem do latim, intolerantia, que significa impaciência e incapacidade de aguentar. Outra definição do termo é se ter uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões. Regimes políticos autoritários como nazismo, fascismo, ditadura militar e o comunismo foram baseados na intolerância, ou seja, regimes que não respeitaram as diferenças ou as opiniões dos outros e impuseram o seu sistema como o melhor e o “correto” a ser seguido. As pessoas que não têm empatia (se colocar no lugar do outro) costumam ser intolerantes e, por isso, reproduzem discursos raivosos e de ódio contra aqueles que têm uma opinião contrária da sua. No caso das redes sociais, podem ser considerados os haters.
Leonardo Diogo frisa que o anonimato propiciado pela internet faz com que discursos de ódio sejam disseminados sem pudor e destaca que plataformas abertas como Facebook, Instagram e Youtube tendem a conter posts/comentários intolerantes. “No Whatsapp acontece de maneira mais fechada, pois a divulgação é feita de pessoa para pessoa ou disparos em listas, mas ainda assim são pontuais ou em grupos, que também são situações fechadas ou isoladas”, diferencia.
Questionado como surgem os haters nas redes sociais, o especialista ressalta que nas mídias sociais as pessoas costumam e tendem a ser mais ácidas, falar mais o que pensam, justamente por esse sentido de acharem que estão em uma redoma de vidro, são intocáveis e podem ficar de certa forma no anonimato. “De certa forma fazem até como maneira de provocação mesmo para saber até onde aquele assunto pode chegar, como se fizesse parte de um debate e não estar na frente daquela pessoa é como se estivesse relativamente protegido”, explica e completa: “Essa questão dos haters, eles surgem de qualquer local, não tem critério específico para dizer de onde eles surgem. Muitas vezes são criados perfis falsos, mas ainda assim são seres humanos que estão se fantasiando ali”.
Além do polarização existente no momento atual no cenário político do Brasil, as redes sociais também devem influenciar ainda mais as eleições deste ano. Conforme o especialista em marketing digital, as mudanças na legislação proporcionarão tal atuação, visto que será permitido propagandas pagas. “Vão influenciar muito, inclusive, porque existem novas regras este ano que pela primeira vez permitirão que campanhas sejam patrocinadas dentro do Facebook e na plataforma do Google para links patrocinados. Isso será permitido, com certeza as mídias sociais terão um fator mais predominante ainda, porque agora será possível fazer mídia, pagar para poder aparecer”, frisa.