Escolhas
Redação DM
Publicado em 2 de abril de 2018 às 22:29 | Atualizado há 7 anos
Mulheres não são tão nostálgicas, a maior prisão e memória é daquilo que poderia ter sido. Reunidas as amigas – e no fim só sobrarão elas, já que os homens morrem primeiro – a primeira revela que ele vem visitá-la essa noite. Um turbilhão de sentimentos explode, já que todas conhecem a história em seus mais íntimos pormenores. “Every time you touch me I become a hero… When you tell me that you love me.”
Seria naquele dia em que a chamou para nadar segunda feira à noite e ela não foi? Ou então aquele outro que convidou sua amiga para passear em Campos do Jordão e ela recusou com medo da desaprovação dos pais? Quantas oportunidades foram perdidas em palavras e não transformadas em atos? “If you need me call me no matter where you are. No matter how far don’t worry baby. Just call my name. I’ll be there in a hurry… Ain’t no mountain high enough.”
As perguntas se sucedem e cada uma tem uma história diferente de recusa e fuga. Desfiam-se homens maravilhosos, doces, compreensivos, obviamente todos idealizados. Onde apenas um beijo já se pode imaginar casada e com dois filhos lindos… “You took a mystery and made me want it. You got a pedestal and put me on it. You made me love you out of feeling nothing…Chain reaction.”
O mais palpável é aquele que mexe sem explicação alguma. Não é o mais bonito, nem de corpo nem de rosto. Mas comove. Leva a arrepios e fantasias – essas sim – nunca declaradas. “Upside down. Boy, you turn me. Inside out. And round and round… Upside down.” Por que ele a visitaria naquela noite, agora ela já de meia idade, com os cabelos sem o viço da juventude e – ela que nunca fora tão magra – uma ligeira gordurinha aqui e ali. Qual o porquê?
Nenhuma delas ousa dizer as razões. Talvez ele seja apenas gentil, aliás; como sempre o foi. Ao que pesa ele estar casado e ela, obviamente, não ser ciumenta. O quanto ela gostaria de dizer que demorou muito para desabrochar, para se livrar de convenções e valores sociais e agora é livre. “I’m coming out. I want the world to know. Got to let it show. I’m coming out.”
“You seem to fall in love and out again. Do you really ever love. Or just pretend, oh, baby. Why fool yourself. Don´t be afraid to help yourself. It´s never too late, too late to…Stop, look, yes, listen to your heart.” Seria aquele homem o primeiro e único? Ou dentro todos, o escolhido? Como saber o destino de toda uma vida em um instante sequer. A verdade é que ninguém sabe e é necessária a entrega. Qual delas verdadeiramente se entregou?
“Since you’ve been away. I’ve been down and lonely. Since you’ve been away. I’ve been thinking of you. I’m missing you. Tell me why the road turns. Ooh ooh… I’m missing you.” A falta que ele faz poderia ser preenchida por outro ou por atividades mil; paixões, objetivos. Mas não, ela se fixou anos e anos naquele rapaz que ela mesmo dispensou.
O amor verdadeiro não tem início nem fim. Ele é uma constante de conquistas e cumplicidade. “And your eyes, your eyes, your eyes. They tell me how much you care
Ooh yes.You will always be… My endless love”. Seria o amor imaginado, o amor alimentado? Onde dentro dos corações dessas mulheres, floresceu a dedicação diária. A luta entre a rotina e os céus?
Talvez a mudança seja agora. Nunca é tarde. Para amar alguém a condição primordial é se amar também. O amor é um só. A alma gêmea só existe se moldada com os anos, com a paciência das expectativas, realizadas ou não. “It’s my turn. To see what I can see. I hope you’ll understand. This time’s just for me… It’s my turn.”
Em suma, só o amor constrói. Dentre todas ali presentes, só uma não se manifestou. Ela era bem sucedida, isso é plausível. Magra, até perdoável. E feliz, isso seria inadmissível! “I was so right, so right.Thought I could turn emotion, on and off.
I was so sure, so sure. But love taught me. Who was, who was… who was the boss.” Bem cedo descobrira que sua felicidade dependeria tão e somente dela. Só isso…
E então ela se levantou, com seu vestido simples e cabelo anelado. Como uma Diana Ross em um show, disse a querida amiga. Recebe ele com um sorriso é o que todo homem gosta, de mulher que sorri. E com seus olhos – outra parte que jamais envelhece – mire-o com delicadeza. Mantenha as pernas firmes – outra porção do corpo que pode ser mantida ad eternum – e o convide para ouvir uma música. “Do you know where you’re going to? Do you like the things that life is showing you. Where are you going to? Do you know? ” No mais, em vez de sonhar, aja.
(JB Alencastro, médico)