Falo o que penso, mas não penso o que falo
Redação DM
Publicado em 28 de março de 2018 às 23:12 | Atualizado há 7 anosUma das maiores conquistas do Estado Democrático de Direito é, sem sombra de dúvida, a liberdade de expressão, mas muitos enveredam-se para a libertinagem na expressão.
Posso falar o que penso? Posso! Desde que, se interpelado judicialmente, tenha como provar o que digo, pois o ônus e a responsabilidade da prova recaem a quem acusa, mesmo que se baseando em deduções ou declarações de terceiros. Quem compartilha toma parte e responde conjuntamente.
Nas mídias sociais e até em horários eleitorais, o que não falta são xingatórios descomunais que, quase sempre, ultrapassam os limites da razoabilidade. A grande maioria não tem o menor receio de ofender, difamar, inventar e, o que mais triste, instigar a ira de outros descontrolados. Aqui, figura muito a presença do troll – o que constrói uma história mentirosa e publica no intuito de provocar uma discussão.
A liberdade de expressão poder encontrar problemas quando atinge os direitos fundamentais. Observa-se que o direito fundamental da liberdade de expressão não é absoluto, e pode ser uma grande dor de cabeça quando atinge a honra e a imagem de terceiros. Violados esses direitos individuais da vida privada, é assegurado o direito à indenização.
É comum vermos o descontrole emocional de alguns pré-candidatos, que desejam passar uma imagem de bravo e valente mas que, na verdade, acabam por desanimar ainda mais os eleitores. Já percebemos muitos índices de pesquisas despencarem pela falta de argumentos sólidos e pela agressividade aleatória.
Aos deputados cabe a famigerada imunidade parlamentar, que é a liberdade e independência do exercício de suas atividades sem o risco de serem processados judicialmente. Durante o mandato não podem ser presos, exceto em situação de flagrante cometendo crime inafiançável. Neste caso, a decisão de prisão do congressista fica a cargo da Câmara dos Deputados ou Senado Federal, dependendo da Casa a que o político pertença.
Outra aberração é o foro privilegiado, cujo mecanismo permite que o congressista só possa ser investigado e preso após decisão tomada diretamente pelo Supremo Tribunal Federal.
Mas é importante ressaltar que essas duas prerrogativas não cabem ao cidadão comum, principalmente os participantes das Redes Sociais, que julgam e execram pessoas, famílias e administrações.
É lamentável que a paixão política e os interesses pessoais, sobressaiam ao bom senso e à mínima educação e civilidade. Sinônimo de coragem não está no que se diz, mas no que se é. O que bate no peito e se diz honesto, querendo impor sua idoneidade, pode estar repleto de imperfeições. Lembro-me sempre da lição evangélica, em Mateus 7:3-5: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho”.
Nunca acreditei em “salvador da Pátria”, esses que nos apresentam críticas ácidas mas não apontam soluções aos problemas de segurança, saúde, educação e inclusão social. Nosso país passa por uma crise institucional enorme e cabe a nós, eleitores, expurgar com o nosso voto os que não compactuam com a verdade e fazem de seus mandatos trampolim para seus próprios interesses. O que propõe inovação pode, muitas vezes ser sinônimo de retrocesso.
Percebo muita paixão política e pouco senso de justiça. O que não falta são os do tipo “maria vai com as outras”, ausentes de posicionamento crítico consistente e verdadeiro.
A oposição é benéfica à democracia, desde que caminhe dentro dos limites da razoabilidade e do respeito ao contraditório. Ninguém precisa aceitar este ou aquele, mas todos devemos respeitar a opção de terceiros, sem lhes querer impor as nossas contrariedades e vontades.
Madre Teresa ensinou: “Quem dedica tempo tentando melhorar a si mesmo não tem tempo para criticar os outros”. Eis aqui quatro bons conselhos, antes de criticar: O tempo que você passa falando mal dos outros é o tempo que você perde com você mesmo; a crítica revela as inseguranças de quem critica; ao contrário do que se pensa, criticar apenas destrói a pessoa que critica; o mundo muda com o seu exemplo, não com sua opinião”.
(Cleverlan Antônio do Vale, administrador de empresas, gestor público, pós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, articulista do jornal Diário da Manhã. cleverlanva[email protected])