Maria Madalena, a mulher amada por Cristo
Diário da Manhã
Publicado em 21 de março de 2018 às 01:22 | Atualizado há 4 meses
Maria Madalena é comumente descrita dentro do cristianismo como uma prostituta, defendida do apedrejamento por Jesus Cristo. Mas isso pode se tratar de um equívoco, uma interpretação do Papa Gregório em 591, que perpetuou-se pela história. Não existe registro no evangelho que a descreva como prostituta. Desde o ano de 2016 Maria Madalena foi reconhecida pelo vaticano como Evangelista, ou seja parte do grupo que espalhava as boas novas, ou o evangelho. A partir de 2016 o dia 22 de julho, que era dedicado a memória de Madalena, tomou status de festa da igreja católica.
Esta decisão do Vaticano se deve às atuais discussões sobre a dignidade da mulher e sua participação na igreja católica. “A decisão inscreve-se no atual contexto eclesial, que exorta a refletir mais profundamente sobre a dignidade da mulher, a nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina. João Paulo II dedicou uma grande atenção não só à importância das mulheres na própria missão de Cristo e da Igreja, mas também, e com relevo especial, à peculiar função de Maria de Magdala como primeira testemunha que viu o ressuscitado e primeira mensageira que anunciou aos apóstolos a ressurreição do Senhor”, explicou em documento na época o Arcebispo Arthur Roche, Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
O Papa Francisco tomou esta decisão precisamente no contexto do Jubileu da Misericórdia para significar a relevância de Maria Madalena. De acordo com o Papa ela “demonstrou um grande amor a Cristo e por ele foi muito amada, como afirmam Rábano Mauro e santo Anselmo de Canterbury”. O Vaticano ainda explicou como se propagou a visão distorcida de Maria Madalena: “Certo é que a tradição cristã no Ocidente, sobretudo depois de são Gregório Magno, identifica na mesma pessoa Maria de Magdala, a mulher que derramou o perfume na casa de Simão, o fariseu, e a irmã de Lázaro e Marta. Esta interpretação continuou e teve influência nos autores eclesiásticos ocidentais, na arte cristã e nos textos litúrgicos relativos à santa”.
De acordo com o Vaticano, Maria Madalena teve seu papel delegado a uma menor importância. De acordo com o cristianismo ela foi a prima testis, ou seja a primeira testemunha, da ressurreição de Cristo, tendo encontrado o sepulcro vazio. “O evangelho de João narra que Maria Madalena chorava, porque não tinha encontrado o corpo do Senhor; e Jesus teve misericórdia dela fazendo-se reconhecer como mestre e transformando as suas lágrimas em alegria pascal”, relatou o Arcebispo Arthur Roche.
MARIA MADALENA NO CINEMA, COM UM NOVO ENFOQUE
A cinebiografia Maria Madalena (Mary Magdalene) – que retrata a vida de uma das figuras mais enigmáticas e incompreendidas da história, chegou às salas de cinema neste mês de março. A produção tem direção de Garth Davis, de Lion – Uma Jornada para Casa, e apresenta a história de uma jovem em busca de uma nova maneira de viver. Contrariada pelas hierarquias, Maria Madalena, interpretada por Rooney Mara, desafia sua família tradicional para se juntar a Jesus de Nazaré vivido pelo ator Joaquin Phoenix. Ela logo encontra um lugar para si mesma dentro de um movimento que a levará para Jerusalém. Além dos indicados ao Oscar Rooney Mara e Joaquin Phoenix, o filme ainda traz Chiwetel Eijofor e Tahar Rahim no elenco. O roteiro é assinado por Helen Edmundson e Philip Goslett.
A Maria Madalena de Rooney Mara é centrada na luta contra o destino dado às mulheres da época. O enfoque vai muito além da figura perpetuada de uma pecadora arrependida. A história desta personagem bíblica tem sido reescrita nos últimos tempos. Seu papel histórico começou a ser resgatado no ano de 1896, quando houve a descoberta de um Evangelho que supostamente seria de sua autoria. Nesses fragmentos, que não fazem parte dos textos tradicionais da fé cristã, Maria Madalena aparece como grande seguidora de Jesus e uma das líderes responsáveis por espalhar sua palavra.
No texto fragmentário os discípulos fazem perguntas a Cristo ressuscitado as quais são por ele respondidas. Depois os discípulos são enviados para pregar o evangelho do reino e vai embora. Os discípulos ficam tristes, sentindo-se incapazes de cumprirem o mandamento. Então, Maria madalena, é quem os anima a cumprir a tarefa deixada por Cristo. Pedro pede a Maria que comunique aos apóstolos as palavras do Salvador que eles não tinham escutado, porque sabem que ele “amava-a mais do que às outras mulheres”. A posição da mulher dentro da igreja e na perpetuação do evangelho, historicamente secundarizada, é questionada por estes escritos.
A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (1998)
A figura de Maria Madalena no cinema já desempenhou outros papéis. Caso por exemplo do longa A Última Tentação de Cristo, de 1998, dirigido por Martin Scorsese. No filme Jesus sofre com vários sentimentos humanos medo, dúvida, depressão, relutância e luxúria. É baseado no romance homônimo de Níkos Kazantzákis, publicado em 1951. O filme mostra Jesus sucumbindo à vida humana inclusive imaginando-se envolvido em atividades sexuais, uma ideia que provocou na época indignação de alguns cristãos. A película mostra Cristo se casando com Maria Madalena, tendo filhos e envelhecendo como um homem qualquer e o mostra o feliz ante sua nova condição. Trata-se de uma obra de ficção sem base no evangelho.
Jesus (Willem Dafoe) é um carpinteiro que vive um grande dilema, pois é quem faz as cruzes com as quais os romanos crucificam seus oponentes. Resumindo, Jesus se sente como um judeu que mata judeus. Vivendo um terrível conflito interior ele decide ir para o deserto, mas antes pede perdão a Maria Madalena (Barbara Hershey), que se comporta como uma como uma mulher que quer sentir um homem ao seu lado.
MARIA DE MAGDALA
A formação do nome dessa mulher é um tanto quanto polêmica. No grego original dos evangelhos, ela nunca é ‘Maria Madalena’. Na verdade, ela é descrita como ‘Maria, chamada Madalena’, ou ‘Maria, a Madalena’, como se o segundo nome fosse dado à ela como um título. A suposição que muitos pesquisadores fazem é que esse título seja referente à sua origem, embora essa informação não conste no Novo Testamento. A hipótese é que ela seja Maria, de Magdala, uma aldeia frequentemente descrita por viajantes como um local insalubre, miserável e pobre. Essa aldeia estava na região onde hoje é o Iraque.