O passado os condena
Diário da Manhã
Publicado em 20 de março de 2018 às 22:33 | Atualizado há 7 anos
Fizeram uma festa regada a um foguetório pouco visto na reinauguração do Ginásio Internacional Dimas Gomes Pires, talvez para compensar um público escasso que ali compareceu. Mas isso não vem ao caso. O que importa é o fato de querer passar para a população a imagem de que não estavam simplesmente reinaugurando uma obra já feita e construída por outros, mas, uma obra nova, de tão forte magnitude que pudesse ter o condão de apagar a antiga da memória coletiva. Era preciso esquecer o passado, ou seja, seus quase 25 anos ou mais de existência, mesmo porque, o passado simplesmente os condena. Afinal, durante esses 25 anos de existência, o Ginásio muito pouco foi usado, ficando em grande parte de seu tempo totalmente desativado, ocioso. Uma obra dessa magnitude sem nenhuma serventia para a população, alvo que foi de brigas entre os dois grupos políticos, que ora passava para a gestão de um e, o outro, tratava de bloquear e, ora passava para as mãos de outro e, também, via sua gestão paralisada. Enfim, um carnaval de incompetência, desmandos e gestão desastrada como nunca se tinha visto. Em nenhum momento pensaram na população e em colocar toda a sua estrutura em seu benefício. Não, o importante era não deixar que o grupo adversário pudesse gerir e colocar à disposição da comunidade. Mas isso, era preciso apagar da memória e esquecer, são anos atribulados de puro desacertos e brigas estéreis entre dois grupos políticos. Agora, em véspera de eleição o deputado Gustavo Sebba precisa aparecer diante dos olhos da população como o redentor, o responsável não só pela restauração, mas muito mais do que isso, pela própria obra em si. Nada do passado. Esqueçam! Por isso, nenhuma menção ao governador Henrique Santillo, quem realmente construiu essa obra 25 anos atrás. Nem mesmo, o governador Marconi poderia menciona-lo, mas isso foi inconcebível de sua parte corroborar para que montassem uma pantomima como essa.
Lembro bem, era Secretário de Planejamento de seu governo, não sei ao certo, lá pelos anos de 1988, quando o governador Santillo me chamou em seu gabinete e me disse: Fernando, quero construir uma obra em Catalão que deixe nossa marca de governo. O que podemos fazer para Catalão? Eu disse a ele que não sabia e que o certo era chamar o prefeito, Haley Margon e decidir com ele essa obra. É bom lembrar que naquelas alturas do campeonato ainda permanecia algumas rugas políticas com o prefeito por pertencer a ala irista e manter animosidade e divergências internas dentro do PMDB. Mas Santillo passou por cima disso e o Haley compareceu logo em seguida a seu gabinete. Lá chegando foi colocado para ele que queria que nos ajudasse a escolher uma obra de impacto para Catalão. Na oportunidade, Haley listou quatro obras que segundo ele era importante: uma delas, seria o asfalto de Catalão a Santo Antônio do Rio Verde, naquela época não estava asfaltada; a outra, seria uma escola de tempo integral, tipo Caic; outra, era o Ginásio de Esportes; e, a quarta não me lembro mais. Listada as quatro opções foi escolhido o Ginásio de Esportes e de pronto, Santillo, disse que já tinha o projeto que era igual ao que iria construir em Anápolis. Assim, apenas duas cidades em Goiás iriam ter um Ginásio Internacional, Catalão e Anápolis. Infelizmente, Santillo não pode inaugurar o de Catalão, deixando no final de seu governo com mais de 80% da obra construída. Iris Resende, quem lhe sucedeu, terminou e inaugurou pouco tempo depois.
Essa a estória que não pode ser apagada mesmo que queiram apropria-la indevidamente. Omitir o nome de Santillo na reinauguração é um equívoco tão grande e grotesco que esconde a má fé de querer passar para a população a falsa imagem de que tudo começa e termina com ele. Diante de um país tão conturbado por problemas mais relevantes as vezes é preciso baixar a bola e tratar de questões menos importantes, mas nem por isso carece que se faça justiça.
(Fernando Safatle, economista – Fernando.safat[email protected])