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Homenagem ao mestre Zorzetti

Redação

Publicado em 19 de março de 2018 às 22:14 | Atualizado há 4 meses

Anzóis no Aquário, texto que fecha a trilogia em que Hugo Zorzetti aborda o universo do fazer teatral, está de volta à cena, nesta quinta-fei­ra, dia 22 de março, às 20 horas, no Teatro Sesc Goiânia Centro. A peça revela a crise vivida por um encenador no processo da cria­ção: o conflito entre suas expec­tativas quanto às montagens que realiza, os percalços naturais do ofício, e até mesmo suas limita­ções de talento e criatividade.

Pedro Zollo (Alex Amaral), bem-sucedido encenador de pe­ças infantis, amarga a frustração de nunca ter conseguido realizar a montagem de um bom espetáculo para o público adulto. Pior que isso: vê-se oprimido pela implacável e mordaz avaliação de Igor (Jonatas Tavares), um crítico teatral malsu­cedido que vê sua produção críti­ca refutada pela imprensa. Cruel, o crítico ignora sacrifícios a que qual­quer encenador se expõe. Para sua visão científica, o que importa é o resultado levado à cena.

Evidentemente, o encenador não deixa por menos. Questiona o fato de a produção do crítico não alcançar espaço na imprensa, e chega a pôr em dúvida a hones­tidade e o espírito científico do seu antagonista. Nesse “ambien­te”, é natural que os ânimos se acir­rem, que as personagens troquem farpas cada vez mais pontiagu­das, mais incisivas, mais destrui­doras. É natural que os egos aflo­rem, e que os oponentes cheguem às raias do irracional.

Simbolicamente, “Anzóis no Aquário” expõe a fratura do mile­nar conflito humano, o drama in­gente da existência. Neste senti­do, atualiza a tragédia grega como espelho de uma civilização plena de desumanidades. O autor utili­za o mundo do teatro para tradu­zir a pluralidade das provocações estéticas que se arriscam revolu­cionárias, as idiossincrasias ideo­lógicas do mundo real, com seus empenhos sociopolíticos e suas contradições econômicas.

Sustentam as personagens da peça que a frivolidade alimenta a maioria dos conflitos, em que, dentre outros patrocinadores, está a suprema e incontrolável vaida­de dos artistas. O tema não é estra­nho à dramaturgia. A guerra “ve­lada” travada pelos encenadores, movidos pela vaidade exacerba­da, ou pelo embate na conquista do mercado de trabalho, além das divergências políticas ou estéticas, já foi tratada, aqui e ali, mas nun­ca esgotada como referente de um mundo cujas aparências são de in­cessante glamour e de eterna e im­provável harmonia.

Na realidade, o homem e a mu­lher de teatro sempre preferiram esconder e negar, em vez de trazer a público as intrigas, as conten­das, as feridas éticas e os hemato­mas profissionais que mancham as rotundas e enodoam as empa­nadas que revestem os bastidores teatrais. Espalhando anzóis no in­sano aquário da realidade do dia a dia do fazer teatral, Hugo Zor­zetti traz os bastidores do teatro para o proscênio; os anzóis para a boca da cena.

No Programa da peça, prepa­rado tanto para a estreia, em ou­tubro passado, durante o Goiâ­nia em Cena, quanto para toda a temporada no Estado de Goiás, Nilton Rodrigues, diretor do es­petáculo, assinalou que “Anzóis no Aquário” marcaria “uma nova fase na dramaturgia de Hugo Zorzetti”. Segundo o diretor, nes­se texto nota-se um humor re­quintadíssimo, calcado em situa­ções de extrema tensão, em uma escrita irretocável. Quis o desti­no que “Anzóis no Aquário’ não fechasse apenas a trilogia zor­zettiana que tematiza o teatro. O texto é também a última peça es­crita por esse homem que, mal­grado ter partido tão cedo, deixa um legado de inequívoco valor, que faz dele o mais importante nome das artes cênicas de nos­so Estado e um dos mais expres­sivos autores teatrais do Brasil.

A montagem de “Anzóis no Aquário” pelo Teatro Exercício tem o patrocínio do Governo de Goiás, Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes e Belcar Cami­nhões e Cidadania, através da Lei Goyazes de Incentivo à Cultura.

SERVIÇO:

Anzóis no Aquário, de Hugo Zorzetti

Duração: 60 minutos

Quinta-feira, 22 de março, às 20 horas

Teatro Sesc Goiânia Centro, Rua 19, esquina com Rua 15, Centro

Ingressos: R$ 20,00 inteira

R$10,00 meia

Preços especiais para comerciários

FICHA TÉCNICA

Direção: Nilton Rodrigues

Assistência de Direção e Sonoplastia: Odilon Camargo

Elenco: Jonatas Tavares e Alex Amaral

Iluminação: Ilson Araújo

Cenografia/Adereços: Pedro Lippi

Figurinos /Adereços: Solange Amarilla

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