Opinião: Partidos políticos e profanação das religiões
Diário da Manhã
Publicado em 16 de março de 2018 às 01:25 | Atualizado há 7 anos
Já é tradicional ver políticos influentes como Marconi Perillo (PSDB), Iris Rezende (PMDB), Maguito Vilela (PMDB), Paulo Garcia (PT), Antônio Gomide (PT), Vanderlan Cardoso (sem partido), Alcides Rodrigues (PP) e tantos outros em visitas às igrejas das diversas denominações evangélicas em Goiânia e no interior do Estado, sempre em busca de votos dos fiéis. Iris é membro da Igreja Cristã Evangélica. Vanderlan também é evangélico, Maguito e Paulo Garcia, Gomide e Alcides são católicos.
Em todas as eleições, o Ministério Público fiscaliza a presença de políticos/candidatos nos púlpitos religiosos, já que a legislação impede que se peça votos em templos evangélicos e católicos.
Na bancada federal de Goiás, o destaque maior é o deputado João Campos (PSDB), delegado de polícia e pastor da pastor evangélico da Igreja Assembleia de Deus. A quase totalidade dos vinte parlamentares (senadores e deputados) é católica.
Na Assembleia Legislativa, encontra-se o deputado pastor Fábio Sousa (PSDB), filho do apóstolo César Augusto. Da Igreja Fonte da Vida. O deputado Luiz Carmo do Carmo (PMDB) é membro da Igreja Assembleia de Deus – Campinas, onde seu irmão, Oides do Carmo, é pastor. Simeyzon Silveira é filho do pastor da Igreja Luz para os Povos, Sinomar Silveira. Ademir Menezes (PSD) e Marlúcio Pereira (PTB) também são membros da Assembleia de Deus. Há diversos parlamentares católicos, entre eles, Francisco Júnior e Humberto Aidar.
Na Câmara de Goiânia, entre os evangélicos, o pastor Rogério Cruz, membro da Igreja Universal do Reino de Deus. Célia Valadão e Tayrone Di Martino são adeptos da Igreja Católica.
A lista de políticos evangélicos e católicos é imensa, com atuação em todas cidades goianas, principalmente Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis. São prefeitos, ex-prefeitos. Ex-vereadores, dirigentes partidários e por aí afora. Pedem votos, em cada eleição, dentro e fora dos templos.
Nos governos de Iris Rezende, Henrique Santillo, Maguito Vilela, Alcides Rodrigues e de Marconi Perillo, os líderes evangélicos faziam e fazem indicações de seus protegid9s para importantes cargos da administração municipal. São os chamados “nichos evangélicos” na gestão pública.
“Na gestão de Paulo Garcia (Goiânia), Maguito Vilela (Aparecida de Goiânia) e Antônio Gomide (Anápolis), os evangélicos estão assegurados em cargos de primeiro e segundo escalões.”
Vejam aonde chegamos, certamente porque fazemos política sem saber o que ela significa. Além de não conhecer a Política de Aristóteles e outros monstros da teoria política do passado e mais recente, em âmbito filosófico ou não, os eleitores desconhecem funções de poder por falta de educação política nas escolas. O importante Dicionário de Política (1983), de Norberto Bobbio, não é consultado. A jornalista Melissa Calaça, fez interessante reportagem a respeito . Se não bastasse, o dramaturgo, poeta e teórico do teatro, Bertolt Brecht, escreveu o emblemático poema “O Analfabeto Político”, mostrando que “O pior analfabeto é o analfabeto político”.
“Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política”, devendo ser por isso decerto que temos no Brasil tantas instituições, culturais, cívicas, filosóficas, etc., prevendo nos estatutos que são a-políticas. Prossegue:
“Não sabe o imbecil, que de sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das multinacionais”.
Eis por que, certamente, além de profanar a religião, amesquinhando a política, o Poder Legislativo anda tão submisso, especialmente ao Presidente da República, aos Governadores, aos Prefeitos; o voto evangélico influencia tanto as igrejas nas campanhas eleitorais; aumenta o desejo de imunidade tributária das igrejas, querendo privilégios; a razão do enriquecimento desmedido de dirigentes de instituições religiosas, estimulando a corrupção, possibilitando a política do “faz de conta”, da “empurração com a barriga”, da torcida pelo “quanto mais, melhor”, ou a do “quanto pior, melhor”; aflorando o estimulo da ascensão conservadora da política no país, sobretudo após a derrubada da Presidente Dilma Russeff, crescendo o perfil centro-direita, visível na própria América Latina e Universo afora, onde alguns representantes de partidos mais conservadores, com raras exceções, é claro, estão incontestavelmente raivosos, odiosos e amplamente difundidos, assim evidenciando a defesa do antigo moralismo e do próprio racismo, dos piores por ser genético, mais noutras diásporas do que em Mineiros, quem sabe, influenciados por Donald Trump, Presidente norte-americano.
É assim também que os verdadeiros papeis a serem exercidos pelos Partidos Políticos são omitidos. A história das ideias não é levada em conta. Não é preocupação pedagógica de coordenação ou sala de aula Especialmente no interior, a desinformação é total quanto a degeneração moral e intelectual da direita brasileira , pouco importando se populista ou não. O retratinho colorido esconde o essencial.
E as verdadeiras funções dos Partidos Políticos, onde estão? Por que não são objeto de divulgação, estudo e debate, pelo menos as principais? Ouso sugerir o cientista político Gianfranco Pasquino, em Curso de Ciência Política (2010), registrando: programas governativos, apresentados ao eleitorado, é considerada, teoricamente, a função mais importante. Trata-se de função específica. Recrutamento de novos membros, selecionando os mais competentes para os cargos diretivos, é pressuposto do bom funcionamento do Partido. Colocação de membros dirigentes do Partido em cargos governativos, garantindo uma boa representação dos ideais do Partido. Organização parlamentar e de oposição, ou seja, “(os notáveis e os representantes dos partidos também desenvolvem uma atividade de extraordinária importância na oposição, apresentando alternativas políticas, programáticas e mesmo de estilo aos governos e aos governantes em funções).” Enfim, transmissão de informação, de forma a “aumentar o nível de conhecimentos políticos da população.”
Partidos políticos do Brasil e de Goiás:
Nº Sigla Nome Deferimento Pres. Nacional N° da
Legenda
1 PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro 30.6.1981 Romero Jucá, no exercício da presidência 15
2 PTB Partido Trabalhista Brasileiro 3.11.1981 Roberto Jefferson Monteiro Francisco 14
3 PDT Partido Democrático Trabalhista 10.11.1981 Carlos Lupi 12
4 PT Partido dos Trabalhadores 11.2.1982 Rui Goethe da Costa Falcão 13
5 DEM Democratas 11.9.1986 José Agripino Maia 25
6 PCdoB Partido Comunista do Brasil 23.6.1988 Luciana Barbosa de Oliveira Santos 65
7 PSB Partido Socialista Brasileiro 1º.7.1988 Carlos Roberto Siqueira de Barros 40
8 PSDB Partido da Social Democracia Brasileira 24.8.1989 Aécio Neves da Cunha 45
9 PTC Partido trabalhista Cristão 22.2.1990 Daniel S. Tourinho 36
10 PSC Partido Social Cristão 29.3.1990 Everaldo Dias Pereira 20
11 PMN Partido da Mobilização Nacional 25.10.1990 Antonio Carlos Bosco Massarollo, presidente interino 33
12 PRP Partido Republicano Progressista 29.10.1991 Ovasco Roma Altamari Resende 44
13 PPS Partido Popular Socialista 19.3.1992 Roberto Freire 23
14 PV Partido Verde 30.9.1993 José Luiz de França Penna 43
15 PTdoB Partido Trabalhista do Brasil 11.10.1994 Luis Henrique de Oliveira Resende 70
16 PP Partido Progressista 16.11.1995 Ciro Nogueira Lima Filho 11
17 PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado 19.12.1995 José Maria de Almeida 16
18 PCB Partido Comunista Brasileiro 9.5.1996 Ivan Martins Pinheiro 21
19 PRTB Partido Renovador Trabalhista Brasileiro 18.2.1997 José Levy Fidelix da Cruz 28
20 PHS Partido Humanista da Solidariedade 20.3.1997 Eduardo Machado e Silva Rodrigues 31
21 PSDC Partido Social Democrata Cristão 5.8.1997 José Maria Eymael 27
22 PCO Partido da Causa Operaria 30.9.1997 Rui Costa Pimenta 29
23 PTN Partido Trabalhista nacional 2.10.1997 Renata Hellmeister de Abreu, no exercício da presidência 19
24 PSL Partido Social Liberal 2.6.1998 Antonio Eduardo Gonçalves de Rueda, no exercício da presidência 17
25 PRB Partido Republicano Brasileiro 25.8.2005 Eduardo Benedito Lopes, no exercício da presidência 10
26 PSOL Partido Socialismo e Liberdade 15.9.2005 Raimundo Luiz Silva Araújo 50
27 PR Partido da Republica 19.12.2006 Antonio Carlos Rodrigues 22
28 PSD 55
29 PPL Partido Pátria Livre 4.10.2011 Sérgio Rubens de Araújo Torres 54
30 PEN Partido Ecológico Nacional 19.6.2012 Adilson Barroso Oliveira 51
31 PROS Partido Republicano da Ordem Social 24.9.2013 Eurípedes G. de Macedo Júnior 90
32 SD Solidariedade 24.9.2013 Paulo Pereira da Silva 77
33 NOVO Partido Novo 15.9.2013 João Dionísio Filgueira B. Amoêdo 18
34 REDE Rede Sustentabilidade 22.9.2015 José Gustavo Fávaro Silva
35 PMB Partido da Mulher Brasileira 29.9.2015 Suêd Haidar Nogueira 35
Partidos Políticos de Mineiros:
Nº Sigla Nome Deferimento Nº da
legenda
1 PT Partido dos Trabalhadores 25.7.2002 13
2 PTC Partido Trabalhista Cristão 8.5.2015 36
3 PTB Partido Trabalhista Brasileiro Sem Data 14
4 PSL Partido Social Liberal 26.4.2012 17
5 PSDC Partido Social Democrata Cristão Sem Data 27
6 PSDB Partido Social Democrata Brasileiro Sem Data 45
7 PSD Partido Social Democrata (comissão provisória) 3.10.2011 55
8 PSC Partido Social Cristão Sem Data 20
9 PSB Partido Socialista Brasileiro Sem Data 40
10 PRP Partido Republicano Progressista Sem Data 44
11 PROS Partido Republicano da Ordem Social Sem Data 90
12 PRB Partido Republicano Brasileiro (Comissão Provisória) 8.6.2010 10
13 PPS Partido Popular Socialista Sem Data 23
14 PMN Partido da Mobilização Nacional Sem Data 33
15 PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro 29.3.2010 15
16 PHS Partido Solidariedade Sem data, fundado pela Dra. Flávia 77
17 PEN Partido Ecológico Nacional 6.11.2013 51
18 PDT Partido Democrático Trabalhista Sem Data, fundado por Ernesto Vilela 12
19 DEM Democratas 2.8.2011 25
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado – MNU, da Academia Goiana de Letras, IHGGO, UBEGO, Mestre em História Social pela UFG, professor universitário, articulista do DM – martinianojsilva@yahoo.com.br, parte do Capítulo do Livro “Mineiros: a cidade na História”)