Cozinhar sem medo de ser feliz
Diário da Manhã
Publicado em 14 de março de 2018 às 21:56 | Atualizado há 4 meses
Cozinhar é como um espetáculo, é preciso muita organização, treino, dedicação, conhecimento e amor para que, no final, os cinco sentidos se harmonizem. Cozinhar é como tecer um delicado manto de aromas, cores, sabores, texturas.
Cozinhar é tentar, às vezes é preciso queimar para acertar o ponto. Salgar para aprender a temperar. Talhar para aprender a homogeneizar. ‘Batumar’ para aprender a assar. E errar para aprender a cozinhar!
Cozinhar é um dom. Não é simplesmente seguir a receita. Depende da inspiração e muitas vezes o que temos na geladeira. Há algo mágico no ato de cozinhar. É uma espécie delicada de feitiçaria. Está presente a criatividade e o prazer.
Cozinhar nos situa num lugar muito particular. São momentos sublimes, de êxtase e genialidade. De fato, “carrega uma força emocional e psicológica do qual não podemos ou queremos nos livrar”. Cozinhar é um ato de amor. Se o amor é o ápice mais perfeito da loucura e da sabedoria, cozinhar é uma forma poética de juntar elementos genuinamente diferentes e torná-los agradáveis.
Para Michael Pollan, cozinhar é uma das atividades mais interessantes e recompensadoras que podemos fazer. Dizem que a escritora Agatha Christie fazia da cozinha seu refúgio predileto. Quando seu pai morreu, em 1901, ela estava com 11 anos. Em vez de ir ao funeral, preferiu passar o dia entre pratos e fogões. Certa vez, a autora admitiu que os melhores momentos para inventar uma história eram aqueles passados ao fogão, que cozinhar e escrever eram ofícios muito parecidos.
Outro dia, enquanto almoçava uma comida totalmente sem glamour, comentei rindo com uma amiga que aquela comida nada tinha a ver com o que postava no instagram, afinal não são todos os dias que saem comidas bonitas para fotos, assim como muitas vezes o arroz queima, a comida fica ruim e principalmente quando estou sem saco para nada, os copos quebram, a louça fica gigantesca e a preguiça de fazer qualquer coisa faz com que as comidas congeladas entrem no meu cardápio.
LEMBRANÇAS
E muitas vezes o que faço é só para me sentir feliz, porque minhas lembranças sempre envolvem cheiros, texturas e gostos.
Meu objetivo na coluna “Prazeres à Mesa” não é de ensinar nada, afinal sou gastrônoma e não sou chef e nem tenho pretensão de me tornar, só quero dividir com vocês o mesmo prazer que tenho de fazer a mágica de cozinhar.
E como “Prazeres à Mesa” foi tão bem aceito pelos meus leitores, me sinto cada dia mais incentivada a testar novas receitas, experimentar novos sabores, inventar novas combinações e continuar tentando levar mais Prazer à Mesa.
Como afirma Mia Couto: “Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Cozinhar não é serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros.”
Tanto o ato de cozinhar como de escrever requerem um eterno aprendizado. Dissolvem angústias, minimizam as aflições, orientam uma decisão sábia e ajudam a construir saídas no labirinto criativo.
POESIA NA PANELA
“Cozinhar é a única coisa que, enquanto faço, sinto poder confiar inteiramente. Quando monto um prato, é como se pintasse uma tela, minha mente se esvazia por completo. Tudo se baseia no sentimento”.
Um banquete para os sentidos um gosto de quero mais que escorria dos lábios, muita pimenta, canela e gengibre. Ah! O amor que cuida que ultrapassa as regras que rasga contratos e aceita que as limitações podem sim, impedir de viver. É um momento doce, salgado, picante de amor e poesia.
Em várias regiões diferentes, a linguagem culinária estabelece equivalência em pesos, medidas, modos de fazer e sentimentos. Cada uma tem particularidades compartilhadas em narrativas, poemas e receitas que mostram aspectos interioranos e tradicionais e apontam para o registro e a memória oral, sem a qual essas receitas não existiriam. Cozinhar, comer e amor podem ser colocados na mesma panela. Eles compartilham saberes, sabores.
FOGÃO À LENHA
Tenho muito amor pela culinária e pela poesia temperada com alho, óleo e palavras Sábios são os cozinheiros, pois eles oferecem no prato a oportunidade de conhecimento da cultura, da memória e da identidade dos povos. “Sou mais doceira e cozinheira do que escritora, sendo a culinária a mais nobre de todas as artes: objetiva, concreta, jamais abstrata a que está ligada à vida e à saúde humana”. (Trecho do poema “Quem é você?,” Cora Coralina).
Me lembro quando criança na pensão de minha avó no nascer do sol ela acendia o fogão à lenha. Era um fogão enorme, bem no centro da cozinha com uma chaminé no meio. Tinha então início o dia na cozinha de minha avó, que iria funcionar, sem pausas e o dia seria de muitas delícias. Entre lembranças e panelas, os saberes e sabores desenvolvem uma linguagem poética que destaca o papel da culinária na construção da identidade.
O sabor da vida depende de quem a tempera. Você não precisa cozinhar obras-primas, bonitas e complicadas. Basta preparar boa comida de ingredientes frescos. Lembre-se, até alcachofras têm coração! A verdadeira gastronomia está no que você ainda vai criar.
CAÇAROLA DA SEMANA
VINICOLA AURORA
De 18 a 20 de março, a Vinícola Aurora fará sua 10ª participação na ProWein Dusseldorf, na Alemanha, a maior feira de vinhos do mundo. No estande do Wines of Brasil, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), por meio do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura do Rio Grande do Sul (Fundovitis), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a Aurora mostrará seus espumantes das linhas Brazilian Soul (marca exclusiva de exportação) e Aurora Procedências e fará o lançamento do Aurora Reserva Rosé, vinho que começou a chegar ao mercado brasileiro no último trimestre de 2017.
FIM DAS TAÇAS TIPO FLÜTE
Eric Lebel, chef de cave da Krug, uma das mais célebres casas de Champagne, afirmou que pretende acabar com as taças tipo flüte (flauta – de bojo estreito e alongado). Para ele, essas taças deveriam servir apenas para espumantes de qualidade inferior. “As flütes estão obsoletas”, disse Lebel. “Beber Krug em uma flüte é como ouvir ópera com tampão de ouvido”, apontou a CEO da empresa, Maggie Henríquez. A Krug não é a única casa de Champagne a abolir as flütes. Diversos produtores de renome optam por modelos de bojo mais abaulados, conhecidos como tulipas, para degustar seu vinho.
GUIA DESCORCHADOS 2018
Considerado o maior guia mundial de vinhos da Argentina, Chile, Uruguai e Brasil, o Guia Descorchados, que completa 20 anos, chega à sua edição 2018 com mais de 3 mil vinhos degustados, vindos de 155 vinícolas argentinas, 190 chilenas, 30 vinícolas uruguaias e 16 vinícolas brasileiras. São mais de mil páginas com as notas dadas por Patricio Tapia, idealizador e organizador do guia, que conta com a colaboração de Eduardo Milan, editor de vinhos da Revista Adega. A publicação traz também detalhes sobre as principais uvas, harmonizações e recomendações.
CRÉMANTS FRANCESES
Fabricados pelo mesmo método que o champanhe, os crémants franceses são a mais recente novidade do crescente universo dos espumantes — e são uma escolha sábia, se você quiser abandonar o entediante prosecco.
CAFÉ CARINO
Ambiente descontraído, mesas e cadeiras de formatos e tamanhos variados, ambientes separados. Achei bacana a varanda com trepadeira, bem estilo quintal de casa. Decoração com objetos antigos de muito bom gosto. Para o ambiente nota 10. Já quanto ao serviço, gentil, mas bem devagar. Gostei do chá de hibisco com laranja, detestei a tapioca de carne seca (massa grossa e recheio ruim). Precisa caprichar na gastronomia. Mas é um lugar diferente e bastante aconchegante.