Operação Red Sparrow
Diário da Manhã
Publicado em 6 de março de 2018 às 00:06 | Atualizado há 4 meses
Dominika Ergova (Jennifer Lawrence) é uma estrela do Balé Bolshoi. Aclamada pelo público e crítica, retém o carinho de toda a instituição e por anos tem sido a principal atração da companhia. Tudo muda quando Ergova sofre um grave acidente durante uma das apresentações e machuca uma de suas pernas. Na velocidade em que é trocada por outra bailarina, as despesas financeiras chegam e a casa onde mora com sua mãe – que pertence ao Balé Bolshoi – logo é ameaça de ser tirada de sua autonomia, afinal de contas, ela já não possui nenhuma ligação ou responsabilidade com a empresa. Como arcar com as responsabilidades e cuidar da mãe doente? Dominika recebe uma proposta do tio Ivan (Matthias Schoenaerts), que oferece ajuda em troca de um serviço para a Inteligência Russa. O resultado do trabalho acaba com a morte do alvo e Dominika em meio a duas escolhas: ou morre para não revelar o que aconteceu, ou integra um programa de treinamento de “pardais” – nome dado a jovens homens e mulheres ensinados a usar técnicas psicológicas e sexuais contra inimigos do Estado.
O diretor Francis Lawrence é um desses contratados de estúdio que nunca esboçou assinatura visual, ou narrativa, mas sempre se mostrou competente em desenvolver o material delegado. Dirigiu obras eficientes em suas respectivas propostas, como Constantine, Eu Sou a Lenda e os três últimos Jogos Vorazes, e em cada uma apresentou equilíbrio na condução da trama e competência ao criar tensão. Em Operação Red Sparrow, Lawrence amadurece mais ainda este domínio, e exerce o básico com tamanha eficiência que o torna mais atraente, envolvente e visualmente perspicaz. Como se trata de uma história de espionagem vendida como grande superprodução de Hollywood, o filme é ousado no sentido de não ter receio em trocar a espionagem de negociações verbais por frenéticas sequências de ação. Isto, para quem espera algo no viés James Bond ou Missão: Impossível, é um tanto quanto decepcionante, já que a obra é puramente estabelecida na tensão psicológica e na conversa.
Mas a falta de frenetismo, e tiroteios, e explosões não é problema para Operação Red Sparrow. Adaptado de um livro escrito por um ex-agente da CIA, chamado Jason Matthews e cuja obra recebeu o nome de Roleta Russa no Brasil, o filme consegue em seus 139 minutos delinear uma fio de tensão que nos absorve para um mundo instável, cuja imprevisibilidade cerca cada momento da obra e mexe com nossa percepção do que é a verdade. O roteiro assinado por Justin Haythe está longe de ter a profundidade dramática de um O Espião Que Sabia Demais, por exemplo, mas não faz feio em tornar um produto caro, estrelado por uma atriz de peso comercial, em algo charmoso de assistir. E, claro, repito, a direção de Francis Lawrence também é um fator crucial para este êxito narrativa do longa-metragem.
E se há algo em que qualquer filme tem prazer em se beneficiar é na competência de seu elenco. Todo time de atores coadjuvantes enobrecem a lista de elenco de Operação Red Sparrow – temos Jeremy Irons, Charlotte Rampling, Joel Edgerton, Mary Louise-Parker, Matthias Schoennaerts e vários outros –, no entanto, melhor ainda é quando seu astro principal – neste caso uma atriz – exerce fundamental peso e importância na relevância do filme. Jennifer Lawrence é uma excelente atriz, que em qualquer trabalho – por mais fraco que seja o filme – consegue exercer domínio cênico e manter notória sua presença. Em um thriller de espionagem como este, é fundamental este despojo de qualquer vaidade para tornar sua personagem cada vez mais instigante de acompanhar. Nunca sabemos de qual lado Dominika está jogando, e se há méritos no roteiro, há também méritos para Jennifer que mescla carisma, sensualidade, talento e naturalidade a fundamentos essenciais na composição de quem ela é dentro da trama.
Operação Red Sparrow é um produto eficiente. Um thriller psicológico de espionagem que sabe usar com exímia competência a violência, o sexo e a tensão presente nas relações diplomáticas para criar um filme cujo intuito de instigar e surpreender é amplamente atingido. Uma ótima pedida para quem busca menos barulho e mais suspense psicológico.