No abraço do Brasil, José Fernandes, o comendador
Diário da Manhã
Publicado em 25 de fevereiro de 2018 às 01:08 | Atualizado há 7 anos
De passos fofos e discretos, de alma singular, minando-lhe sorriso espontâneo e acolhedor, nasceu em Minas Gerais o menino singelo, com humildade e poesia franciscanas, encantado por nasceres e pores do sol. Também gostava de catar vaga-lumes e de tomar banho no córrego. Sempre cultivou flores, de modo especial, a Flor do Lácio. Pedia bênção a seus pais e avós, e convidava-os a dormirem com Deus. Desde criança, com carinho e respeito, José Fernandes acolhera em sua identidade o carimbo da natureza e da família. Hoje, ostenta com orgulho um diploma com essas importantes assinaturas, fixadas nas paredes de seu peito.
José Fernandes mora na poesia e na filosofia, por isso não rima “amor e dor”. Sabe que “espinho não machuca a flor”. De atenção concentrada e inteligência rara, é pesquisador por excelência. Há muito, como investigador cultural, faz ziguezague, por esse Brasil afora. Sai das Gerais e vai para o Paraná, onde as pesquisas teóricas e práticas lhe dão a Graduação em Letras. Fascinado pela Língua Portuguesa, pela Literatura de Portugal e do Brasil, em Santa Catarina, torna-se Mestre, e, no Rio de Janeiro, conquista o título de Doutor. Sinalizando estradas com suas pegadas de luz, descobre-se em Mato Grosso do Sul, ocupando o magistério, durante dez anos (1973 a 1983). Aí, faz discípulos, semeadores de Educação e Cultura em terras pantaneiras.
Em 1983, planta-se no Estado de Goiás, como Professor da Universidade Federal. Aninha-se nas páginas literárias de escritores goianos. Faz estudos, análises profundas, entra no âmago das palavras, das expressões, do verbo de cada um. Descobre as mais diferentes dimensões da produção literária do Estado de Goiás e do Distrito Federal. Cronista, contista, poeta, ensaísta, assim como em Mato Grosso do Sul, continua escrevendo e publicando em jornais, revistas e livros, conquistando Prêmios, em quase todos os gêneros. Exerce seu papel de semeador, atuando nas funções de professor, escritor, conferencista, orientador de Tese, no Brasil e no exterior. Por onde passa, deixa marcas de luz.
Publica A polifonia do verso (1978) e Lendas terena kadwéu (1981), em coautoria com Orlando Antunes. Depois, vêm a público: O poeta da linguagem (1983), O poeta do pantanal (1984), O existencialismo na ficção brasileira (1986) que recebe os prêmios Sílvio Romero, da Academia Brasileira de Letras, e Instituto Brasileiro do Livro; A loucura da palavra (1987), Dimensões da literatura goiana (1992), prêmio José Décio Filho; Potocas de sempre, em co-autoria com Judite Miranda; O poema visual (1996); Técnicas de estudo e pesquisa (1999, e outras seis edições); Assombramentos (1999); Cicatrizes para afagos (2002); Contos escolhidos (2004); O selo do poeta (2005), prêmio Álvaro Lins; Água mole (2005); Teologia de bolso (2005); Ponto X (2007); O interior da Letra (2007); Pontilhando (inédito), prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, 2007. Ciberpoesia – leitura de poemas de Antonio Miranda(2011); Sua Excelência, o Cliente (2011); A linear do ponto G (2011).
Além dos já conquistados, merecem destaque os seguintes prêmios: Murilo Mendes, Juiz de Fora; Cassiano Ricardo, São Bernardo do Campo; Troféu Tiokô, UBE/GO; Troféu Índio Brasileiro, pelo Centro de Cultura da Região Centro-Oeste/CECULCO; Medalha Colemar Natal e Silva, pelo Conselho Estadual de Cultura/GO; Personalidade Cultural, pela UBE/RJ; Álvaro Lins, pela UBE/RJ; títulos de Cidadão Goiano e Goianiense, pela Assembleia Legislativa/GO e pela Câmara Municipal de Goiânia; Convidado Especial da Bienal Internacional de Poesia, promovida pela Biblioteca Nacional de Brasília/DF.
José Fernandes torna-se Comendador. Acaba de receber a Comenda Visconde de Taunay, em Mato Grosso do Sul, criada para homenagear grandes vultos da Cultura e Educação, reconhecidos pelo município de Anastácio/MS. Trata-se da primeira comenda brasileira, em homenagem ao herói nacional, militar, político e escritor Alfredo d’Escragnolle Taunay (o Visconde de Taunay). Um resgate da própria História de Anastácio/MS nas páginas da História do Brasil e do Mato Grosso do Sul, segundo o Prefeito Douglas Figueiredo. Taunay é expressão nacional, relacionada à “Retirada da Laguna”, com marcas significativas em Anastácio/MS. No dia cinco de maio de 2011, essa inédita distinção benemérita foi feita aos seguintes laureados: Wilson Barbosa Martins, Paulo Correa de Oliveira, José Fernandes, Albana Xavier, Orlando Antunes, Ney Rodrigues de Almeida, Heliophar Serra.
José Fernandes continua ponte cultural, entre o Sudeste, o Sul, o Centro-Oeste do Brasil. Ainda em junho, estará em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, para encontros de escritores, também como conferencista. Quando setembro vier, Brasília o receberá: Bienal Internacional de Poesia. O escritor, o professor, o conferencista no Brasil, na França, nos Estados Unidos, na Itália, o orientador de tese, o comendador, no entanto, continua sendo o menino das Gerais, simples, solidário, franciscano, irmão do sol e da lua, do vento, das águas, das raízes e dos homens, residente na poesia e na filosofia. Com um sorriso largo, o filho de Efigênia e João atende simplesmente pelo nome “Zé”.
(Sonia Ferreira. É escritora, presidente do Centro de Cultura da Região Centro-Oeste/CECULCO e membro da Associação Nacional d Escritores/ANE/DF. E-mail: ceculcosoniaferreira@yahoo.com.br. *crônica publicada em 2011 pelo DM)