O fator PT em Goiás
Diário da Manhã
Publicado em 23 de fevereiro de 2018 às 04:25 | Atualizado há 7 anos
De uns dias para cá, Maguito Vilela vem repetindo um mantra: as oposições, MDB, DEM, e PT devem se unir. O ex-prefeito de Aparecida de Goiânia parece se fazer de tonto. Quem ele acha que convence com este refrão? Até as pedras que calçam as ruas de Goiás Velho sabem que o PT e o DEM jamais estarão na mesma coligação.
O Partido dos Trabalhadores, pelas vozes autorizadas de todos os seus dirigentes, já repetiu milhões de vezes que não não faz aliança com o DEM, sobretudo com Caiado, com quem não haveria conversa mesmo que ele saísse do Democratas. Por sua vez, Caiado também já repetiu milhares de vezes que nem sequer dialoga com o PT. A incompatibilidade é total e recíproca.
A tendência do PT, nesta eleição, é sair sozinho, como nos bons tempos de construção do partido, em Goiás. Apesar dos ataques midiáticos que o PT vem sofrendo em nível nacional, a favor do PT goiano pesa o fato de o partido jamais ter se envolvido em escândalos.
A tendência é o PT lançar a ex-deputada federal Marina Santana para governadora. O ex-prefeito de Goiânia e ex-deputado federal, professor Pedro Wilson, pode sair candidato a senador. O ex-prefeito de Anápolis Antônio Gomide, que foi o vereador mais votado naquela cidade na última eleição, pode ser o outro candidato a senador. Chances de vitória, nenhuma. Mas esta chapa poderia dar suporte a uma boa lista de candidatos a deputado. Chapa que deverá, também, sair solteira. O partido vai tentar manter as três cadeiras que tem na Assembleia Legislativa e a que tem na Câmara Federal.
O fato de o PT não ter grandes chances de vencer o pleito estadual, seu poder de frustrar os planos da oposição é grande. Já aconteceu isto. Os 11% dos votos que Gomide obteve para governador na última eleição foram os que faltaram para assegurar a vitória a Iris Rezende. No segundo turno, os eleitores de Gomite, em Anápolis, votaram em Marconi.
Os peemedebistas ficaram furiosos com o PT. Passaram a sabotar a administração Paulo Garcia e a falar mal dos petistas. Sem razão. Vários dirigentes petistas vinham se declarando favoráveis a uma aliança com o PMDB já no primeiro turno, mas advertindo os peemedebistas que uma composição com Ronaldo Caiado não seria tolerada.
Iris e a cúpula do PMDB fizeram a sua escolha. Escolheram Caiado, que saiu candidato a senador em coligação com o PMDB. O PT então lançou Gomide, que teve expressiva votação emAnápolis. Votosque, repita-se, migraram em grande parte para Marconi no segundo turno, já que os petistas ficaram mais ou menos neutros.
A situação agora é mais dramática. Daniel Vilela não tem o mesmo favoritismo de Iris. Uma aliança com o PT poderia reforçá-lo. Mas, para tanto, os maguitistas teriam que resolver dois problemas. Vamos ao primeiro.
Maguito teria que decidir logo se quer o PT ou o DEM na coligação em torno de Daniel. Ter os dois, é impossível. Essa decisão não é fácil para Maguito. Ele não tem como descer do muro agora. Além de sua índole irresoluta, sempre tentando evitar conflitos, o pai de Daniel tenta se equilibrar numa corda bamba esticada sobre o abismo. Um equilíbrio precário, arriscando-se a cair em cada passo dessa linha.
Mas os petistas não têm nada com isso. O problema é só de Maguito. Se ele quer o PT com Daniel, e este reforço seria valiosíssimo para o jovem candidato, terá que pôr as cartas na mesa e falar com franqueza. Terá que tomar uma decisão irreversível. Os petistas não estão dispostos a esperar.
O segundo problema de Maguito é pacificar o MDB. Maguito fala como se Daniel já fosse o candidato do partido, mas todo o mundinho político de Goiás sabe que isto está longe de ser verdade. Daniel corre risco sério de nem ser candidato. A ala caiadista do MDB quer que a sigla faça coligação com o DEM em torno de Caiado, indicando o deputado estadual José Nelto para vice-governador. Daniel poderá ser um dos candidatos a senador, se não quiser ficar fora da festa. Para uma ala cada mais forte do MDB, o que inclui o poderoso Iris Rezende, coligação com o PT está fora de cogitação.
Caso aconteça de Daniel vencer a convenção do MDB e fazer valer a sua candidatura, terá necessidade imperiosa do PT em sua campanha. Isto porque a ala caiadista do MDB irá boicotar o candidato oficial. Estarão filiados ao PMDB, mas pedindo votos para Ronaldo Caiado. Daniel ficará sozinho, terá que contar apenas c om seus próprios meios. Aí o auxílio do PT será imprescindível.
Este apoio, se vier, não virá de graça. Daniel terá que pagar caro por ele, em termos políticos. Terá que subir no palanque do candidato presidencial apoiado por Lula, se Lula não for candidato. Terá que assumir uma postura de oposição a Temer, logo Daniel que tem sido o queridinho do Palácio do Planalto. Para o MDB voltar ao poder em Goiás, vai ter que lidar com o fator PT.